Avião da LAM retido em Cape Town desde ontem(29/06). Cerca de 60 passageiros passaram a noite retidos na sala de embarque, sem informação nem qualquer assistência.
Resposta das Linhas Aéreas de Moçambique: no âmbito da sua estratégia de aproveitamento da realização do Campeonato do Mundo na RSA, realizou com sucesso voos charters para as cidades de Port Elizabeth e Durban.
Isto motivou a empresa a realizar um voo charter para a Cidade do Cabo, tendo para o efeito solicitado todas as autorizações pertinentes para a realização da operação, a qual foi devidamente autorizada pelas autoridades sul-africanas. O referido aparelho partiu de Maputo no dia 29 de Junho de 2010 às 8:00 horas com cerca de 55 passageiros a bordo. Durante os preparativos de regresso a Maputo, as autoridades aeroportuárias de Migração e de segurança decidiram fazer uma inspecção minuciosa à documentação da aeronave, da tripulação e dos passageiros. Durante este processo foi identificado um passageiro menor que viajava acompanhado com um passaporte supostamente reportado como extraviado em Espanha.
Esta ocorrência é completamente alheia à LAM. Perante este cenário, foi de imediato activado o Gabinete de Crise da LAM, que encetou diligências junto às autoridades sul-africanas que culminaram com a partida da aeronave somente às 9:28 horas, com a chegada a Maputo às 12:10 horas.
A LAM lamenta profundamente a ocorrência e aguarda esclarecimentos adicionais das autoridades sul-africanas acerca dos motivos reais que provocaram este incidente com todos os transtornos daí resultantes para os Clientes e para a empresa.
Descrição da viagem nas palavras de um dos passageiros:
1. Check in feito todo em Maputo respectivo ao voo Maputo-Cape Town-Maputo.
2. Saída de Maputo com cerca de 2 horas de atraso.
3. Chegada à RSA por volta das 13 horas. A tripulação informa que avião irá parquear em “Sandton” a cerca de 1h30 de voo de CPT.
4. Dia livre e jogo em Cape Town.
5. Entrada directa para serviços de alfândega e migração até à 0 hora 30 (não foram usados os balcões do aeroporto (embora estivessem os números 61-67 no ecrã de partidas internacionais voo TM8033). Os talões de embarque da viagem CPT-MPT foram obtidos em Maputo.
6. Representante da LAM, Senhora Maura, acompanhou o processo de chegada antes da migração e só entrou na sala de embarque depois de garantir que todos os passageiros tinham chegado.
7. Perto da 1 hora obtivemos por microfone do aeroporto a informação de que a documentação técnica relacionada com o voo estava em processo de assinatura.
8. Perto da 1h30 obtivemos por microfone do aeroporto a informação de que para se proceder ao embarque havia um documento que carecia de uma autorização de um superior que estava fora do aeroporto e que estava a caminho do aeroporto para assinar o mesmo.
9. Sem darem mais informação sobre o dito documento, informam que não têm registo no sistema do aeroporto dos nomes dos passageiros, pelo que duas pessoas do aeroporto (não da migração) solicitam que todos os passageiros deverão apresentar junto dessas pessoas os passaportes para escreverem (manualmente) o nome, número do passaporte e data de nascimento (sem haver um campo de referência para a nacionalidade…)
10. Perto das 3 horas pelos microfones do aeroporto informam que faltam duas pessoas para apresentar a sua identificação para a lista de passageiros. Dois passageiros que estavam a dormir nos bancos metálicos acordaram e foram registar-se.
11. Perto das 3 horas 30 o meu nome foi chamado ao microfones para comparecer junto da sala de embarque B3.
12. Solicitaram informação sobre o passaporte de um dos menores que viajava no voo. Uma funcionário, entre vários passageiros, que os serviços de inteligência tinham reportado que o passaporte do referido menor tinha sido reportado como extraviado em Espanha (Reported Stolen in Spain – texto manuscrito no papel da funcionária).
13. Na ocasião verificou-se que a informação era improvável pois o passaporte era de um moçambicano e o documento depois de folheado não continha nenhum carimbo de qualquer país europeu. Nas páginas usadas também constavam viagens à África do Sul.
14. Adicionalmente e na presença dos passageiros, ficou claro de que se a causa do atraso do voo devia-se ao passaporte do referido menor o mesmo ficava sem embarcar até que a situação fosse esclarecida, não havendo, segundo os passageiros, motivos para atrasar o voo (não havia bagagens de porão despachadas, tudo bagagem de cabine)
15. Passado cerca de 30 minutos, o passaporte do menor foi devolvido sem nenhuma explicação e nem questões. Aparentemente não havia problemas com o passaporte, pois se o houvesse não teriam devolvido ao portador e o menor não teria embarcado como veio a acontecer.
16. É comunicado pelo microfone que o voo continua retido, bem como o avião, tripulação e passageiros, agora sem explicação do motivo.
