Esta semana não houve diálogo entre o Governo e a Renamo. Todavia, os homens armados supostamente pertencentes ao antigo movimento rebelde, para além de atacarem, como sempre, as colunas de viaturas militares e civis no troço Muxúnguè/Save, causaram terror em Tete e na Zambézia. Nesta última parcela do país houve pelos menos seis óbitos e dezenas de feridos. A população destas zonas vive bastante apavorada.
No último sábado, 14 de Junho, os homens armados protagonizaram dois ataques a igual número de colunas de viaturas civis que transitavam pela Estrada Nacional número 1 (EN1), entre a região do Save e de Muxúnguè, facto que resultou no ferimento de pelo menos três pessoas.
A primeira emboscada aconteceu a meio da manhã, na região do rio Muari, no distrito de Machanga, na província de Sofala, e teve como alvo a primeira coluna de viaturas civis, com escolta militar e que partiu do posto administrativo de Muxúnguè em direcção ao sul de Moçambique. Uma civil foi ferida mas sem gravidade, segundo apurámos de testemunhas oculares.
No mesmo sábado, uma coluna composta por mais de duas centenas de viaturas civis, protegida pelas Forças de Defesa e Segurança, que circulava a partir do rio Save em direcção ao centro de Moçambique, foi atacada a cerca de 20 quilómetros do posto administrativo de Muxúnguè por homens armados, que se acredita serem guerrilheiros do partido liderado por Afonso Dhlakama.
De acordo com algumas testemunhas contactadas telefonicamente pela nossa Reportagem, no segundo ataque, que aconteceu por volta das 16h:00, várias viaturas civis foram alvo dos disparos cujos autores se encontravam nas matas que ladeiam a EN1, a única estrada que liga a região norte ao centro e ao sul de Moçambique.
Dois civis que estavam num autocarro de transporte de passageiros ficaram feridos. Nos ataques deste sábado, segundo as testemunhas contactados pelo @Verdade, notou-se uma mudança do modus operandi por parte dos homens armados, alegadamente da Renamo, que tem afirmado que as suas emboscadas não visam alvos civis, mas apenas os soldados das Forças de Defesa e Segurança de Moçambique.
“Houve um intenso combate (…) foram alvejados pelo menos três carros civis: uma viatura ligeira, uma camioneta e um autocarro de passageiros (…) as viaturas estavam distantes dos militares e não entendo porque fomos alvejados”, relatou uma testemunha que viajava no autocarro metralhado. A nossa fonte acrescentou que o cobrador e o motorista de uma camioneta contraíram ferimentos.
Báscula de Mussacama danificada em Tete
Na madrugada desta sexta-feira (13/06), no distrito de Moatize, na província de Tete, numa altura em que Armando Guebuza, Presidente da República, efectuava uma visita presidencial àquela parcela do país, presumíveis homens da Renamo incendiaram uma viatura, roubaram um número não especificado de armas de fogo com as respectivas munições e danificaram a báscula de Mussacama, na EN304, que liga aquele Mussacama a Calomuè.
Antes do assalto, aparentemente bem planificado, os referidos homens armados dispararam dezenas de tiros para o ar nas proximidades da báscula de Mussacama, segundo apurou o @Verdade. Instantes depois, o bando surpreendeu os funcionários da Administração Nacional de Estradas (ANE) e a Polícia, incluindo alguns elementos da Força de Intervenção Rápida (FIR) que se encontravam no local e que se puseram em fuga em debandada. Devido ao clima de terror instalado na zona, algumas famílias refugiram-se nas matas.
Mais dois ataques…
Na segunda-feira, 16 de Junho, um autocarro com 20 passageiros foi, também, alvo de um ataque armado no princípio da tarde, na EN1, no troço entre o rio Save e o posto administrativo de Muxúnguè, no distrito de Chibabava, em Sofala. Cinco pessoas foram ligeiramente feridas pelos estilhaços de vidros e devido à paragem brusca da viatura na qual seguiam viagem a partir da capital de Moçambique para a cidade da Beira.
No mesmo dia, a primeira coluna que partiu de Muxúnguè para o sul do país foi igualmente atacada. De acordo com o motorista do autocarro da empresa LTM, o ataque aconteceu a cerca de 20 quilómetros depois de passarem por uma ponte metálica existente numa zona entre Save e Muxúnguè.
“Eu não estava a seguir o carro dos militares, o BTR que nos escoltava, pois o segredo é ficar longe do militares, mas, de repente, senti os vidros a estilhaçarem-se. Os passageiros entraram em pânico, tive dificuldade em controlar o carro mas consegui mantê-lo na direcção e continuamos viagem”, narrou a vítima, ao @Verdade.
