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A caminho dos jogos africanos: Futebol Feminino

Moçambique é um dos poucos países no mundo que têm uma liga de futebol feminino regular. Cerca de três atletas jogam à bola perante a tradicional desconfiança masculina. Este “machismo” reflecte-se naturalmente nas condições que não existem para o desenvolvimento da modalidade que estará na montra dos X Jogos Africanos.

Com muitas participantes a nível do desporto escolar, o futebol feminino movimenta equipas em todo o território nacional. Conjuntos que não pertencem aos chamados clubes históricos do futebol masculino, mas que existem graças ao esforço abnegado e gosto de algumas pessoas que tudo têm feito para a modalidade não desaparecer. Mas a inexistência de estruturas que catapultem as praticantes de futebol das camadas de formação para o nível federado tem impedido um maior desenvolvimento da modalidade e o aparecimento de jovens talentosas.

Os dirigentes do futebol no país, na grande maioria do sexo chamado forte, são também responsáveis pelo fraco desenvolvimento do futebol feminino. A Federação Internacional de Futebol (FIFA) apoia regularmente o seu desenvolvimento. Contudo, como os fundos são disponibilizados com os destinados ao futebol masculino, esses apoios acabam por ser diluídos na Federação Moçambicana de Futebol (FMF) que, claramente, privilegia uma selecção nacional de futebol masculino – que não traz resultados positivos para o país.

Apesar dos muitos constrangimentos, incluindo jogar em campos cedidos quase por favor, uma liga nacional de futebol feminino é disputada há vários anos, habitualmente nos meses de Novembro e Dezembro, por dois representantes da zona sul, centro e norte. Estes são apurados após disputas regionais que envolvem entre dez a doze equipas em cada uma das províncias de Moçambique.

Se por um lado a FMF não apoia, e até cria obstáculos ao futebol feminino, a nível africano o cenário não é muito diferente. A Confederação Africana de Futebol (CAF) não criou até hoje uma competição continental entre equipas femininas, como existem para o futebol masculino a Liga dos Campeões e a Taça CAF.

Palmira Francisco, responsável pelo futebol feminino na FMF, não acredita que os Jogos Africanos de Setembro próximo tragam grandes vitórias para as atletas do futebol feminino moçambicanas. Falta de tudo um pouco, mas principalmente rodagem nos grandes estádios. Por diversas ocasiões a selecção nacional até teve a oportunidade de tomar parte em competições mas a não disponibilização de apoios impediu a sua participação, em alguns casos, com o argumento dos dirigentes “machistas”, de que a selecção das meninas moçambicanas iria apenas para perder.

Atitude completamente diferente têm os mesmos dirigentes quando se trata da selecção nacional de futebol, vulgo Mambas, que apesar de todos os apoios continua a somar derrotas para Moçambique. Enquanto estes são treinados por um estrangeiro pago a peso de ouro, a selecção nacional feminina é orientada por um seleccionador em part- time, Caló, também técnico-adjunto da equipa principal do Ferroviário de Maputo.

Recorda-se com mágoa que o futebol feminino nem estava no primeiro rol de modalidades que Moçambique assumiu pôr em competição e que foi preciso algum trabalho de bastidores para assegurar a participação das moçambicanas nas olimpíadas africanas. A possibilidade de rodagem e competição com selecções estrangeiras pode ser a grande recompensa.

Guiné Equatorial, Nigéria, Camarões, Gana e África do Sul têm selecções fortes com presenças habituais na alta roda do futebol feminino – as nigerianas chegaram até a disputar a final do Mundial de sub-20 do ano passado mundial – e deverão vir à cidade das acácias passear a sua classe e conquistar os lugares de pódio. Irónico é que nestes países africanos, onde a modalidade é muito desenvolvida e tem apresentado resultados positivos, não existem ligas nacionais como a existente em Moçambique.

A dama forte do futebol feminino, Palmira Pedro Francisco, julga que o futuro da modalidade passa por um maior envolvimento de empresários ou empresas, que se apropriem das equipas de futebol feminino e daí surjam as infra-estruturas e investimentos necessários para o desenvolvimento da modalidade, pois o movimento federativo não mostra interesse nem vontade de apostar nas futebolistas moçambicanas.

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