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Rubis (da morte) rendem mais de 33 milhões de dólares na Ásia

A Montepuez Ruby Mining, empresa que resulta da fusão da britânica Gemfields e da moçambicana Mwirit e explora pedras preciosas em Namanhumbir, distrito de Montepuez, em Cabo Delgado, leiloou, pela primeira vez, menos de metade dos seus sete milhões de quilates de rubis, em Singapura, na Ásia, tendo ganho 33,5 milhões de dólares, valor que voltará para Moçambique por intermédio da sua empresa, a Montepuez Ruby Mining, garantiu recentemente Ian Harebottle, director-executivo da Gemfields.

A venda em hasta pública aconteceu na Ásia pelo facto de aquele mercado ser frequentado por homens de negócios de todo o mundo. Refira-se que, todas as semanas, três garimpeiros são mortos naquelas minas pela segurança privada da firma. As minas de Namanhumbir, no distrito de Montepuez säo das zonas mais apetecíveis para os jovens de Cabo Delgado e não só.

Movidos pela ideia de uma vida faustosa, quase todos os dias, dezenas de indivíduos enfrentam a força de segurança privada da Montepuez Ruby Mining, empresa que explora rubis naquela região do país. Além do soterramento, os jovens que se dedicam ao garimpo ilegal têm de sobreviver às balas naquele local que se transformou num campo de morte.

Quase todos os dias, além do desabamento de terras, há relatos de garimpeiros mortos pela força de segurança privada da empresa que explora rubis naquela região e por um contingente policial instalado pelas autoridades governamentais para proteger a área mineira que foi concessionada àquela companhia. Em Março, @Verdade apurou que o número de vítimas tem vindo a aumentar a cada dia, pois muitos garimpeiros têm estado a desaparecer.

Existem, segundo os “caçadores” de rubis, pelo menos quatro forças a protegerem as minas, mas os ‘nacatanas’ são os mais perigosos. Trata-se de um grupo de indivíduos formados pela empresa que está a vedar o terreno e, quando os eles encontram um garimpeiro, partem os seus pés, os braços e depois matam-nos. “Nacatanas”, como é conhecida a segurança privada da empresa Montepuez Ruby Mining, significa literalmente “os homens de catana”.

O corpo, considerado mortífero pelos garimpeiros, foi criado para impedir a actividade ilegal na área onde a empresa desenvolve as suas actividades. O quadro sénior da Gemfields, a maior empresa de pedras preciosas coloridas do mundo e que detém 75% do capital da Montepuez Ruby Mining, não avançou valores nem estimativas das receitas do leilão, prometendo apresentar os resultados após a venda.

A companhia já investiu até ao momento 30 milhões de dólares norte-americanos, emprega 600 funcionários, dos quais 98 porcento são moçambicanos, e, nos trabalhos exploratórios, removeu 1.6 milhão de toneladas de terra. Importa referir que, no dia 24 de Fevereiro, os comerciantes da localidade de Nanhupo, em Namanhumbir, foram surpreendidos por forças policiais por volta das 15h00. A Polícia tinha ordens para impedir o desenvolvimento do comércio naquele povoado, onde grande parte dos garimpeiros procura refúgio.

O mercado surgiu com a intensificação da exploração mineira naquela região. Para dispersar a população, a Polícia disparou gás lacrimogéneo e agrediu dezenas de vendedores. A acção, encabeçada pelos seguranças da Guarda-Fronteira que fazem o papel da força antimotim naquela parcela do país, obrigou os comerciantes a encerrarem os seus estabelecimentos comerciais.

Os minérios de Mavuco, Maraca e Nathove Nas localidades de Mavuco, Maraca e Nathove, nos distritos de Moma e Mogovolas, na província de Nampula, há uma disputa titânica pelos recursos minerais tais como turmalinas de diferentes espécies e águas-marinhas por parte das companhias que operam na zona, nomeadamente a LST Mining, a Future Mining, a Maraca e a Paraíba Moçambique. Esta última, após ver reduzida a sua área de exploração, de quatro mil hectares para cerca de 200 hectares, tendo o remanescente sido atribuído a empresas concorrentes, encerrou a mina e remeteu uma queixa ao tribunal contra ao governo local.

A empresa ganhou a causa mas o executivo de Nampula não quer devolver as parcelas de terra atribuídas a terceiros, o que levanta a suspeita de que certos funcionários do Estado estejam a defender a LST Mining, a Future Mining e a Maraca com vista a tirar dividendos. Em Mavuco, que se localiza no posto administrativo de Chalaua, a descoberta de minérios está a gerar uma ganância desmedida: os trabalhadores das próprias companhias envolvem-se no garimpo e desafiam os seguranças e os fiscais.

A mineração furtiva, para além de ser uma actividade perigosa é pesada, o que faz com os praticantes consumam bebidas alcoólicas e outras drogas com vista a ganhar coragem para entrar na mina. Encontrar um minério é obra do acaso; por isso, é preciso escavar a terra até uma certa profundidade correndo-se o risco de se ser soterrado. Esta tarefa parece ser incontornável para muitos jovens como Faustino Augusto, de 26 anos de idade. Este narrou que todos os dias sai de casa entre as 15h:00 e as 16h:00, na companhia de amigos, e só regressa de madrugada.

Apesar dos constantes desabamentos de terra, da presença de fiscais e de seguranças dos proprietários das áreas de exploração, a ganância pelo dinheiro não inibe os homens que, por vezes, por um golpe de sorte, conseguem levar para casa uma turmalina ou água-marinha. A rotina deste jovem e de tantos outros é a mesma todos os dias e através deste trabalho várias famílias são sustentadas.

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