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Autárquicas 2013: Quelimane, a cidade que se renova

Autárquicas 2013: Quelimane

Conhecida por inúmeras bicicletas nas vias públicas e por ter o maior carnaval do país, e não só, Quelimane pretende mudar a imagem de uma cidade que vive ao deus-dará. Um pouco por todo lado da urbe, é possível ver obras de construção e de reabilitação de alguns espaços a um ritmo deveras acelerado e, noutros casos, nem por isso. Mas, na verdade, ainda há muito por ser feito no tocante a estradas, saneamento do meio e ordenamento territorial na capital provincial da Zambézia.

Todos os dias, pelas manhãs, Calton Ali deixa o sossego da sua casa para se embrenhar nas artérias da cidade de Quelimane onde ganha o seu pão diário. Estudante da 9ª classe no período pós-laboral e natural de Mocuba, há seis anos escolheu, para fixar residência, a capital da província da Zambézia, também conhecida por “pequeno Brasil” devido à sua tradição no carnaval. É nesta urbe que o jovem, de 23 anos de idade, se dedica à actividade de taxista. Diariamente, em média, amealha 150 meticais e nos dias de maior demanda atinge os 300 meticais, valor com o qual garante o seu sustento e os estudos.

Calton é apenas um exemplo num universo de milhares de ciclistas que se fazem às ruas de Quelimane para garantir a sua sobrevivência, recorrendo a este tipo de negócio, uma actividade que é praticada por indivíduos de diferentes idades. Alguns alugam os veículos e outros usam os seus próprios meios. Os preços das viagens variam consoante o destino, mas o valor mínimo cobrado é cinco meticais e, quando a distância é longa, o preço sobe para 20. O desemprego continua a ser a principal preocupação da juventude de Quelimane, que tem como refúgio o comércio informal.

Presentemente, esta actividade constitui o sector que emprega a maior parte dos munícipes daquele município também conhecido pela sua gastronomia, sobretudo galinha à zambeziana e a mukapatha. Ao longo dos passeios de algumas artérias da cidade é possível deparar com vendedores que, ainda informalmente, contribuem para engordar os cofres municipais.

Transporte e vias de acesso

A cidade, que tem como uma das principais actividades económicas o porto, está inundada de bicicletas que garantem o transporte urbano de passageiros a nível da autarquia, facto que coloca a edilidade num desafio sem precedentes. São aproximadamente 18.840 bicicletas contra 1.630 viaturas.

Há sensivelmente dois anos, as autoridades municipais têm vindo a desdobrar-se para acomodar o crescente número daquele meio de locomoção e fazer face à falta de chapas. De acordo com o edil de Quelimane, Manuel de Araújo, foi necessário definir prioridades para o mandato prestes a terminar. “Eu tinha 18 meses e não podia resolver tudo, razão pela qual tinha que escolher as minhas prioridades. A primeira era fazer com que o munícipe se sentisse parte deste processo, que voltasse a sonhar e a segunda era a questão dos buracos”, explica e acrescenta: “Mesmo se eu resolvesse o problemas de transporte trazendo 100 autocarros, com os buracos não seria possível manter os automóveis por muito tempo, nem os privados teriam aceitado investir nessa área”.

A estratégia do Conselho Municipal consistiu na melhoria das vias de acesso. Quase 90 porcento dos buracos que caracterizavam a cidade de Quelimane foram tapados. “Quando nós tivermos as estradas a 100 porcento, não será necessário o município trazer taxistas. As pessoas é que vão ver que ali há uma oportunidade de negócio. A tarefa do Estado é criar condições para que o sector privado possa funcionar”, diz Manuel de Araújo.

A questão de transporte e estradas não se limitou apenas ao melhoramento das vias públicas. Pela primeira vez, Quelimane passou a dispor de semáforos, facto que contribuiu para a redução do índice de acidentes que se registava todos os dias na rodovia. “Portanto, com as estradas sem buracos e com os semáforos, já temos as condições mínimas para termos um transporte, mas mesmo assim nós temos uma equipa que está a estudar a viabilidade da criação de uma empresa de transportes municipais”, garante o edil.

Porém, um dos principais ganhos que se podem registar no que diz respeito a transporte e estradas é a criação da Associação dos Taxistas da Zambézia (ATZ), um organismo que trabalha com o Conselho Municipal da Cidade de Quelimane. Os ciclistas passaram a dispor de coletes e aulas de sinais de trânsito. “Um dos pontos que nós tínhamos, se não fosse a empresa CETA – Construções que teve que abrir os buracos que havíamos tapados para poder fazer as valas de drenagem, neste momento nós já teríamos na nossa cidade espaços específicos para os ciclistas”, diz.

A título de exemplo, na rua próxima à Escola Secundária 25 de Setembro, onde decorrem as obras de pavimentação, as duas bermas contarão com um espaço para a circulação dos ciclistas. “Considero uma vitória, pois em 18 meses conseguimos fazer muita coisa. Agora precisamos de avançar e consolidar algumas das conquistas que tivemos”, afirma.

