O primeiro-ministro turco, Tayyip Erdogan, disse, esta quinta-feira (27), que tinha sido uma “vilania” a divulgação de uma gravação de funcionários de segurança máxima a discutirem uma possível acção militar na Síria, postada no site de compartilhamento de vídeos YouTube.
As autoridades turcas ordenaram o bloqueio do site no país. O ministro das Relações Exteriores, Ahmet Davutoglu, qualificou a postagem – um arquivo de áudio com fotografias dos funcionários envolvidos – de “declaração de guerra”, uma aparente referência a uma crescente luta pelo poder entre Erdogan e os rivais.
A postagem anónima seguiu-se a outras publicações semelhantes nas mídias sociais nas últimas semanas, que Erdogan disse serem um complô de seus inimigos políticos, sobretudo um clérigo islamista que reside nos Estados Unidos, com a finalidade de derrubá-lo antes das eleições de 30 de Março. Mas a postagem no YouTube levou a campanha para um patamar mais elevado, ao divulgar detalhes de uma reunião altamente sensível das autoridades do sector de segurança.
“Eles chegaram mesmo a divulgar uma reunião de segurança nacional”, disse Erdogan num comício de campanha. “Isso é vilania, é desonestidade… A quem vocês estão a servir, fazendo espionagem do áudio de uma reunião tão importante?”
A Reuters não pôde verificar a autenticidade da gravação. O material postado é apresentado como uma gravação do chefe de inteligência, Hakan Fidan, discutindo possíveis operações militares na Síria com Davutoglu, o vice-chefe do Estado-Maior militar Yasar Guler e outros altos funcionários.
Falando a jornalistas em Kutahya, Davutoglu confirmou que houve a reunião e disse: “Um ataque cibernético foi realizado contra a República da Turquia, o nosso valoroso Estado e nação. Essa é uma clara declaração de guerra contra o Estado turco e a nossa nação”.
As autoridades turcas disseram ter adoptado uma “medida administrativa” para impor um bloqueio ao YouTube, uma semana depois de terem bloqueado o acesso ao site de microblogue Twitter. Erdogan tem sido alvo de um fluxo de postagens anónimas na Internet que sugerem o seu envolvimento em corrupção.
Ele nega as acusações e acusa um ex-aliado, o clérigo islâmico Fethullah Gulen, de desencadear uma campanha para minar o seu poder antes das eleições de domingo. Gulen, que tem uma grande rede de seguidores na polícia, nega qualquer envolvimento com as postagens e nas investigações policiais sobre corrupção envolvendo Erdogan e a sua família. Erdogan nega as acusações de corrupção.
O Ministério das Relações Exteriores disse que a gravação foi de uma reunião de gestão de crise para discutir as ameaças decorrentes de confrontos na Síria e que os elementos da gravação haviam sido manipulados. Os responsáveis terão uma punição pesada, afirmou.
A conversa parece centrar-se numa possível operação para proteger o túmulo de Suleyman Shah, avô do fundador do Império Otomano, numa área do norte da Síria, em grande parte controlada por militantes islâmicos.