Comer em restaurantes todos nós já o fizemos, mas no Mercado do Peixe, acreditem, é uma experiência ímpar. Quando para lá nos deslocámos não era esse o propósito, mas porque o ar que se respira encontra-se impregnado do aroma do peixe, camarão, entre outros frutos do mar ali comercializados e confeccionados, impossível é resistir.
Na Avenida Marginal, à esquerda pela estrada do Clube Marítimo, encontra-se o famigerado Mercado do Peixe, ao ar livre, onde se vende e se confecciona toda uma variedade de alimentos vindos do mar.
Foi sob orientações da Direcção Editorial deste hebdomadário, que visitámos o local com o intuito de procurarmos perceber o circuito do comércio dos mariscos, de onde sairia uma peça que seria publicada na nossa página de economia. “É melhor ao fim do dia”, assim nos advertia um colega nosso.
Quando para lá nos deslocámos era Sexta-feira e o ponteiro marca 17 horas.
Falar do Mercado do Peixe é algo inusitado. Tem muito que se diga em relação àquele local. É um sítio – afinal – sem finesse nem requinte algum, onde o chão é mesmo chão de areia, coberto de pequenas bancas cheias de camarões enormes – que se confundem com as lagostas – lulas, amêijoas, mexilhões, peixe de todo o tipo e tamanho, caranguejos enormes, tudo fresquinho, apanhados nas águas da Costa do Sol.
O Mercado do Peixe, tem sempre movimento, mas é aos fins-de-semana que todo o mundo acaba lá. Apesar da não existência de luxo algum, estão lá com mesa marcada e tudo a que os assíduos têm direito. Directores de empresas de renome, alguns ministros, muitos turistas e o zé-povinho – que também tem barriga – marcam a sua presença.
Para além das muitas bancas feitas de pau, existe outro elemento que transforma o mercado num lugar digno de menção. À volta do mercado, há barracas-restaurantes (bares e restaurantes pitorescos) que confeccionam e servem os mariscos por si adquiridos na altura.
Devido ao espaço, que é exíguo, são todas pequenas, cada uma colorida retratando belas imagens dignas de pertencer a um “óleo sobre a tela” pendurado numa exposição de arte plástica qualquer.
O cliente escolhe o produto que deseja consumir e escolhe a barraca que achar mais cómoda. Os assíduos já sabem para onde se dirigirem, pois já têm os seus locais bem definidos.
Tanto numa assim como noutra barraca, o serviço é sempre da primeira. O seu produto é confeccionado da maneira que é recomendada. Cada um recomenda ao seu gosto. Enquanto isso, o cliente senta-se refastelado à sombra de um enorme canhueiro plantado no meio do mercado.
As senhoras não perdem tempo. São rápidas a grelhar, uma vez que o carvão está sempre aceso.
À espera do tacho
Ao longo do compasso de espera – que devido à rapidez não chega a ser muito tempo – jorram goelas abaixo cervejas geladinhas, a respirar o ar impregnado do aroma do peixe, camarão, lulas, entre outros mariscos ali vendidos e preparados ao gosto de cada um. Resistir é quase impossível.
Ali, naquele mar de mesas e cadeiras plásticas debaixo de uma sombra, devido ao calor tropical – em que por vezes o termómetro atinge 40 graus – é permitido despir a camisa e ficar apenas de calças ou de calções e enterrar os pés descalços na areia da praia.
Quando, finalmente, as travessas cheirosas e fumegantes chegam à mesa, já há gente a babar-se de apetite. Nessa altura, ninguém quer saber de mais nada nem de mais ninguém, se não do tacho.
Fica-se à vontade para comer como lhe ditar o apetite: a talher ou à mão e até lamber os dedos, se assim o preferir.
As refeições são sempre servidas com saladas, pão, e tudo o mais que pode encontrar num restaurante convencional.
Num ápice, entre bebida geladinha, era uma vez um peixe enorme, uma lagosta, um cesto de camarão-tigre, entre outros pratos dependendo daquilo que cada um estiver a consumir. Movido pela delícia, não se leva muito tempo com o prato.
Depois da refeição
Após se estar saciado, assiste-se a outro espectáculo gratuito. Muitos já não se interessam pela pança gordurenta que teima em espreitar entre as casas dos botões da camisa. Outros ainda param nas imediações do mercado para comprarem cd´s piratas de música nacional e internacional, filmes de Hollywood também piratas, peças de batik, esculturas de madeira ou de pau, ou mesmo para comprarem castanha de caju aos ambulante que ali frequentam.
Já satisfeitos – de tanto comer e beber – chega a hora de abandonar o local, visto que a noite também já não perdoa.
Para os que se fazem transportar em viaturas – algumas luxuosas que escalam aquele local embora não primando pelo luxo – não se esquecem de dar algumas moedinhas ao “puto” que esteve a cuidar da viatura, porque nas imediações existem muitos “amigos do alheio”.