Encerra na noite de sexta-feira, 14 de Março, a primeira edição do Ciclo do Documentário Institucional (InstiDoc) que, desde a passada terça-feira, decorre no Centro Cultural Franco-Moçambicano, em Maputo. A criação de um novo evento de especialidade é uma vitória para os amantes da sétima arte.
Com uma abordagem temática específica, o Ciclo do Documentário Institucional – como se chama a novo festival de especialidade lançado em Maputo – com enfoque para uma discussão sobre os problemas ecológicos, a terra, e sociais com focalização para o tópico mulher, este evento chega ao nosso meio com um objectivo claro: retirar das instituições as criações cinematográficas – por estas financiadas, no âmbito das suas actividades – e devolvê-las ao espaço que inspirou a sua geração.
Esse é o argumento apresentado pela organização do evento na sua comunicação: “Embora a maioria dos documentários que, anualmente, são produzidos no país estejam directamente relacionados com o meio institucional, seja ele público ou privado, com ou sem fins lucrativos, a realidade mostra que, assim que concluídos, muitos destes trabalhos ficam circunscritos às organizações que detêm os seus direitos. Sem um espaço para a sua divulgação, o conhecimento que estas obras encerram tem-se distanciado e perdido do grande público e, não raramente, de outros agentes envolvidos e interessados no tema documentado”.
É, portanto, com o objectivo de contrariar esta tendência que nasce esta iniciativa, atendendo à dinâmica sociopolítica contemporânea do país, com vista a “dar visibilidade ao género institucional e à sua relação com o meio cinematográfico do país”. Na programação proposta, as temáticas sobre Terra, Gorongosa e Mulher marcaram, respectivamente, os primeiros três dias do ciclo, de um evento em que se pretende apresentar sete documentários, entre curtas e longas-metragens, filmados em Moçambique entre os anos de 2012 e 2013, da autoria de nove realizadores nacionais e estrangeiros.
Na sessão inaugural que teve lugar na terça-feira, dia 11 de Março, o sub-ciclo da temática Terra iniciou por focalizar uma solução ecológica e sustentável para o desenvolvimento da agricultura de pequena dimensão, com a curta-metragem “O Ouro da Agricultura”, da organização não-governamental WaterAid, que é assinada pelo realizador moçambicano David Aguacheiro e pela realizadora alemã Tina Kruger.
O segundo filme enquadrado na mesma temática, com focalização no domínio agrícola, mas procurando analisar alguns dos impactos que a agricultura industrial está a ter no modelo tradicional praticado por camponeses moçambicanos, o realizador moçambicano Gabriel Mondlane apresentou o documentário “Campo Meu Futuro”, da União Nacional de Camponeses – UNAC.
A última obra exibida no contexto da mesma temática tem o título African Urban Dreams, uma produção da realizadora Noemie Mendelle, com carimbo do Scottish Documentary Institute, um documentário que analisa as dificuldades que as famílias das zonas suburbanas da capital moçambicana, Maputo, enfrentam no acesso a habitação própria, e que explora os efeitos que a rápida expansão da cidade está a ter na vida destas pessoas, num paradigmático sistema que ajuda, mas também ameaça o sonho de se possuir um lar permanente.
O segundo dia do Ciclo do Documentário Institucional, 12 de Março, foi reservado unicamente para acolher filmes sobre a temática Gorongosa – em tributo ao Parque Nacional com o referido nome. Sabe-se, porém, que “os projectos bem- -sucedidos na área de conservação ambiental, em Moçambique, têm sido amplamente documentados e difundidos a nível mundial, sendo esta uma das maiores marcas de prestígio e de reconhecimento que o país exibe actualmente no panorama nacional e internacional”.
Debruçando-se sobre alguns aspectos que marcam a relação das comunidades com o Parque Nacional da Gorongosa, os documentários Gorongosa Renascida e O Guia, respectivamente, dos realizadores norte-americanos Jeff Swimmer e Jessica Yu, apresentam as histórias inspiradoras de dois jovens moçambicanos que se envolvem directamente no trabalho de conservação do parque, que alguns cientistas classificam como um dos lugares com maior biodiversidade do planeta.
Último dia
Ao longo dos primeiros três dias, a exibição dos filmes iniciou a partir das 19 horas, sendo que nos dias seguintes, 12 e 13, as mesmas obras foram repetidas a partir das 17 horas. Entretanto, hoje, o último dia, promove-se a sessão Maratona InstiDoc, que repetirá, entre as 14:00 e as 19:00 todos os filmes desta mostra de cinema documental, uma iniciativa direccionada às escolas e universidades da capital moçambicana.
O evento encerra hoje, com a exibição da longa-metragem Mulheres na Política “uma produção conjunta de Licínio de Azevedo e Gabriel Mondlane, focada na vida de cinco mulheres das províncias do Niassa, Zambézia e Cabo Delgado e no seu envolvimento na vida autárquica das suas regiões. Trata-se de um trabalho do Fórum Mulher que reflecte a importância da participação activa das mulheres na defesa dos seus direitos e interesses junto do poder político local, tradicionalmente dominado por homens”.
Ontem, quinta-feira, foi a vez da exibição do documentário Juntos Pela Inclusão Financeira, de Ricardo Franco e Sérgio Libilo, enquadrado na temática Mulher, um trabalho produzido para a organização alemã Zusammenarbeit Gmb H, a GIZ, que analisa alguns dos problemas que decorrem da falta de serviços financeiros formais em Moçambique. É, na verdade, numa história centrada numa empreendedora de sucesso, que recorre a grupos de poupança e crédito, conhecidos por “ASCAS”, para desenvolver os seus sonhos profissionais.
A directora do Ciclo do Documentário Institucional, Benilde Matsinhe, expressou satisfação pela receptividade que o evento está a ter em Maputo. Espera-se que no próximo ano se realize a segunda edição. Com o InstiDoc, Maputo ganhou mais uma plataforma de exibição cinematográfica gratuita.