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SELO: Moçambique em estado de guerra e o absurdo da contra-ofensiva propagandista de Guebuza – por Edgar Barroso

Fiquei literalmente estupefacto ao tomar conhecimento da convocação popular, orientada pelo partido Frelimo, para a realização de uma marcha pública em apoio ao Presidente da República, Armando Guebuza, a ocorrer no sábado, dia 18 de Janeiro, na cidade de Maputo. No início, julguei mesmo que fosse mais um boato para entreter a opinião pública. Que nada. Acabo de confirmar a convocatória, através de um amigo jornalista.

 

Então pensei cá para os meus botões: “o que é que faz com que um CHEFE DE ESTADO precise mesmo de uma marcha popular de apoio às suas pretensas realizações e actuações? Não terá ele a seu dispor os devidos órgãos institucionalizados de propaganda, tais como os meios de comunicação social públicos como a televisão, a rádio e alguns jornais oficiais?”

 

Imediatamente caíram à superfície da minha razão as devidas respostas: o nosso Chefe de Estado está a lutar contra a maré alta de impopularidade, de crescente descontentamento e da erosão de legitimidade junto do povo que governa, de tal forma que nem mesmo os meios de comunicação social públicos que ele tem usado para “vender o seu peixe’’ têm conseguido fazer frente à grande parte da orientação da opinião pública, presentemente. É por isso que os esforços de persuasão e de manipulação da opinião popular estão agora a desviar-se para outras frentes não convencionais, tal como a realização da tal marcha.

A indisfarçável parcialidade da TVM, RM, AIM, jornal Notícias e Domingo, por exemplo, mostra-se insuficiente e vergonhosamente incompetente para influenciar as suas respectivas audiências. Já não basta a selecção propositada de factos (bem como a mentira ou a omissão deliberada de outros) para manipular a opinião pública, exercida por estes órgãos e para propagar inverdades… Agora mostra-se necessário produzir uma resposta emocional junto do povo, ali mesmo na rua onde ele se faz movimentar nas suas tribulações diárias provocadas em grande parte por parte da governação desastrosa do regime que por ele foi eleito, de forma a promover de forma caricata tal agenda. Quanto disparate junto!

A marcha em apoio ao Chefe de Estado não é nada mais do que um desesperado apelo às emoções do povo, de forma a conquistar a sua simpatia e a fazer a opinião pública identificar-se com a desastrosa filosofia de governação imposta por Guebuza. Tal esforço mostra-se ainda mais vergonhoso por assentar inaceitavelmente no uso indiscriminado da imagem de mais alto magistrado da nação para fins político-partidários distintos do que tal entidade representa.

Portanto, é a sobreposição de interesses pessoais e partidários (de Guebuza e do seu partido, respectivamente) sobre todos os outros de interesse nacional: ordem e segurança pública caóticas, má governação, incipiente desenvolvimento económico e injusta redistribuição da riqueza. Isso nenhuma manifestação ou marcha propagandista vai colocar por baixo do tapete.

Induzir as pessoas ao erro de ver em Armando Guebuza coisas que ele não é e nem possui é nada mais do que propaganda enganosa. Um péssimo serviço público, particularmente por se basear em falácias e argumentos objectivamente invalidáveis.

Repetir até cansar que Guebuza é o guia incontestável da nação ou o filho mais querido da nação jamais se tornará verdade e nunca, por si só, nos devolverá a paz e a estabilidade. Apelar à sua autoridade como mais alto magistrado da nação para disfarçar ou ‘’avestruzar’’ os seus erros políticos, instrumentalizar o medo de modo a satanizar ou a reprimir os outros , inventar bodes expiatórios para esconder ou aliviar as suas culpas e irresponsabilidades, fingir ou dar a entender que a maioria do povo está de acordo com a sua governação ou o bombardeamento da opinião pública com palavras de ordem nada-dizentes jamais poderão legitimar a catástrofe para a qual Guebuza nos está a levar como nação.

Moçambique está em claro estado de guerra e evitar que a situação se traduza em cenários mais catastróficos, sanguinários e insanáveis é que deve ser a agenda prioritária para todos os moçambicanos. Não à limpeza da imagem caquéctica do Chefe de Estado com detergentes dúbios produzidos por ingredientes torpes como a falsidade, a inverdade e a sem-vergonhice.

PS: Nenhum cidadão, em perfeito gozo das suas faculdades mentais de discernimento e de razão, filiado ou não ao partido no poder, devera aderir à tal marcha. Seria um pontapé certeiro nos tomates do nosso país. Puro sado-masoquismo. Mostremos que ainda pensamos por nós mesmos e não por convocatórias assentes na ditadura néscia da ‘’disciplina partidária’’ e derivados. Passem a mensagem.

Edgar Barroso

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