A polícia enfrentou a bala pessoas envolvidas nos distúrbios no Estado indiano de Assam durante a noite, resultando em mais feridos numa onda de violência étnica que já matou pelo menos 36 pessoas e obrigou milhares de outras a fugirem das suas casas destruídas, disse a polícia, esta Quarta-feira (25).
A polícia alertou que alvejaria quem violasse o cessar-fogo imposto para conter os confrontos entre membros da tribo Bodo e colonos muçulmanos numa remota região do nordeste indiano, vizinha a Bangladesh.
Mas a ameaça não conteve a violência em três distritos do Estado. A polícia queixa-se de estar mal equipada para lidar com grupos munidos de armas de fogo, facões, porretes e pedras.
“Ninguém está a cumprir nenhum toque de recolher”, disse por telefone o policial Sanjeev Kumar Krishna, no distrito de Chirang. ?
As pessoas ainda estão a andar nas ruas, as choças estão a sendo incendiadas. Um repórter da Reuters que viaja pela área viu lojas e empresas fechadas e ruas vazias no distrito de Kokrajhar.
Dezenas de soldados marcharam com bandeiras vermelhas nos arredores da cidade homónima, sede do distrito, tentando instilar confiança entre os locais.
Mas a área estava deserta, sem ninguém nos arrozais próximos, apesar de ser a época da semeadura. Um policial graduado de Assam disse que o número de mortos pela violência subiu para 36.
Conexões rodoviárias e ferroviárias para as áreas afectadas foram fortemente afectadas. Cerca de cem camiões carregados de cereais ficaram parados numa rodovia, sem conseguirem chegar a Guwahati, principal cidade do Estado.
Revoltas separatistas
O nordeste da Índia abriga mais de 200 grupos étnicos e tribais, e enfrenta revoltas separatistas desde que o país ficou independente da Grã-Bretanha, em 1947.
Nos últimos anos, tribos hindus e cristãs manifestam um forte sentimento xenófobo e islamofóbico contra colonos oriundos principalmente de Bangladesh.
Os novos incidentes começaram dias depois de inundações que mataram mais de cem pessoas e deixaram pelo menos 400 mil desabrigados em Assam.
“?O tiroteio entre a polícia e os arruaceiros continua a acontecer”, disse o inspetor-geral de polícia do Estado. S.N. Singh, por telefone à Reuters.
“Percebemos a gravidade da situação quando vimos manchas de sangue nas estradas e arredores. Estamos tentando ao máximo controlar a situação.”
Os bodos sentem-se marginalizados na sua terra por causa das levas migratórias vindas de Bangladesh desde a década de 1950.
Os muçulmanos compõem cerca de 40 por cento da população do Estado, e formam a maioria nalguns distritos.
Em 1983, pelo menos 2.000 pessoas, a maioria imigrantes de Bangladesh, foram mortos nos confrontos no centro de Assam.