No coração do bairro George Dimitrov, também conhecido por Benfica, na periferia da cidade de Maputo, mora uma tradição que roça a diversão: jogar futebol. No entanto, não é uma prática qualquer, como o leitor pode cogitar. É, na verdade, uma actividade de longa data, responsável pelo surgimento de novos talentos do futebol moçambicano. Nesta semana, o @Verdade visitou aquele bairro com o objectivo de conhecer a equipa juvenil de George Dimitrov, que há anos descortina craques para os clubes nacionais.
Na altura da visita do @Verdade, o conjunto de George Dimitrov encontrava-se em período de preparação para mais um jogo do campeonato infanto-juvenil, vulgo Bebec, da capital do país. À hora em que a nossa equipa de reportagem se fez presente ao local, apenas parte da equipa estava presente, uma vez que com o início do período lectivo, a outra encontrava-se ainda na escola.
É um conjunto constituído por meninos de até 12 anos de idade. Este tecto etário, para além de ajudar no processo de aprendizagem dos toques básicos da bola, permite à equipa participar nos diversos torneios juvenis organizados localmente, como é o caso do Bebec. Aliás, é aqui onde eles começam, junto de amigos, a jogar futebol antes de “espreitar” as principais formações do futebol moçambicano.
O período de existência deste conjunto do bairro transcende a memória do próprio treinador, João Cumbe, no comando do mesmo há sensivelmente nove anos, tendo, segundo narra, chegado apenas para dar continuidade ao trabalho que vinha sendo realizado pelo seu antecessor.
Entretanto, com nostalgia, lembra-se de que foi aqui que nasceram as referências da actualidade quando se ousa falar de futebol no país: Manuelito II (Costa do Sol), Kito (Maxaquene), Gitinho (Clube do Chibuto), Lanito (Desportivo), Josué (Ex-Desportivo) e Avelino (Ex-Costa do Sol).
Esta equipa juvenil é constituída por um total de 21 jogadores. Porém, neste momento, devido ao facto de estar a participar num torneio competitivo, apenas 15 estão disponíveis, por diversas razões tais como a mudança de residência por se tratar de um período de férias, para além do próprio limite de inscrições imposto pelo certame.
Destes 15, apenas três têm 11 anos de idade e o restante grupo está no limiar da idade: 12 anos.
A formação
Mais do que uma equipa, este conjunto está diante de um autêntico centro de formação de futebol. É ali onde cada um dos atletas começa a jogar de forma regrada, inserido dentro de um grupo unido. Os jogadores são de diversas zonas do Distrito Municipal KaMubukuane, maioritariamente encontrados a jogar na rua. Poucos são, no entanto, os que chegaram por iniciativa dos próprios pais.
A questão do limite da idade é seguida ao extremo, de modo a garantir a progressão dos jogadores, no período “pós-Dimitrov”. É que, segundo a explicação de João Cumbe, a um jogador é recomendável que se torne federado aos treze anos, visto que depois dessa idade pouco ou nada terá de aprender no que ao básico sobre o futebol diz respeito.
Para a formação da equipa final do bairro é realizado um torneio entre zonas com vista a apurar os melhores, numa prova constituída por um mínimo de seis equipas, ou seja, divide-se o total das crianças disponíveis em seis grupos.
Depois de encontrada a equipa final, segue-se um período de treino como se de um clube se tratasse, mas com um objectivo: participar em diversos torneios, sendo o Bebec o mais regular e visível de todos, e que se disputa entre os meses de Dezembro e Janeiro.
Este torneio, para além de simbolizar o ponto máximo em termos de competição para cada jogador, serve de chamariz para os clubes federados do país buscarem os novos talentos para enriquecer as suas escolas de formação, alimentando, deste modo, as equipas dos seus escalões inferiores.
O Desportivo de Maputo é, regra geral, o maior destinatário destes talentos gerados pelo bairro George Dimitrov porque o técnico João Cumbe é também treinador dos iniciados daquele clube. Isto não impede que os outros clubes apresentem propostas, mas o Desportivo de Maputo é o prioritário.
Evertek Futebol Clube na rota
Um dos constrangimentos que se coloca a esta equipa do bairro George Dimitrov é a falta de enquadramento dos jogadores nos clubes federados depois de ultrapassarem os doze anos de idade. A frustração é tanta que alguns chegam até a abdicar do futebol, primeiro, por estarem impedidos de brilhar no Bebec e, segundo, por não terem mais espaço para provarem o seu talento na equipa.
Este erro, diga-se, foi sempre cometido desde que existe aquela equipa juvenil do bairro. Como forma de estancá-lo, decidiu-se, com o apoio de uma empresa, criar-se um clube local de futebol, designado Evertek Futebol Clube.
Na altura da fundação, ficou decidido que o mesmo não ia acabar com o “projecto” da equipa juvenil do bairro, mas que serviria de destino para os jogadores com idades superiores aos doze anos e sem sorte nos clubes tidos como grandes.
Dado curioso é que a empresa proprietária do Evertek FC é também patrocinadora daquela equipa juvenil, oferecendo quase sempre material desportivo como equipamentos e bolas, garantido transporte durante os eventos desportivos, arcando, por outro lado, com as despesas correntes da equipa.