Uma nova Quelimane

Há três anos, a perspectiva de desenvolvimento social e económico parecia eternamente adiada e a vida mantinha-se estática. Porém, nos últimos dias, a cidade de Quelimane tem vindo a ganhar uma nova imagem. Um pouco por todo o lado assiste-se à construção e reabilitação de estradas e alguns espaços, que se vão transformando em locais de serviços, habitação e lazer, dando um novo fôlego à urbe. Na verdade, desponta uma nova autarquia. “Nós vamos ter uma nova Quelimane, uma cidade rejuvenescida. Queremos construir uma nova imagem, ao modo de Singapura. Uma urbe auto-suficiente, moderna, limpa e com bom ambiente de negócios para os investidores”, diz Manuel de Araújo.

Porém, algumas estradas esburacadas e de terra vermelha mostram que ainda há muito por ser feito. Além disso, a autarquia ainda reúne todos os defeitos que caracterizam os principais centros urbanos do país, desde a ineficiência na gestão de resíduos sólidos, passando pela degradação dos edifícios até ao acesso limitado a água potável. Mas alguns munícipes preferem acreditar que, com o tempo, a situação vai mudar. Leonardo Gabriel, residente em Quelimane há mais de 30 anos, é da opinião de que a sua terra natal registou algumas mudanças. “Temos visto obras de abertura de valas de drenagem e pavimentação das ruas, o que mostra que existe algum interesse em proporcionar bem-estar aos munícipes. Por exemplo, nós hoje temos o Sunlight (local de diversão) com “pula-pulas”, o mais moderno de Moçambique, e ainda não vi nada igual em Maputo”, comenta.

Os problemas persistem

Nos últimos 10 anos, o nível de problemas económicos e sociais aumentou como consequência do crescimento da população. A cidade de Quelimane estende-se por cerca de 117 quilómetros quadrados, e em 1997 o número de habitantes passou de pouco mais de 150 mil para 185 mil em 2003. De acordo com o Censo de 2007, o município conta actualmente com mais de 193 mil residentes.

Devido a esse crescimento demográfico, presentemente a cidade mostra-se saturada, sobretudo na zona suburbana onde vive grande parte da população. Nos bairros periféricos não é somente a miséria que preocupa os munícipes. Para os moradores, o subúrbio de Quelimane foi sempre um lugar assustador, sobretudo no período da noite. Há um crescente número de assaltos a residências e aos transeuntes, e o policiamento é raro.

O ordenamento territorial ainda é dúbio, pois há 10 anos o município não possuía um plano de estrutura, razão pela qual se assistiu a um crescimento desordenado de habitações ao longo das valas de drenagem, mas, por outro lado, já começam a surgir novas zonas em expansão. Tanto na zona urbana assim como na suburbana as ruas alagam-se quando chove. Além disso, alguns bairros periféricos não possuem postos de saúde e os moradores são forçados a percorrer, pelo menos, dois quilómetros para obter assistência médica na unidade sanitária mais próxima.

São poucas as habitações que possuem latrinas melhoradas, razão pela qual a defecação a céu aberto nos mangais tem sido a solução de muitas famílias. Antigamente, quando a recolha de lixo não era feita de forma regular e o sistema de esgotos era precário, os moradores serviam-se do rio Bons Sinais e dos seus afluentes, além de fazerem covas nos seus respectivos quintais. Presentemente, essa situação já não se verifica com frequência, uma vez que os moradores já estão sensibilizados em relação a boas práticas de higiene.

Perfil do município

Localizada no rio dos Bons Sinais, a 20 quilómetros do Oceano Índico, administrativamente a cidade de Quelimane é um município com um governo local eleito, e constituído por postos administrativos urbanos. O número total de agregados familiares é de 41.804, distribuídos por diversos bairros. A maioria da população é do sexo masculino.

No ano em curso, a 21 de Agosto, Quelimane celebrará 71 anos de elevação à categoria de cidade, debatendo-se, à semelhança de outras capitais provinciais em crescimento, ainda com problemas sociais de diversa ordem. Dados estatísticos dão conta de que apenas 5.3 porcento da população têm acesso a água canalizada no domicílio, 14 fora deste, 10 bebem água do poço, enquanto cerca de 66 têm acesso a um fontenário.

De um total de 41.804 agregados familiares existentes na cidade, apenas aproximadamente 36 porcento têm a electricidade como fonte de energia e 50 utilizam petróleo de iluminação.

Quelimane dispõe de 11 unidades sanitárias, nomeadamente um Hospital Provincial, nove centros de saúde e um posto. Mas o município pode orgulhar-se de ter o maior carnaval de Moçambique e um dos maiores festivais de praia denominado Festival de Zalala.

Município de Quelimane em números

População: 193.343habitantes

Agregados familiares: 41.804

População de sexo feminino: 94 mil

População de sexo masculino: 99 mil

Postos urbanos: 2

Vereações: 8

Unidades sanitárias: 11

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