Olhe, existem duas possibilidades fatais na vida humana: o conformismo e a luta. Os conformados estão condenados a ter sonhos sobre o mundo e sentenciados a sonhar com um mundo melhor, enquanto os lutadores lutam para fazer o mundo girar e se tornar melhor. Possivelmente, nem todos os lutadores acabam bem. Alguns lutadores, génios, acabam na cova, como indigentes, mendigos, marginalizados [sabes do Mozart!].
Mas mesmo acabando nessa sina, eles têm uma vantagem: acabaram no fundo da cova com a certeza das coisas que almejavam alcançar. Eles, pelo menos, aceitaram uma derrota consumada para não perder a vida em busca de uma vitória utópica. Não venceram, mas lutaram. Hoje os homens fazem uma luta contra tudo, mas por nada. O Homem quer tudo, mas esquece que o «tudo» pode acabar em «nada».
Hoje nada se sabe, nada se ganha, porque nada se perde. No nada não há esperança. O Homem quer tudo, mas não percebe que existe uma ponte que se chama «morte», onde ao passarmos por ela não carregamos nada que conquistámos aqui no chão. O Homem ao passar por essa ponte – a morte – não carrega nada do que construiu materialmente, apenas carrega o que construiu emocionalmente. Não se carrega o que comprámos para o deserto que encontramos depois da morte. Não se carrega uma caligrafia feia e erros ortográficos, para o deserto, após a morte.
Não se leva a Hidroeléctrica de Cahora Bassa e suas ganhunças, no bolso, após a morte. Não se carrega nenhum prémio Pulitzer ou Nobel. Carrega-se, apenas, o que construímos e gravámos na alma. Eu [Kelesa] não terei possibilidades de levar os meus discos, livros, as sapatilhas, para onde vou depois da morte, mas terei a possibilidade de levar os meus sentimentos.
Construir um sentimento é árduo e penoso. Construir uma estrada é fácil. Para construir uma estrada, uma casa, escrever um livro é preciso ter um sentimento de mobilidade, de angústia, de alegria, de dor, de melancolia. O sentimento – que está na alma ou no espírito – é que mobiliza o corpo para a acção de construir uma casa ou uma cadeia para albergar seres condenados.
(Um pormenor: o Homem é um animal totalmente irracional: constrói presídios em que ele vai habitar; constrói armas nucleares que se tornam uma praga para a sua liberdade. “O Homem cresceu tecnicamente, mas regrediu emocionalmente”. Isto aprendi de Ídasse Tembe).
Olhando para os dois parágrafos anteriores, pode perceber que o mundo está nas suas mãos, porque você é o centro do mundo, por isso pare de protestar, sofrer, e pára de dizer que falta emoção para viver. Ver o sol a nascer e a lua a cintilar e resplandecer são dois grandes motivos para ser feliz, pois estes dois elementos da Natureza já lhe indicam onde pode chegar, se os seguir devidamente e de coração aberto.
Uns vivem e outros sonham. Uns idealizam, outros concretizam. Para alguns é fácil largar tudo e começar do nada, noutro lugar, uma nova vida, sentindo outros horizontes (o que farei brevemente, pois Moçambique tornou-se um lugar inóspito). Mas, para outros a vida está no lugar de nascença, mesmo que isso signifique subjugação nas mais variadas horizontalidades. O destino é incerto, mas pode-se tornar certo, quando fazemos das nossas emoções grandes santuários.
Não santuários de veneração, sacrifícios estúpidos, mas sim santuários de diálogo (palavra muito propalada em Moçambique, mas que é pouco exercitada). Usando escopro e martelo aprendi que o futuro não se prevê, constrói-se. Comece já – agora – a construir o seu. Se fizer isso, em forma de diálogo, construirá a sua sina, estará a começar uma bela comunicação com a pessoa que caminhará consigo o resto da vida.
Se não encarar o acto como uma virtude, é melhor que procure outro rumo e perca menos tempo com futilidades. Acredite em si porque o seu destino pode-se tornar o reflexo da sua glória, porque a glória do Homem mede-se pela grandeza dos seus sonhos, pela grandeza da verdade que professa, pela grandeza do serviço que presta, pela grandeza do destino que forja e da vida que vive e idealiza. Se assim é, acredite e terá uma ponte [Kelesa] para lhe coadjuvar a chegar mais próximo do seu destino. Paz e força na sua caminhada existencial ao encontro do seu sestro.
P.S.: 19-1-18-1, Lembre-se ainda desta frase: «A vida é feita de motivos. Motivos de viver, motivos de chorar e sorrir». É sua. Não perca motivos para viver, pois se perder motivos para viver, será o fim da minha vida. Tenho novos discos de Jazz, Lounge, Rap e Dub. Temos de inventar um dia e viajar para Angoche, no Bairro de Ingurri, para ouvirmos essas músicas.
Paz, minha 19-1-18-1.