Quando o assunto é “tacho”, normalmente, as três bancadas cravadas na Assembleia da República movimentam-se, qual orquestra harmónica, para defenderem os seus interesses pessoais e os dos seus partidos políticos – na sua maioria não explicados. Como um povo privado de serviços de Saúde, Justiça e Educação de qualidade, era imperioso que todos nós saíssemos à rua a fim de acordarmos os três poderes da República e impedirmos a efectivação dessa roubalheira que será legitimada pelos nossos votos nas próximas eleições gerais do dia 15 de Outubro.
Porém, não foi isso a que se assistiu na passada sexta-feira, dia 16 de Maio. Na verdade, apenas meia dúzia, por assim dizer, de indivíduos deixou os seus afazeres para mostrar a sua indignação nas artérias da cidade de Maputo perante a aprovação das leis que estabelecem mordomias principescas para os Presidentes da República e os “doutos” parlamentares.
A impressão que ficou é de que se tratou de uma marcha dos membros das organizações da sociedade civil, dos seus amigos ou dos seus fervorosos apoiantes. Esperava-se que os outros pontos do país afinassem pelo mesmo diapasão. Nas províncias de Nampula e Zambézia, os maiores círculos eleitorais, ou seja, os que mais deputados levam ao Parlamento, ninguém tugiu nem mugiu, dando a sensação de que toda a população está satisfeita com as regalias grotescas aprovadas pelos parlamentares.
Diga-se de passagem que a fraca adesão à marcha contra as regalias milionárias dos deputados e dos Chefes de Estado é paradigmático da nossa indiferença, desleixo e falta de cultura, sobretudo relativamente à tosca lei lavrada, de forma hábil, e aprovada, apressadamente, por um grupo de pessoas que continuam a demonstrar total desprezo pelo sofrimento dos moçambicanos. O estado em que se encontram os serviços de Saúde, de Educação e de Justiça no nosso país é de dar dó a qualquer cidadão moçambicano que sonha e luta pelo desenvolvimento socioeconómico e cultural do seu país. Espanta-nos, portanto, o silêncio cúmplice de todo o povo diante dessas barbaridades.
Nós continuamos indiferentes a toda essa situação e a pensarmos que o problema do saque ao nosso país apenas afectará ao nosso vizinho. Isto só revela que, ainda, somos um povo que sofre da síndrome de pato gordo. Ou dito sem metáfora: Não somos patos para a reprodução e manutenção da espécie, mas sim patos de panela para fazermos a alegria das volumosas barrigas dos Chefes de Estado, dos deputados, dos membros do Governo, entre outros indivíduos cuja especialidade é provocar, com esmero, rombos nos paupérrimos cofres do Estado.