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Editorial – Peanuts

O prémio Mo Ibrahim, salvo as devidas proporções, tem rivalizado ultimamente com o Grande Prémio de Jornalismo de Investigação Carlos Cardoso no nosso país. Nos últimos dois anos, tanto um como outro, não foram atribuídos. Se no segundo os trabalhos jornalísticos postos a concurso não mereceram tal distinção por falta de qualidade – não deixa de ser preocupante e espelha bem o estado a que chegou o nosso jornalismo – já o primeiro, ao não ter vencedor, é bem mais grave porque mexe, em todos os sentidos, com todo um continente.

Para os mais distraídos, o prémio Mo Ibrahim – atribuído pela fundação com o mesmo nome – destina-se a galardoar líderes africanos que tenham dado provas de boa governação e exemplar liderança, estando aberto a ex-chefes de Estado e de governo africanos que tenham deixado de exercer funções nos últimos três anos. O prémio é o de maior valor pecuniário do mundo – cinco milhões de dólares e 200 mil de forma vitalícia a serem entregues anualmente –, pretendendo, com este elevado montante, persuadir futuras boas governações. O valor do galardão parece, contudo, não ser suficiente para entusiasmar os nossos líderes, pelos vistos habituados a muito mais.

Quanto é que seria necessário para eles se portarem bem? Acho que nalguns casos – não são poucos – 100 milhões dólares não seria suficiente. Como chegam os dedos de uma mão para contar os que abandonam o cargo de livre e espontânea vontade, torna-se difícil fazer extrapolações – a maioria deles ou são assassinados em funções ou depostos por golpes de Estado. Deste modo, sobram muito poucos candidatos e, casando as exigências do milionário sudanês na atribuição do prémio com o seu nome e as do regulamento, o que se verificou nestes últimos dois anos poderá ser a regra.

A excepção foi o nosso Joaquim Chissano em 2007 – foi o vencedor da primeira edição – e Festus Mogae do Botswana no ano seguinte. Imaginem um José Eduardo dos Santos, um Teodoro Obiang, um Joseph Kabila, um Al- Bahsir ou um Robert Mugabe a saírem de moto próprio para receberem um mísero prémio como este! Para eles, como se diz em linguagem universal, seria peanuts. O dinheiro que não perderiam com este encurtamento de carreira só para receber o prémio! Sim, porque, em África, ser presidente ainda é uma carreira e, na maioria dos casos, vitalícia e bem mais rentável do que os 200 mil dólares anuais com que o prémio contempla o vencedor.

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