Se a qualidade de vida de uma vila municipal pode ser medida pelo acesso aos bens de primeira necessidade, Gondola está, aos poucos, a tornar-se um lugar melhor para os seus residentes. Reconheça-se: até há pouco tempo, era difícil, para não dizer impossível, ter acesso a água sem percorrer grandes distâncias. Presentemente, a realidade é outra. Mas nem tudo é um mar de rosas numa autarquia que precisa de impulsionar as actividades económicas para combater o desemprego…
Se colocarmos de parte a agricultura, a movimentação de vendedores informais à entrada, saída e no coração da vila municipal de Gondola é um retrato preciso sobre a ocupação da população activa local. São centenas de munícipes provenientes dos bairros com o firme propósito de fazer dinheiro numa vila onde o emprego rareia.
A edilidade licenciou, entre 2009 e 2012, várias unidades industriais e comerciais para combater o mal. O esforço, diga-se, revelou-se uma gota de água no oceano do desemprego que grassa na autarquia. Os 308 postos de trabalho distribuídos pelas indústrias hoteleira (28) e transformadora (78), o comércio (113) e a agro-pecuária (89) não abarcam sequer 10 porcento da mão-de-obra que Gondola oferece anualmente.
A edilidade conta com um efectivo de 121 funcionários. Um contributo igualmente residual para combater o desemprego. Com cerca de 47 mil habitantes, de acordo com uma pesquisa interna da edilidade, Gondola localiza-se na província de Manica.
Por cada 100 crianças ou idosos existem 112 pessoas em idade activa. Na verdade, 14889 cidadãos estão em idade de trabalho. Portanto, excluindo os que procuram emprego pela primeira vez a população economicamente activa é de 9383 pessoas o que, de acordo com dados municipais, reflecte uma taxa implícita de desemprego e subemprego estimada em 46.4 porcento.
Ainda assim, Gondola passa por uma notável transformação. Na economia, investimentos no sector bancário e comércio informal, com a reabilitação do mercado central, trouxeram um volume inédito de recursos, mas não foram capazes de gerar empregos. Na área dos transportes, o que se vê é uma mudança que beneficia apenas o centro da vila. A deslocação entre os bairros acontece de forma deficitária. No segmento do lazer há poucas opções para os moradores e os visitantes.
Para se antecipar à falta de emprego, a edilidade sonha com uma escola de artes e ofícios. “Nós não temos nenhuma grande fábrica em Gondola”, defende Eduardo Gimo, edil local. Num município onde a comida não é problema devido ao seu potencial agrícola, a ideia de construir uma escola de artes e ofícios encontra acolhimento em jovens como Eduardo Gento. “Gostava de ter conhecimentos na área de electricidade. Há muito mercado nessa área e seria uma vantagem para os jovens que depois ficam sem nada para fazer”. A tese de Gento é secundada por Ernesto, de 19 anos de idade, que se dedica à venda de maçãs e é repetida pelo grosso dos vendedores informais que fizeram do espaço frontal do mercado municipal um lugar para ganhar dinheiro.
Em contrapartida, o desemprego coloca mais pessoas na agricultura e no comércio. O resultado, nos últimos anos, é evidente. Há, portanto, mais meios circulantes, designadamente motorizadas (que substituem, em grande medida, as bicicletas), do que nunca na história de Gondola. No início, as autoridades julgaram que se tratasse de algo passageiro. Com o passar dos anos, porém, essa projecção perdeu força. Com o processo de municipalização os residentes locais viram uma rara oportunidade de trilhar o caminho do desenvolvimento pela via do comércio e da agricultura. A reabilitação das vias de acesso, dizem, atraiu o progresso, mas “diversas outras acções vêm contribuindo para transformar Gondola num lugar melhor para os seus residentes”, defendem fontes municipais. No entanto, o ordenamento do território e o sistema de abastecimento de água, apesar do franco crescimento, ainda não são uma realidade para todos os munícipes.
Nos últimos quatro anos foram feitas 1.170 ligações e construídos 31 fontanários. Essa acção, diga-se, acabou por relegar para o passado uma imagem que representava a face visível daquela autarquia no que diz respeito ao abastecimento de água: mulheres e crianças circulando pelas vias com baldes e bidões na cabeça à procura do precioso líquido.
Embora o discurso oficial seja de satisfação e de obra feita, os residentes exigem mais. Telma Félix, de 46 anos de idade, e residente no bairro Josina Machel, diz que o ideal seria disponibilizar água aos residentes todos os dias e sem interrupção. “O que acontece é que não temos água no quintal de casa”, diz.
Fontes da edilidade asseguram que o esforço de levar água ao domicílio deve ser do munícipe. A responsabilidade da edilidade, dizem, é criar o sistema de distribuição e garantir que todos tenham acesso a água. “Está em curso um projecto do governo holandês de abastecimento de água às cidades de Manica e Chimoio, e à vila de Gondola e Vanduzi. O mesmo está a ser implementado pelo Fundo de Investimento e Património para o Abastecimento de Água (FIPAG). Portanto, a preocupação dos moradores deixará, brevemente, de ser um problema”, garante Eduardo Gimo.
