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Escassez de gás natural num país com uma das maiores reservas mundiais

Apesar de ser um dos maiores produtores mundiais de gás natural, Moçambique tem vindo a registar frequentemente escassez daquele combustível. Cerca de 30 autocarros da Empresa Municipal dos Transportes Públicos de Maputo (EMTPM) encontram-se paralisados pelo mesmo motivo de sempre: ruptura de stock resultante da negligência e falta de vontade política.

Em 2006, a PETROMOC prometeu uma refinaria. A informação foi avançada após uma das habituais crises de gás doméstico que já se tornaram modus vivendi dos moçambicanos. Volvidos sensivelmente seis anos, não há refinaria e o país continua a atravessar novamente uma “crise de gás”, desta vez para o uso em viaturas.

Na altura, segundo Francisco Casimiro, administrador-delegado da PETROMOC, o empreendimento levaria 20 meses a concretizar-se, para o que o Estado Moçambicano teria investido 16 milhões de euros para a montagem de duas refinarias, uma de gás doméstico e outra de petróleo de iluminação. Mas até aqui quase nada foi feito e a situação actual é esta: sem refinaria e sem gás.

Presentemente, o mercado nacional debate-se com a crise de gás natural. Cerca de 30 autocarros da empresa Transportes Públicos de Maputo encontram- se paralisados desde terça-feira, devido à falta daquele combustível para o seu abastecimento, provocando a escassez de transporte nas cidades de Maputo e Matola. O administrador da EMTPM, Lourenço Albino, diz que a paralisação se deve a rupturas constantes de stock que a empresa tem sofrido no fornecimento daquele produto e coloca a culpa na Autogás, ao afirmar que “este não é problema da EMTPM, mas, sim, do abastecedor”.

Nuno Fernando, da Autogás, fornecedora deste combustível, reconheceu as falhas no abastecimento de gás à EMTPM, explicando que se trata de um problema que começa na Matola Gás Company, o principal distribuidor. O problema existe desde que a empresa recebeu a frota de 150 autocarros que operam a gás, mas que nos últimos tempos se faz sentir com alguma intensidade.

O atraso no fornecimento ao posto de abastecimento faz com que entre 25 e 40 autocarros não saiam diariamente à rua, complicando a situação de milhares de pessoas que dependem das carreiras da empresa para circular.

Actualmente, a reserva de gás natural, só no Rovuma, é estimada em 100 triliões de pés cúbicos. Moçambique já é dado como o quarto país no mundo em termos de potencial, a seguir a Qatar, Irão e Rússia.

Projectos e mais projectos

Em Julho do ano em curso, o Conselho Municipal da Cidade de Maputo e a Organização Holandesa de Desenvolvimento (SNV), assinaram um memorando de entendimento para o desenvolvimento do sector de consumo e de negócio de gás doméstico para a população de todos os estratos sociais.

O projecto prevê a consciencialização da população local para aderir ao uso de gás doméstico como sendo uma das fontes energéticas considerada limpa, contrariamente à lenha e ao carvão que grande parte dos moçambicanos tem como solução para confeccionar os seus alimentos.

A partir de 2018, Moçambique poderá triplicar a sua actual capacidade de produção de gás natural, estimada em 183 milhões de gigajoules por ano, devido ao início da exploração daquele recurso, recentemente descoberto na Bacia do Rovuma, em Cabo Delgado, por várias multinacionais envolvidas na sua pesquisa.

A actual produção de gás natural resulta da exploração dos jazigos de Temane e Pande, na província de Inhambane, pela companhia sul-africana SASOL, disse ao Correio da manhã Nelson Ocuane, presidente do Conselho de Administração da Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH). Entretanto, aquelas duas regiões poderão contribuir “ainda mais por continuarem com reservas que deverão ser exploradas futuramente”.

Porém, um mês antes (em Junho) foi anunciado que a partir de 2018, Moçambique deverá tornar-se um dos maiores produtores mundiais de gás natural e passará a ser menos dependente da ajuda externa para a implementação dos seus projectos de desenvolvimento socioeconómico. A actual capacidade de produção do país é de 183 milhões de gigajoules por ano.

Em Moçambique, várias companhias multinacionais, com destaque para Anadarko Petroleum, dos Estados Unidos da América (EUA), ENI, da Itália, Petronas, da Malásia, e Sasol, da África do Sul, estão envolvidas nas pesquisas e exploração de gás natural e petróleo em diferentes regiões do país.

Em Outubro do ano passado, a multinacional alemã GigaMetanol anunciou que está a projectar construir, na província de Inhambane, uma refinaria destinada à conversão de gás natural em metanol para exportação. O novo empreendimento deverá consumir cerca de três biliões de euros necessários como investimento para a sua montagem, segundo Elmar Pietsh, director regional para África Austral da GigaMetanol.

Entretanto, a viabilização deste projecto “está dependente da capacidade de disponibilização, em quantidades suficientes, por Moçambique, de gás natural produzido em Pande e Temane”, segundo ainda Pietsh, que estimou em seis anos o período necessário para o arranque da montagem da nova fábrica de conversão de gás natural em metanol, em Inhambane.

A futura refi naria terá a capacidade de produzir cerca de 10 mil toneladas por dia de metanol, caso a matéria-prima seja fornecida em quantidades suficientes. Refira-se que o metanol é aplicado como solvente no fabrico de produtos da indústria de plásticos, fertilizantes e combustível.

Elmar Pietsh falava semana passada, em Maputo, à margem de uma visita de trabalho realizada a Moçambique por uma missão empresarial alemã composta por 12 agentes económicos das áreas de mineração, construção civil, tecnologias de informação e comunicação, energia e turismo.

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