Segundo a testemunha, durante o ataque que durou cerca de cinco minutos, não houve nenhuma protecção militar apesar de ter tentado alertar a restante coluna de mais de três centenas de viaturas, tocando a buzina e fazendo sinal de luzes, sobre a emboscada. A fonte disse que acreditava que os atacantes estavam empoleirados nas árvores pois visaram a parte lateral superior de todos os vidros do autocarro. Depois do ataque a viagem seguiu sem sobressaltos até Muxúnguè, onde o nosso interlocutor foi comunicar a ocorrência ao comandante e depois encaminhou os feridos a fim de receberem tratamento médico no hospital rural local.
O nosso entrevistado é um jovem de 34 anos de idade, que faz parte dos milhares de moçambicanos que todos os dias atravessam o troço Muxúnguè/Save e vice-versa à procura de meios de sobrevivência para o sustento dos seus dependentes. “A família toda já rejeitou a ideia de eu continuar a fazer estas viagens e disse que eu devia parar mas é a partir disto que alimento os meus filhos… estou à procura de pão para as crianças…”, concluiu o cidadão.
Cidadão chinês ferido num ataque
Por volta das 08h:00 da mesma segunda-feira (16/06), a primeira coluna de viaturas que partiu do posto administrativo de Muxúnguè em direcção ao sul de Moçambique, pela EN1, sofreu um ataque armado na região de Mutocothe. Um cidadão de nacionalidade chinesa, que conduzia um camião que transportava madeira, ficou ferido durante o tiroteio. Entretanto, as parte envolvidas no conflito, o Governo e a Renamo, continuam desavindas e sem encontrarem uma solução para que haja paz no país.
Ataque à vila de Muxúnguè
Na tarde de terça-feira (17/06), os confrontos armados entre as forças governamentais e os guerrilheiros da Renamo visaram a sede do posto administrativo de Muxúnguè. Segundo apurámos, os homens da “Perdiz” avisaram que iriam atacar o quartel das Forças de Defesa e Segurança (FDS) e Segurança na vila em retaliação a uma emboscada à sua base em Mangomonhe, durante a madrugada.
Para além disso, no mesmo dia, uma coluna de viaturas civis foi atacada e uma cidadã ficou ferida. São escassas as informações sobre os confrontos mas várias testemunhas relatam que houve troca de tiros nas proximidades do quartel das FDS, o que levou a que muitos residentes e os viajantes que aguardavam a coluna para o sul do país se refugiassem na vila sede. As comunicações terrestres para Muxúnguè ficaram mais condicionadas.
O contacto telefónico também se tornou difícil. Uma coluna de viaturas civis que partiu da região do rio Save, na mesma tarde, com escolta militar, foi atacada entre o rio Ripembe e a vila sede de Muxúnguè. Outra cidadã contraiu ferimentos.
Seis militares mortos em Mocuba
Na manhã de terça-feira (17/06), pelo menos seis membros das FDS morreram e outros contraíram ferimentos graves e ligeiros, em consequência de um confronto armado entre as forças governamentais e guerrilheiros da Renamo, no povoado de Murothoni, no distrito de Mocuba, na província da Zambézia, onde se instalou novamente um clima de terror, com a população a abandonar as suas casas. Segundo relatos dos residentes daquele povoado, que dista cerca de 50 quilómetros do município de Mocuba, as FDS preparavam- se para atacar uma antiga base do partido liderado por Afonso Dhlakama, quando foram surpreendidas pelos guerrilheiros da perdiz.
Na sequência dos confrontos, uma viatura que transportava alguns agentes das forças governamentais foi incendiada pelos referidos homens armados da Renamo. Uma fonte do Hospital Rural de Mocuba confirmou ao nosso correspondente naquele ponto do país que seis soldados perderam a vida e mais de uma dezena deu entrada por ter sido atingida por balas.
Os militares presentes naquela unidade sanitária intimidaram o jornalista do @Verdade que recolhia estes dados, e chegaram mesmo a violentar uma jovem, cuja identidade não foi possível apurar, em virtude de ter sido surpreendia a registar imagens dos feridos e dos cadáveres que davam entrada no hospital.
De referir que na mesma região de Murothani alguns elementos das FDS e da Força de Intervenção Rápida confrontaram-se com cerca de três dezenas de homens armados da Renamo, que acampavam numa antiga base militar do principal partido de oposição. Na altura, em Maio último, pelo menos um militar morreu e outro ficou ferido.