Dia das Forças Armadas
Na passagem de mais um aniversário do dia 25 de Setembro, data em que se comemora o início da Luta Armada de Libertação Nacional, fomos ouvir alunos e professores de escolas da capital acerca do conhecimento dos primeiros das datas nacionais. As respostas não foram animadoras. Salvo raríssimas excepções a grande maioria ignora por completo o que se comemora nos feriados nacionais.
Para Elsa Ernesto, a frequentar a 9ª classe na Escola Secundária Josina Machel, situada no bairro da Polana em Maputo, no dia 25 de Setembro comemora- se a Independência de Moçambique. Perguntamos então o que se celebra a 25 de Junho, uma vez que esta é de facto a data da Independência do país. Elsa, entre sorrisos de colegas, hesita: “Acho que estou a confundir as coisas, mas não sei o que se comemora nesse dia.”
Conformo o @ VERDADE constatou, a ignorância de Elsa é extensiva à maioria dos alunos que frequenta o principal estabelecimento de ensino secundário do país. À pergunta sobre o que se comemora no dia 25 de Setembro as respostas foram as mais díspares: a Independência, os Heróis, a Mulher, os Acordos de Paz em Roma, etc… E se nos lembrarmos que estamos em plena capital e numa zona frequentada pelas classes altas, é fácil imaginar que respostas seriam dadas nas zonas rurais do interior do país!
“Os professores ensinam-nos feudalismo, 1ª e 2ª Guerras Mundiais, Revolução Russa, no que diz respeito ao nosso país, excepto o que se dá na 4ª classe, não prendemos nada”
Quisemos saber então o que se aprende na disciplina de História no ano que Elsa frequenta. A resposta veio pronta: “Os professores ensinam- nos feudalismo, 1ª e 2ª Guerras Mundiais, Revolução Russa. No que diz respeito ao nosso país, excepto o que se dá na 4ª classe, não aprendemos nada”, esclarece.
Efectivamente, fazendo uma pesquisa pelos manuais de História do ensino secundário, os alunos podem ter alguma desculpa no seu desconhecimento sobre a data do início da luta de libertação. Só o manual de “História da 10ª à 12ª classes”, da autoria de Dionísio Calisto Recama, menciona a data. E mesmo neste livro tudo se resume a duas linhas: “[…] Destes grupos viria a surgir a Frelimo, em 1962, em Dar-es-Salaam na Tanzânia. E foi com este movimento (FRELIMO) que em 25 de Setembro de 1964 se iniciou a luta armada de libertação de Moçambique e outros tipos de manifestações contra a dominação colonial portuguesa.”
Osvaldo Inácio, de 15 anos de idade, a frequentar a 9ª classe, sabe que foi a 25 de Setembro que teve início a Luta Armada de Libertação Nacional. Mas os seus conhecimentos ficam por aqui. “A última vez que aprendi algo relacionado com a História do nosso país, tinha 11 anos e estava na 4ª classe.” Depois, num tom provocador, próprio de quem pretende mostrar que a ausência de conhecimento não se deve exclusivamente à sua pessoa, atacou: “Tio jornalista pergunte algo sobre a Mesopotâmia, o Egipto ou Revolução Industrial, para ver se não lhe respondo de olhos fechados. Agora estudamos a História dos outros.”
Elton Papucides, estudante da 9ª classe, alinha com os colegas. “Aprendi na 4ª classe.” Mas Elton, ao contrário dos companheiros, é um interessado por estas coisas da História e tem as respostas na ponta da língua. Para ele a História do seu país não tem segredos. Até sabe perfeitamente quem deu o primeiro tiro. “Alberto Chipande, no dia 25 de Setembro de 1964. Foi isto que marcou o início a Luta Armada de Libertação Nacional em Cabo Delgado, no posto administrativo de Chai!”
Mas Elton é uma gota de água de sabedoria no mar de ignorância geral no que à História do país diz respeito por parte dos alunos do secundário. A Seu lado, Vanessa é honesta, confessando a sua incultura nesta matéria: “Não sei nada dessas datas.”
Face ao desconhecimento da data do início da Luta Armada revelado pelos estudantes, impunha-se ouvir alguns professores de História. Estes deram como principal razão para este desconhecimento a falta de leitura. Carlos Fernando, professor da Escola Secundária da Polana, aponta como razões, para além da falta de leitura, o desinteresse geral dos alunos por este tipo de matérias e também o facto de no primeiro ciclo do ensino secundário geral não estarem inseridos conteúdos relacionados com as datas.
Para a professora Fátima, da Escola Secundária Josina Machel, o problema é o mesmo a falta de leitura, não obstante a base que os alunos já trazem do ensino primário, onde se ensina, com uma certa consistência, a História de Moçambique. “Os alunos não gostam de ler, nem têm hábitos de leitura. Na oitava classe dáse História Geral, na nona é a continuação desta história e na décima lecciona-se História de Moçambique.”
Para a docente Rosália Elias Uqueio, do mesmo estabelecimento de ensino, a culpa não pode ser exclusivamente assacada aos alunos, já que estes necessitam de um acompanhamento. “O processo de ensino/aprendizagem é um processo dialéctico, do qual resulta uma contradição: o professor quer ensinar e o aluno não quer aprender. O mesmo se verifica na leitura: o professor deve desenvolver o hábito de leitura nos alunos. Os alunos muitas vezes levam tempo a ler coisas que não tem nada ver com a escola. É necessário desenvolver o hábito e interesse de leitura da História, principalmente relacionada com as datas nacionais. Acontece que, por vezes, deixamos os alunos sem acompanhamento. Tenho dito sempre que não basta dizermos que o aluno não lê, e nós, o que fazemos?”
A professora Teresa, como prefere ser chamada, docente há mais de 20 anos na Josina Machel, encontra uma explicação radical para a situação: “Acho que os alunos não ligam nenhuma.” No seu ponto de vista a nova revisão curricular faz uma abordagem da História de Moçambique em todos os níveis de ensino. “Mesmo quando o programa diz respeito a História de âmbito universal”, ressalva. Contudo, reconhece que o problema deriva da falta de motivação por parte dos próprios discentes.