Parceria Município e sector privado
A conhecida cidade das acácias está a perder o aspecto que a caracterizou durante muitos anos. Essas acácias que lhe transmitiam beleza transformaram-se em sanitários públicos. Os espaços verdes que serviam de lugar de repouso a muitos cidadãos estão hoje transformados em abrigos de indivíduos sem eira nem beira. Com vista à sua recuperação, à autarquia, sem fundos para acudir à degradação, só resta a aposta em parcerias com o sector privado.
A nossa reportagem visitou alguns destes locais e aqui trazemos o retrato de alguns parques e jardins que escolhemos como amostra das nossas incursões. A edilidade diz ter apostado na parceria com entidades privadas para a reabilitação e devolução da boa imagem dos parques e jardins da cidade de Maputo e, ao que tudo indica, parece que a parceria do município com entidades privadas está a resultar.
Conhecido como base dos magerman’s, o jardim 28 de Maio há muito que deixou de apresentar aspectos de um espaço verde localizado no centro urbano de uma cidade. Desde a altura em que o local passou a servir de ponto de concentração dos antigos trabalhadores moçambicanos na extinta República Democrática da Alemanha, que o local deixou de ser frequentado por indivíduos que precisam repouso e distracção junto dos espaços verdes. A relva que cobria o chão do jardim deixou de crescer naquele espaço. Papéis usados e descartados e outros resíduos sólidos são vista normal e integram o espaço antigamente verde, que cobre o chão daquele que é o único jardim do bairro do Alto-Maé. Recentemente a Assembleia Municipal da cidade de Maputo decidiu disponibilizar aquele local para a realização de feiras comerciais semanais para os vendedores ambulantes, mas estes trataram imediatamente de fazer daquele espaço um verdadeiro mercado informal. As vendas já não são semanais, mas sim diárias. À noite, ninguém frequenta o local. Os amigos do alheio tomam conta do recinto para caçarem os poucos casais que ainda vêem naquele jardim um local de troca de carinhos apaixonados.
Sobre este jardim, o vereador de infra-estruturas na edilidade de Maputo, Mário Macaringue, diz que “o município já lançou um concurso a entidades privadas que estivessem interessadas na reabilitação e exploração através de actividades comerciais do espaço, mas não houve interessados.”
Jardim dos professores
Localizado no coração da cidade de Maputo, junto ao Hotel Cardoso, nas imediações do Museu da História Natural, este jardim foi conhecido, durante muitos anos, como um local extremamente perigoso de frequentar, visto que residiam naquele sítio marginais que à noite aterrorizavam cidadãos nas famosas barreiras que ligam a Alta à Baixa da Cidade. O concurso lançado para a reabilitação do local foi ganho por um operador privado, estando neste momento a proceder-se à reabilitação do recinto, prometendo em breve voltar a ser um espaço verde agradável para o repouso dos munícipes.
Circuito de manutenção física António Repinga
O único local público devidamente concebido para acolher indivíduos que pretendem fazer exercícios de manutenção física na cidade Capital de Moçambique não oferece segurança aos que o frequentam. Durante muitos anos o local manteve-se meio abandonado e rodeado de mato. Todavia, desde o início do século XXI começou-se a construir em redor, resultando daí um assinalável melhorando do circuito de manutenção.
A Mcel, empresa que ergueu no ano de 2002 a sua sede mesmo em frente do circuito António Repinga, disponibilizou-se a financiar a reabilitação do mesmo. Agora o circuito de manutenção física apresenta um aspecto aceitável, mas a questão de segurança ainda deve ser melhorada. No interior do parque encontra-se um pequeno edifício, cujo objectivo da sua construção era de armazenar o material usado na limpeza e manutenção do recinto mas, estranhamente, o pequeno edifício alberga agora indivíduos de conduta duvidosa. Os frequentadores do local dizem que têm sofrido assaltos à noite e apontam para os moradores do local como os autores dos mesmos. Tentámos falar com dois jovens que na nossa visita ao local encontravam-se no interior do edifício aqui referido, mas exigiram pagamento em troca da conversa, facto que nos levou a desistir…
Parque dos Continuadores
Outro local por nós visitado foi o Parque dos Continuadores, na nobre zona de Sommerschield. Encontrámos aqui um cenário mais degradante. Qualquer transeunte da Avenida Mártires da Machava ou do lado oposto, na Avenida Armando Tivane, pode observar indivíduos a deambular no local. São indivíduos que não trabalham e que se dedicam à recolha do lixo. São homens, mulheres e crianças que vivem naquele local, que não foi concebido para receber cidadãos residentes, mas, conversando com eles, descobrimos que moram lá por falta de opções. “Eu vendo garrafas que recolho dos contentores do lixo e a minha namorada vende amendoim torrado”, disse um jovem que saiu do interior da pequena casa feita de chapas e coberta de papelão”. Recusou-se a dizer- nos o seu nome, mas ficou registado o seu depoimento.
Promessas do município
Posteriormente, contactámos o Conselho Municipal da cidade de Maputo para nos falar do ponto da situação dos espaços verdes da cidade. Mário Macaringue, vereador de infraestruturas, explicou a situação nos seguintes termos: “Sobre os jardins tivemos que tomar uma decisão em função das prioridades e urgências que temos. Como é um sector apetecível para os privados, lançámos vários concursos e alguns estão ainda a ser preparados”, explicou o vereador, para de seguida detalhar a situação de alguns jardins já com concursos lançados. “O jardim dos Professores está à espera do visto do Tribunal Administrativo, mas tem já um vencedor do concurso lançado. O Jardim dos Cronistas na Sommerchield também foi adjudicado, neste caso a Associação dos Moradores que concorreu e teve a melhor proposta. O 28 de Maio não teve concorrentes. Nangade está já em obras…”
As praças e largos são outros locais públicos que preocupam o município. Aqui também se aposta na parceria com o sector privado. “Há ainda a questão das praças e largos onde também estamos empenhados na sua recuperação. Nalguns casos o recurso passará por parcerias com o sector privado”, sublinhou Macarine, explicando que “para o Município ficarão as grandes coisas, como estradas e drenagem, áreas mais difíceis de encontrar parceiros. Esta é a nossa estratégia.”