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Correa concentra campanha presidencial atípica no Equador

Em algumas oportunidades como presidente, em outras como candidato ou como bem-sucedida marca publicitária, Rafael Correa, primeiro mandatário do Equador com chances de ser reeleito em muitos anos, terminou concentrando em torno de si uma campanha atípica que transformou os opositores em sombras de sua imagem.

Correa, que antes de ascender à Presidência lamentava o tratamento discriminatório da imprensa para se tornar agora uma das figuras mais exibidas por ela, dominou o cenário eleitoral do início ao fim. Segundo as pesquisas, o atual presidente lidera as intenções de voto com uma vantagem folgada que permitiria a ele ser reeleito no próximo domingo, 26 de abril, no primeiro turno, de acordo com uma sondagem recém-divulgada.

Seu rosto foi praticamente a imagem de uma campanha considerada limpa e justa pelo governo, porém desigual pelos adversários. Foi “uma campanha totalmente desigual, imoral, na qual vemos um candidato presidente que utiliza todos os recursos do Estado, de maneira lícita e ilícita para fazer” proselitismo, disse à AFP o candidato Lucio Gutiérrez, um coronel reformado que exerceu a Presidência entre 2003 e 2005.

Correa foi uma figura de várias faces nesta disputa eleitoral, a primeira financiada exclusivamente pelo Estado e a primeira em que os jovens de 16 anos, os militares e os policiais poderão votar. As queixas sobre o uso abusivo de recursos estatais já chegaram à missão observadora da OEA. “Certamente foi criada uma marca (com a sua imagem), que para muitos cidadãos, seja isto correto ou não, é a de um líder que rompe com uma forma de fazer política, com a instabilidade dos últimos anos, com a corrupção”, disse à AFP Mauro Cervino, pesuisador da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso).

O mandatário, que poderá ser o primeiro presidente reeleito desde o retorno à democracia (1979), moveu-se com sagacidade nestes dois anos de governo para ser quase onipresente. Desde o começo chamou a imprensa de corrupta e medíocre, criou a rádio, a televisão e o jornal públicos, e expropriou três redes de televisão. “Esses canais serviram para que fizesse propaganda. Disse que os venderia, mas ainda não cumpriu a sua palavra.

Correa ocupou 998 minutos em entrevistas para fazer campanha e os demais candidatos, todos, não chegam a 164 minutos”, lamentou Gutiérrez. Também abriu um programa semanal de rádio e TV -ao estilo do venezuelano “Alo Presidente”- no qual anuncia todas as suas atividades, faz piadas de seus críticos, repreende funcionários e, sobretudo, reforça a sua fama de incansável. “Agora o Estado é ele”, intitulou há um ano a revista Vanguardia, de linha crítica, referindo-se aos poderes que o líder socialista havia acumulado. “Utilizou muito bem a visibilidade do poder político e ocupou os espaços.

Como ele mesmo disse, permaneceu em campanha permanente, porque acredita que é o que deve fazer um presidente: dar seguimento à obra pública e não perder nunca contato com seus eleitores”, disse o sociólogo Hernán Reyes, da Universidade estatal Simón Bolívar.

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