A FRELIMO, quando fez o lançamento oficial da marcha revelou, qual meteorologista, que eram esperadas cerca de 20 mil pessoas para celebrar os feitos do Grande Chefe. Para mim, não havia outro sentido a dar à marcha que não seja para testar a popularidade do aniversariante.
20 mil, para a dimensão de um partido político que se orgulha de ter mais de quatro milhões de membros (eu, incluído), é indiscutivelmente um número irrisório. Mas atendendo ao facto de que os afiliados estão espalhados pelo país e pelo mundo, não havendo matemática possível para encontrar a distribuição geográfica dos mesmos, havia necessidade de considerar. (Vinte mil pessoas é metade dos assentos do Estádio Nacional do Zimpeto.)
Entretanto, o número dos presentes não chegou a cinco mil. Precisamente, fala-se de três mil, ainda que com muitas dúvidas. Em termos práticos e numa linguagem política, 17 mil pessoas tiveram “contra- tempos” e decidiram ignorar a marcha de exaltação dos feitos do Grande Líder. (Três mil pessoas apenas preenchem o campo da Liga Muçulmana, na Matola C, que só tem uma bancada, a central sombra).
Vamos aos disparos: com muitos meios mobilizados (comboio, autocarros públicos e Ferry Boat gratuitos, não me esquecendo da comida que também era “mahala”) o que impediu de ter 20 mil pessoas na marcha? Falhou a mobilização dos membros do partido ou podemos concluir que o Chefe é, definitivamente, impopular? (Entendam que me recuso a incluir cidadãos que não sejam membros do glorioso).
Se assumirmos que as duas hipóteses são válidas, até porque os números não mentem, então a máquina partidária tem de cair de forma urgente, a começar pelo seu secretário-geral. Isto porque foi a direcção do partido FRELIMO que teve a iniciativa de organizar uma marcha a favor do Chefe.
Ou seja, (1) a incompetência que reina no secretariado do partido, sobretudo na componente da mobilização, empurrou a figura do Chefe para o pior; (2) ficámos com uma (falsa) imagem de que ele é impopular, que (já) não é o filho mais querido da nação.
E por uma questão de respeito, não pode ser uma marcha composta maioritariamente por distraídos que tão-pouco conheciam as razões da mesma (vide o Jornal da Tarde, Stv, 19 de Janeiro) espelhando a suposta “solidão” do Grande Chefe (até dentro do partido).
Outro dado: nomes sonantes da FRELIMO decidiram aproveitar o sábado para fazer coisas úteis, incluindo três dos quarenta membros do grupo de elite de acérrimos defensores do partido. Que mensagem isso quer transmitir, que sai de dentro do partido?
PS: Não pretendo com este texto retirar o valor da marcha. Os que aderiram, ainda que em número excessivamente insignificante, devem ser saudados pela sua coragem. Três mil pessoas deixarem de cuidar dos seus lares para adorar alguém é obra.
David Nhassengo