As forças militares sírias atiraram granadas de gás lacrimogéneo para dispersar um protesto em Deraa, a cidade do sul do país. Os manitestantes exigem a saída de Bashar al-Assad do poder, depois da repressão armada ter feito mais 12 mortos na sexta-feira, segundo a CNN. Apesar do regime ter tentado travar o movimento de contestação anunciando a libertação de 230 presos islamistas, milhares de pessoas juntaram-se no funeral vítimas dos disparos dos últimos dias e queimaram bandeiras do partido do Presidente, o Baath.
O embate entre a população e o dirigente começou há uma semana em Deraa. Por duas vezes a polícia e os militares abriram fogo contra a população, fazendo um número não confirmado de mortos – 15 segundo algumas agências noticiosas, várias dezenas para algumas estações de televisão.
A Amnistia Internacional diz que foram mortas 55 pessoas na Síria na semana passada. Este domingo, logo de manhã, o nome dos “mártires” foi lido em voz alta nas mesquitas de Deraa. Milhares de pessoas da cidade e dos arredores juntaram-se gritando a palavra “liberdade”. Três homens despiram as camisas e subiram para cima da estátua de Hafez al-Assad (pai de Bashar, a presidência foi passada de pai para filho) que já tinha sido derrubada.
Um dos cartazes dizia “O povo exige a queda do regime” – nas primeiras manifestações a palavra de ordem era “mudanças no regime” e não punha e causa a permanência de Bashar al-Assad no poder. Agora o canto é idêntico ao que se ouviu na Tunísia e no Egipto e ainda se faz ouvir no Iémen.
Em Tafas, cidade próxima de Deraa, e depois do funeral de outra vítima, os manifestantes queimaram bandeiras do Baath e pegaram fogo a uma esquadra de polícia, que desta vez não ripostou. No início dos protestos por reformas, os sírios deram o benefício da dúvida ao Presidente, que muitas vezes falou nelas mas nunca as aplicou.
Mas depois da prisão de alunos das escolas secundárias que, na sequência das manifestações e vitórias na Tunísia e Egipto, pintaram palavras de ordem nas paredes, da promessa quebrada de negociações e da repressão armada que se seguiu – com o pretexto de os manifestantes serem gangues violentos –, os sírios dão sinais de terem atingido um novo patamar na revolta . “Esta autoridade opressora teve-nos debaixo de grande grande pressão. Agora quando passamos [por forças de segurança] eles já não dizem nada. Não se atrevem a falar com o povo. Porque o povo já não tem medo”, disse à Reuters um habitante de Deraa, Abu Jassem.
Abdelhalim Khaddam, que foi vice-presidente e se demitiu em 2005, abandonando também o Partido Baath, disse que “o sangue dos mártires irá apagar este regime”. No Facebook surgiu uma página de incitamento à revolta em toda a Síria.
No domingo, ao início da tarde, já contava com quase 70 mil aderentes. Para contar espingardas, o regime marcou uma manifestação a seu favor em Damasco e, na sexta-feira, foram muitos os que na capital se juntaram para mostrar fotografias de Assad.