O músico Constantino Warila, o qual gosta mais de ser tratado por professor Warila, acaba de ser homenageado, numa iniciativa ímpar da Universidade Lúrio (UniLúrio) e em cerimónia revestida de pompa e circunstância, presenciada por familiares, amigos e convidados desta instituição de ensino superior.
Homenageado em razão dos seus 60 anos de idade, 35 de professorado, misturados com a carreira de músico que o fez conhecer não somente à dimensão da província que o viu nascer e crescer, mas a de todo Moçambique.
Tardou tanto a chegar este momento de reconhecimento de um artista que, com base numa viola feita de tábua, fios e uma lata, localmente chamada de “pancuè”, fez – e faz – ecoar a sua voz de compositor nato com músicas de intervenção social.
O professor Warila não é um músico que se circunscreve apenas à recôndita aldeia ribauense que o viu nascer, ao perímetro da sua pacata casa no bairro de Napipine, a toda província de Nampula, mas a toda extensão do país.
Durante toda a sua carreira musical, ele demonstra, nos seus cantares, ser um músico de intervenção social, num país em que os valores morais, éticos e de respeito ao próximo tendem a desaparecer a cada dia que passa. Warila tem uma espontaneidade tal de compor as suas músicas que só ele próprio é capaz de fazer.
Não precisa de se agarrar a uma esferográfica e papel e, sentadinho e sem incómodo, escrever a letra da música que quer compor. Vi estas qualidades nele quando o conheci, pela primeira vez, no gabinete do governador de Nampula, na altura o deputado Alfredo Gamito, nas celebrações do 1º Aniversário do Acordo Geral de Paz, em Outubro de 1993.
Depois de tantas “tufadas e n´sopadas”, o professor quis exibir os seus dotes, denunciando, em música, alguns dirigentes que se apropriavam, ilícita e desavergonhadamente, do milho doado pela comunidade internacional às populações acomodadas nos centros em razão da guerra.
Alguns lambe-botas quiseram interromper-lhe e retirar-lhe da sala por a letra “picar” a algumas figuras presentes, mas graças a intervenção do governador o professor continuou, ovacionado.
Vim a encontrar-me com ele, mais uma vez, numa cavaqueira numa das casas de pasto nampulense, compondo, espontaneamente, uma música que “fazia pouco” das minhas barbas.
Perguntava-me o que significavam as minhas barbas, já que as do Fidel Castro representavam “pobreza”, as de Samora Machel “poder” e as dum europeu de quem não faço ideia “riqueza”! Portanto, entre estes e outros cânticos de Constantino Warila, e os seus 35 anos como pai e educador, fazem dele um merecedor justo da homenagem, em cuja cabeça esteve a UniLúrio, em particular do respectivo reitor, o Prof. Dr. Jorge Ferrão.
Surpreende-me, de facto, as acções que o Magnifico Reitor da UniLúrio tem levado a cabo na província de Nampula, que se resumem em elevação da cultura local e o reconhecimento dos seus fazedores, através de actividades públicas.
Quero, pois, encorajar ao MR e ao meu colega – se me permite que assim o chame – a prosseguir com o reconhecimento público dos fazedores da nossa cultura e os que mostrem notoriedade noutras áreas.
Não envergonha a ninguém reconhecer e/ou elogiar as qualidades de uma pessoa, quer anónima ou conhecida. Temos que reconhecer as qualidades do indivíduo ainda em vida.
Não esperemos que ele esteja estendido no caixão, prestes a ser sepultado, para lhe tecermos elogios e homenagens, às vezes fingidas. Isso é deselegante!