Numas declarações que correram mundo, o Cardeal Patriarca de Lisboa afirmou que uma rapariga católica devia pensar três ou quatro vezes antes de casar com um muçulmano. Não ficou por aqui o ilustre representante da Igreja Católica, disse também, entre outras coisas (pouco avisadas, digo eu), que o diálogo com os muçulmanos é muito difícil por, segundo ele, estes pensarem que a verdade destes é a única.
Vamos passar ao lado da questão de quando vezes se deve pensar antes de casar. Seja qual for a religião professada, tenho para mim que aquele velho ditado que diz que quem pensa não casa é um redondo disparate. Não há passo na vida de qualquer homem ou mulher que mereça mais reflexão que o casamento, seja o noivo ou a noiva muçulmano, hindu, cristão ou de outra religião qualquer. Mais, seria bem capaz de dizer mais uma quantidade de coisas que merecem ser bem consideradas antes de juntar duas vidas.
O que me surpreendeu mais, repito, foi o Cardeal ter afirmado que os muçulmanos estão convencidos que são uma espécie de donos da verdade.
Fosse eu ou qualquer outro ateu ou agnóstico a dizê-lo e a frase faria sentido.
Nesse caso podíamos dizer isso de qualquer credo e o bem que nós, os sem Deus, sabemos o quão difícil é dialogar, a partir de um certo ponto, com os homens de fé.
Ora é difícil encontrar alguém que tenha, supostamente, tanta certeza da sua verdade de fé que o Dom José Policarpo. Não é ele um dos mais altos dignatários da Igreja Católica? Não foi, até, um dos possíveis Papas na ultima eleição para sucessor de João Paulo II?
Se este homem não tem a absoluta certeza da fé que professa quem a terá?
Por mim, não tenho qualquer tipo de dúvida: o Sr. Cardeal Patriarca está seguro da sua religião. Ele sabe que o Deus dele é o verdadeiro, que Jesus Cristo é o salvador, que o texto da Bíblia é a verdade revelada e que todos os outros dogmas da Igreja são indiscutíveis. Ele sabe a verdade.
Só que os muçulmanos também sabem e não é a mesma.
Tenho a certeza que o Sr. Cardeal não estaria propriamente disposto a ter uma negociação com os muçulmanos acerca dos ditames da religião de cada um.
Assim sendo como pode afirmar que os muçulmanos acham que têm a razão toda? Claro que têm. Têm exactamente a mesma razão que
ele.