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Toma que te dou: O cão… outra vez!

Gostava de falar da morte quando os meus caminhos eram comandados por Lúcifer. Falava dela com gozo. Dizia a toda gente que a morte faz parte da vida, por isso não nos devemos assustar quando alguém morre. Cantava a morte em todo o lado, como se Deus nos tivesse criado para nos matar. Ficava indiferente quando alguém morresse e, pior do que isso, regozijava-me por estar a viver de morte em morte. Ia ao cemitério calcorrear aquelas campas todas, e voltava para casa. Dava mais valor à morte do que à vida, e parecia que eu próprio tinha nascido para morrer.

Era a sinistra lamparina do diabo que me dirigia nas trevas. Eu queria ir cada vez mais para o fundo. Pensava que a razão da minha existência estava lá, e que tudo o que tivesse a ver com a vida que se lixasse. E a morte será mais importante que as maravilhas de Deus. Cingia os meus rins todos os dias ao encontro da morte, ignorando o trovejar de Jehová que me barrava as veredas do mal. Eu perfurava as cercas de Deus, derrubava-O, derrubei-O muitas vezes até que Ele se cansou e despejou sobre mim um raio como o fez sobre Saul.

Agora sim! Só depois de Ele me ter vergastado é que tomei uma atitude. Olho agora para a vida com todo o respeito que ela merece. Olho para a vida como dádiva do próprio Alfa e Ómega. Agora sim! Sou superior a todas as mortes. Agora que estou nas mãos do Senhor, o diabo jamais me resgatará. Fui capturado pelos anjos. Saí das sinagogas e vivo dentro da fortaleza de Cristo. E se vivo dentro da fortaleza de Cristo, quem é você para estar contra mim?

Lembrei-me de tudo isto quando, na última terça-feira, encontrei um homem conhecido nas jardas da vida, no Comando da Polícia Camarária de Inhambane.

– O que vens fazer aqui?

– Eh pá, tenho um cão que se está a comportar mal. Salta o muro dos vizinhos, apavora as pessoas e faz uma série de coisas que me estão a assustar também. Antes que um dia aconteça o pior, prefiro matá-lo.

– Para matares o teu cão precisas de vir para aqui?

– Sim, venho pedir aos agentes camarários para irem comigo abater o animal.

– Aonde?

– Na lixeira.

Quando me disse aquilo lembrei-me do dia em que fuzilaram Gulamo Nabi, na Lixeira do Hulene. Como um cão.

– Onde está o desafortunado do teu canino?

– Está na bagageira do meu carro, ali fora.

Fiquei arrepiado com esta conversa cruel que gravitava à volta da morte.

– Não tens outra forma de mudar a situação?

– Pensei em envenená-lo, mas assim ele vai sofrer antes de morrer.

– Com as balas que vai levar no corpo não vai sofrer?

O homem deu-me as costas, mas logo a seguir voltou-se para mim com os ombros encolhidos. Abraçou-me, saímos juntos para junto do carro e, quando abriu a bagageira, vi o animal amordaçado, provavelmente pressentindo o pior que lhe ia acontecer. Estava condenado à morte. Ia ser executado. Na lixeira. Como Gulamo Nabi.

– Meu irmão, vai-te lixar, não mates esse cão!

– Se eu não o mato, acabará por ser ele a matar-me, ou a matar alguém.

De repente vi dois agentes da Polícia Camarária saindo com armas aparentemente de calibre 12. Iam divertir-se. Com a morte de um Cão.

Bolas! E há muitos compatriotas que estão a ser mortos diariamente aqui em Moçambique, como este cão.

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