Nos últimos dias, alguns ofícios têm vindo a perder o mercado a nível da cidade de Nampula. Os indivíduos que, por exemplo, apostaram nas áreas de sapataria, latoaria e alfaiataria como meios de sobrevivência, presentemente olham para essas actividades com um misto de tristeza e frustração, pois os clientes escasseiam com o andar do tempo. Também os fotógrafos não resistem à passagem do tempo.
Para os alfaiates, aquilo que antes era um meio para ganhar o pão e garantir a sobrevivência da sua família, passou à história para a população de Nampula. Francisco Nito, alfaiate há mais de 20 anos, revelou que, antigamente, o trabalho rendia o suficiente para sustentar o seu agregado familiar, embora nunca se tenha considerado um “empreendedor” abastado.
Presentemente, a realidade é outra. O mercado de vestuário foi invadido por cidadãos estrangeiros que introduziram novos modelos de roupa a preços acessíveis. Desde a eclosão do negócio de roupa nos estabelecimentos comerciais, a actividade de “corte e costura” nas ruas de Nampula reduziu significativamente o nível de afluência dos clientes. Esta situação, diga-se de passagem, colocou um ponto final ao único meio de sobrevivência da família de Nito e dos seus colaboradores.
O alfaiate viu-se obrigado a reduzir o seu efectivo de modo a conter os custos relacionados com o pagamento do pessoal. Ele contava com um total de 10 trabalhadores. Para a sua frustração, a filha mais velha teve de interromper os estudos numa instituição de ensino superior privado, devido à falta de fundos para o pagamento das propinas mensais.
A nossa reportagem interpelou o sapateiro, identificado pelo nome de Puapú – como é carinhosamente tratado pelos seus clientes. Ele afirmou que, nos últimos anos, a actividade não é, de modo nenhum, rentável. Primeiramente, era o garante do seu sustento e de outras três pessoas com quem trabalhava. Volvidos alguns anos, Paupú viu os seus rendimentos baixarem devido à redução de clientes.
Latoeiro perde mercado
No bairro de Namicopo, Unidade Comunal de Saua-Saua, reside um jovem identificado por Amido Chale, que decidiu abraçar o ofício de produção de panelas para garantir a sua sobrevivência. Durante muito tempo, ele dedicou-se ao fabrico de utensílios domésticos, usando chapas de zinco. Na altura, em 1999, as panelas, latas de água, tigelas, entre outros, tinham muita aceitação por parte dos residentes de Namicopo e não só.
Com a entrada no mercado nacional, sobretudo na província de Nampula, de produtos industrializados, o jovem Amido perdeu por completo o mercado. Mas ele não desistiu, tendo decidido imprimir uma nova dinâmica, passando a reciclar as panelas velhas. Usando o seu talento, Amido criava objectos domésticos como, por exemplo, formas para fazer bolos, frigideiras, chaleiras, entre outro material de uso caseiro.
O jovem ganhava o suficiente para sustentar a sua família e custear os estudos da sua filha. Porém, com o andar do tempo, viu-se forçado a abandonar o ofício, uma vez que os clientes desapareceram. “Os comerciantes estrangeiros fizeram cair o meu negócio. Já não tenho outro meio para sustentar a família”, disse. Outra actividade que não escapou ao advento das tecnologias é a de fotógrafo, sobretudo os da praça. Antigamente, nas festas de aniversário, casamento e baptismo, por exemplo, era indispensável a presença deste profissional para registar imagens. Hoje em dia, a realidade é outra.
A maior parte das pessoas fá- -lo sozinha, pois as máquinas digitais e telemóveis permitem. “Hoje em dia, todo o mundo pode ser fotógrafo, desde que tenha um telemóvel nas mãos, e, no dia seguinte, vai revelar as imagens numa loja de chineses”, disse Ivanildo Graciano Soares tendo acrescentado que: “a actividade de fotógrafo já não traz rendimentos porque, com as novas tecnologias, cada um pode ser fotógrafo sem, no entanto, precisar de beneficiar de uma formação para o efeito”.
A disputa pelo mercado por parte dos fotógrafos nas diversas praças da cidade de Nampula era grande, mas essa situação começou a não se verificar nos últimos tempos devido à venda maciça de telemóveis. Os jovens que ganhavam a vida com base na actividade da fotografia já estão a enfrentar dificuldades para sobreviver, pois fotografar era o seu ganha-pão. Os jovens desdobram-se em trabalhos duros e que exigem muita força física para garantirem um prato de comida na mesa.