A distribuição tem de beneficiar todos os munícipes. Essa, justificam, é a razão que faz com que o sistema de abastecimento seja rotativo. Em 2008, a percentagem de população que beneficiava de abastecimento não ultrapassava os 30 porcento. Os números actuais dão conta de uma cobertura urbana de 87 porcento.
Obras
Foram requalificados os bairros Josina Machel, Bengo e 7 de Abril, nos quais foram abertos 4.047 novas vias de acesso. Quanto à gestão de solo urbano, foram atribuídos 770 talhões dos 1.039 parcelados.
O Conselho Municipal da Vila de Gondola reivindica a reabilitação e ampliação das ruas e pontes no âmbito do desenvolvimento da rede rodoviária que custaram 26.432.351,71 meticais. Efectivamente, de 2009 a 2012 foram realizadas obras de reabilitação e manutenção de rotina em 37.017metros. A edificação de uma morgue e do novo edifício municipal também constam do rol de realizações da autarquia.
A morgue custou 650 mil meticais aos cofres da edilidade. A capacidade é de seis corpos. Em Gondola realizam-se, com excepção dos domingos, entre três e quatro funerais por dia. Ainda no que diz respeito a infra-estruturas, os jovens de Gondola querem ver reabilitada a piscina do clube Ferroviário. A edilidade refere que em relação ao problema apresentado o seu papel limitou-se a efectuar contactos com o Governo central, os quais foram respondidos positivamente. A prova, garantem, é o processo de reabilitação em curso do campo. A piscina, acreditam, terá um novo rosto na segunda fase desta empreitada. É preciso também ter em conta que dado o potencial na modalidade de atletismo a vila terá, no mesmo âmbito, uma pista.
Receitas próprias
Em 2009, a cobrança de receitas foi de 845.052,50 meticais, dos 600.000,00 meticais previstos para aquele ano económico. Efectivamente, a edilidade conseguiu arrecadar 245.052,50 meticais, 40 porcento acima do previsto.
Em 2010 foi cobrado 1.767.215,50Mt ( um milhão, setecentos sessenta e sete mil, duzentos e quinze meticais e cinquenta centavos) contra os 3.000.000,00Mt, ( três milhões de meticais) do planificado, o que corresponde a uma realização na ordem de 58 porcento. Em 2011 o município voltou a planificar arrecadar 3.000.000,00 meticais, mas só conseguiu 1.964.517,00 meticais, 65 porcento do previsto.Em 2012 foi cobrada uma receita de 2.555.782,47 meticais, cerca de 85 porcento dos 3.000.000,00 planificados. De acordo com fontes municipais, a introdução de vários impostos como IPA, ISV, SISA e taxas de actividades económicas contribuíram significativamente para o crescimento das receitas.
Uma mancha na urbanização
Uma das maiores frustrações do edil de Gondola é o espaço subaproveitado pelos Caminhos-de-Ferro de Moçambique (CFM) naquela vila. Portanto, a ideia de Eduardo Gimo DE requalificar as casas de madeira e zinco daquela empresa nunca encontraram acolhimento e compreensão nos responsáveis da empresa. Efectivamente, os CFM detêm a maior parte de infra-estruturas e talhões na vila ferroviária desde a independência sem qualquer plano de modernização.
A edilidade, preocupada em gerir o espaço que deveria, na verdade, estar sob sua tutela, de acordo com a Lei de Terra, procurou chegar a um entendimento com os CFM. Porém, a preocupação caiu em saco roto. Curiosamente, os terrenos vêm sendo ocupados por terceiros. Desde a independência, os serviços que a empresa efectuava no tempo colonial deixaram de existir e a vila ficou praticamente refém da empresa em termos de desenvolvimento.
Educação
No sector da Educação, o município construiu e reabilitou 32 salas de aulas nas escolas primárias 1o de Maio, Mucessua, Panga-Panga e Francisco Manyanga. O bairro Bela Vista, onde foram parcelados 1.000 talhões, foi erguida uma escola com três salas. A edilidade também adquiriu 450 carteiras.
Contexto histórico
O nome de Gondola provém de uma lagoa, que em língua chiuté é denominada Gandua. Quando os portugueses chegaram à zona hoje conhecida como Gondola, depararam com um grupo de mulheres que vinham da busca de água. Tendo indagado a respeito da sua proveniência, as mulheres responderam que vinham da Gandua, referindo-se à lagoa.
A partir daí, a zona passou a ser chamada de Gondola já que essa lagoa (Gandua) se localiza na localidade de Bengo a 3.5 quilómetros da vila. Efectivamente, a vila surgiu como consequência do desenvolvimento de tráfego ferroviário Beira-Zimbabwe. Existem na vila três grupos étnicos principais, Chiuté, Ndau e Sena, falando os seus respectivos idiomas, sendo o Chiuté o mais influente.
Município da vila de Gondola em números
Habitantes 47 mil
Novos postos de trabalho 308
Funcionários municipais 121
Receitas próprias 2.555.782,47 meticais
Novas ligações domiciliárias de água 1170
Fontanários 31