A região sul de Moçambique tem sido sistematicamente afectada pela seca, que para além de afectar a produção agrícola, faz escassear o pasto para os animais. O Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM) diz que existem alternativas simples e acessíveis para a produção de suplemento alimentar para os animais, que podem ser utilizadas por produtores familiares, sobretudo.
Segundo Filipe Vilela, veterinário do IIAM e docente da Universidade do Zambeze (UNIZAMBEZE), o cacto é uma alternativa. O cacto é uma planta comum, que facilmente se adapta a climas extremamente quentes e áridos, mas apesar disso ela conserva muita água. Assim, quando escassear pasto para os animais, Vilela sugere que os agricultores utilizem o cacto para produzir o suplemento alimentar. Tal suplemento prepara-se da seguinte forma: corta-se o cacto em fatias e colocase ao sol para desidratar e, depois de seco, dá-se ao animal.
“O cacto pode ser dado ao animal misturado com farelo ou sem mistura. É um bom suplemento e pode ser utilizado para aquelas zonas secas como é a região sul. Tem um valor proteico elevado”, explicou Vilela. Segundo o veterinário, a plantação de cacto é fácil e deve ser feita entre 30 e 40 dias antes do início das chuvas. Ele cresce em qualquer sítio sobretudo nas zonas secas, mas se colocar em zonas chuvosas a planta apodrece.
Falando recentemente a AIM, em Ulonguè, província de Tete, no centro de Moçambique, Vilela revelou que o IIAM elaborou um pacote tecnológico que está a ser divulgado junto dos produtores e agricultores familiares para melhorarem a sua produção. Este pacote, concebido para um período de 10 anos, apresenta vários métodos alternativos de produção de compostos orgânicos para serem utilizados pelos agricultores e produtores de animais.
“É um pacote apropriado à realidade do sector familiar, com poucos custos. Este pacote foi elaborado no contexto de uma investigação aplicada à realidade do campo e é preciso divulgar”, salientou. O pacote apresenta métodos de produção e conservação de outros suplementos alimentares para animais à base de capim seco, como o feno. O feno é feito na base de capim fresco, colhido do campo com 25 por cento de floração para ser conservado em meda (monte) ou em fardo, bem como em silos ou cova, para garantir que na época seca ou escassez de pasto o alimento dos animais esteja garantido, ainda fresco e com o seu valor proteico.
Segundo explicaram alguns estudantes, é preparada nos campos de produção da Faculdade de Engenharia Agro-pecuária da UNIZAMBEZE. Para o efeito, colocase por baixo capim seco, seguido de feno em montes e depois é coberto também por capim seco, para proteger o produto. O fardo de feno, produzidos na base da mesma técnica que a da meda, mas em forma de fardo no formato quadrado, ou de cubo, deve ser colocado em lugares secos e frescos. O método de silo ou cova, é também considerado adequado, porque garante a humidade e o feno mantém-se fresco.
Este método consiste na abertura de uma cova, no formato quadrado ou circular, e coloca-se capim seco com baixo valor proteico numa camada de 30 centímetros, seguido de uma solução de ureia ou põe-se farelo, para manter o feno verde. Depois coloca-se o feno e cobre-se com capim seco. “Estes métodos são simples e o camponês pode fazer isso na sua machamba e garantir alimentos para os seus animais”, frisou Vilela.
A produção de blocos de sais para estimular os animais a comer, em casos de falta de apetite, também está inclusa no pacote do IIAM. Um bloco é feito com quatro quilogramas de cimento ou argila (tudo depende da disponibilidade de cada região), um de farelo, dois e meio de sal e um de açúcar ou melaço, bem como água não superior a um litro. Estes ingredientes todos são misturados e, depois, põe-se a secar, geralmente leva um dia para tal. Depois de seco, coloca-se no curral, a uma distância que o animal possa conseguir lamber. De acordo com o veterinário, um bloco pode ficar no curral com efectivo de seis a nove animais durante 90 dias.