Mido Macia morreu de forma cruel, bruta, torpe e vil, mas não nos lembramos de uma mensagem de condolências à família, do Chefe de Estado, pelo desaparecimento físico do único garante da sua sobrevivência. Também morreu um chapeiro no T3 fruto da acção perniciosa da Polícia da República de Moçambique e o Presidente da República de Moçambique permaneceu quedo e mudo.
Uma análise isenta manda dizer que não é obrigação do PR pronunciar-se em situações desta natureza. Em nenhuma cartilha de governação está escrito que Guebuza devia prestar apoio moral às famílias das vítimas.
Aliás, o Governo não se circunscreve à figura do Chefe de Estado. E seria, da nossa parte, absurdo afirmar que o Executivo liderado por Guebuza não se fez representar. Afirmá-lo, assim sem reservas, seria o mesmo que abraçar de forma eloquente a insensatez. Algo que, diga-se, não é nosso objectivo.
Ao longo da semana morreram dois ícones da música moçambicana, dois redutos da nossa história: Mhula e Lídia Mate. O Presidente da República, mais uma vez, não se pronunciou. Não que seja obrigado, mas julgamos – ainda no campo da moral – que estes dois embondeiros da nossa cultura mereciam uma palavra de apreço pelo que deram ao país e ao mundo.
Contudo, Armando Emílio Guebuza optou por mandar uma mensagem de condolências para o povo chinês em honra das vítimas do sismo. Uma tragédia em toda medida que ceifou vidas e deixou um país de luto, mas ninguém pode provar que Guebuza tinha a mínima obrigação de se solidarizar com o povo chinês. Ainda que se possa dizer, que em sede das Relações Internacionais, o seu acto seja legítimo. Até porque há investimentos gigantescos da China em Moçambique que é preciso salvaguardar.
No entanto, a mesma solidariedade que presta aos estrangeiros devia dedicar ao seu povo. A morte de Mido Macia, de todos modos, exigia uma mensagem vibrante do Chefe de Estado. A mesma, é certo, não devolveria a vida do moçambicano morto brutalmente por agentes da Polícia sul-africana, mas mostraria um Presidente da República preocupado com o seu povo.
A morte de Mhula e de Mate também precisam de ser objecto da solidariedade do PR. Os defensores dos actos de Guebuza dirão, quando lerem o texto, que o PR não precisa de ser o centro do Governo. Dirão, também, que o exercício de Governar não se esgota no PR e que os membros do Executivo estiveram presentes nos casos de Mido Macie. Dirão que o Ministério da Cultura enviou um comunicado aos órgãos de informação para mostrar o seu pesar pelo desaparecimento físico de uma parte da nossa vida cultural.
A esses defensores é preciso responder que quando se trata das Presidências Abertas, as quais são tidas como gastos irresponsáveis do dinheiro público, eles defendem que o PR precisa de entrar em contacto com o seu povo. Precisa de auscultar as populações e medir in loco o pulsar das acções do Governo. Dirão que nenhum distrito pode ficar privado do convívio do PR.
E que tal se o PR pensasse do mesmo jeito quando concidadãos morrem de forma macabra no país vizinho? Que tal se Guebuza pensasse, também, que a morte de Mido Macia merecia atenção porque o acto, em si, chocou a opinião pública e todo moçambicano que se preze? Aquela morte, diga-se, foi um golpe no estômago da nossa dignidade enquanto povo.
Que pena termos um PR que não sabe disso…