17. Perto das 5 horas a funcionária recebe pela rádio a informação de que a tripulação “Want´s to Step Down”, pelo que passado pouco tempo a tripulação entra na sala de embarque ao fim de várias horas de espera dentro do avião
18. Continuamos sem saber dos motivos do atraso nem perspectivas de quando voltar a Maputo.
19. Especulam-se vários motivos, entre os quais da não possibilidade de não levantar voo de madrugada por motivos de segurança e ser altura do mundial, de os aeroportos não terem conhecimento da lista de passageiros, de não se ter pago o estacionamento do avião em CPT pois estava previsto estacionar noutro aeroporto durante o dia.
20. Perto das 5 horas aparece um segurança do aeroporto a informar que havia um saco suspeito abandonado com uma vuvuzela ao que o mesmo foi informado que existem mais de 10 sacos nessa situação que são dos passageiros que estão à espera de voar para Maputo. Não se deu muita importância ao assunto.
21. Na mesma altura a tripulação chegou ao terminal com uma explicação de que não sabem o motivo da retenção mas que quer o avião quer a tripulação e os passageiros estavam retidos no aeroporto.
22. Alguns passageiros queriam sair, altura em que a senhora do aeroporto disse que com o visto da África do Sul poderiam sair, mas informamos que isso não tinha cabimento pois Moçambique e Portugal não precisam de visto para entrar na África do Sul. O assunto ficou por ali e ninguém saiu.
23. Depois das 6 horas tem-se conhecimento de que existe um voo que saía de CPT para Maputo às 9 horas 30 da SAA e que quem quisesse poderia ir no mesmo, que tinha 38 lugares vagos, mas que os custos seriam de cada um e não da LAM.
24. Embora houvesse alguns interessados o mesmo interesse foi anulado por dois motivos, um dos quais a solidariedade que sobressaiu em que “viemos todos, vamos todos” e também porque 30 minutos depois a senhora nos microfones diz que já não é possível ninguém viajar pois não estão autorizados a sair do terminal, por isso tecnicamente estávamos todos “presos”.
25. Perto das 7 horas já começou a ser possível os contactos com organismos oficiais em Moçambique e África do Sul para resolver a situação que até agora (hoje) ainda não sabemos os motivos reais. Tanto pode ser o motivo do passaporte (que morreu esse assunto, pois a pessoa e os acompanhantes estavam dispostos a ficar e libertar o voo e ficar a prestar os esclarecimentos que se entendesse), como podia ser qualquer um dos motivos expostos no ponto 19, ou outros.
26. Perto das 7 horas foi possível também o aeroporto ter algum pouco de consideração sobre o bem-estar dos seus passageiros (pois o aeroporto é responsável pelos mesmos), pois só 6 horas depois tivemos acesso a água, sumo e algo. As crianças dormiram em bancos metálicos sem cobertor e estava muito frio dentro do aeroporto. As casas de banho estavam num piso diferente do balcão. Foi nessa mesma altura que o aeroporto decidiu pelos microfones pôr à disposição o terminal de trânsitos para quem quisesse descansar um pouco.
27. Já era de dia e ninguém queria descansar mas sim voltar para casa. Alguns perderam o voo de Lisboa das 10 horas desse mesmo dia.
28. FINALMENTE!!! pouco depois das 8 horas temos informação de que o voo iria arrancar em breve sem sabermos realmente o motivo destas 8 horas de espera, mas nessa altura o que interessava era ir para casa.
29. Fomos recebidos em Maputo pelo pessoal responsável da LAM que nos entregou um documento referindo questões de Segurança de Estado e que estavam à procura dos verdadeiros motivos.
30. Depois da chegada os órgãos de comunicação reportaram que a LAM “é completamente alheia à situação”, mas pensamos que esse termo alheio só poderá ser usado após sabermos realmente os motivos. Uma coisa é certa. Não foi por causa do suposto passaporte que se ficou da 1 hora às 9 horas da manhã no aeroporto, pois desde o momento que o mesmo assunto foi levantado, o menor e as pessoas que o acompanhavam dispuseram-se a ficar no aeroporto e o avião arrancar com os outros, isso por volta das 3 horas 30 (5 horas 30 antes do arranque real para Maputo).
Obrigações das Companhias Aéreas
As normas internacionais referem que, no caso de atraso do voo, a companhia aérea deve acomodar o passageiro noutro voo da mesma empresa ou de outra no máximo de quatro horas. Se este prazo não for cumprido, o usuário poderá optar entre viajar num outro voo, pedir endosso ou reembolso da passagem. Para quem decidir viajar noutro voo no mesmo dia ou no dia seguinte, a companhia é obrigada a propiciar hospedagem, alimentação, transporte de e para o aeroporto, para além de reembolsar despesas com telefonemas decorrentes do atraso.