A primeira memória que tenho de um Campeonato do Mundo de Futebol é do Laranjito, tinha eu na altura 5 anos de idade e o meu pai havia-me oferecido uma pasta para a escola com a mascote do Espanha 1982 estampada. Nesses tempos assistíamos à televisão no Grupo Dinamizador do bairro e nem me consigo recordar se o Mundial era transmitido pela TVE.
Sei hoje que foi o primeiro Mundial do génio Argentino Maradona, mas só me recordo do italiano Paolo Rossi que marcou muitos golos. Do México 1986 lembro-me da hola mexicana no estádio Azteca abarrotado. Os bleus, Platini, Tigana, Giresse e outros dessa geração, eram os meus ídolos mas confesso que torci pela vitória da Alemanha, na altura ainda República Federal da Alemanha. Não gostei da vitória da Argentina, afinal o meu pai havia estado nas terras bávaras por essas alturas e eu tinha recebido muitos presentes que me deixaram encantado com a terra de Franz Beckenbauer.
A minha admiração pelo Dieguito era mais pela sua genialidade, e porque ele era muito mais do que um bom jogador – era um predestinado, caso contrário Deus não teria posto a sua mão naquele golo aos súbditos de sua majestade. No eterno debate sobre o melhor jogador de todos os tempos, Pelé ou Maradona, sou obrigado a escolher quem eu conheci e vi jogar apesar de todos os pesares.
Os Leões Indomáveis comandados por Roger Milla são a melhor recordação que guardo do Mundial da Itália e, tal como o mundo inteiro, pergunto-me ainda hoje o que aconteceu ao “Toto” Schillaci, avançado italiano que ganhou a bota de ouro mas, tal como do nada viera, também desapareceu. Mesmo morna e fria, adorei a vingança dos alemães na final de 1990, com aquele golo solitário e de penalty marcado pelo Andreas Brehme, o avançado loiro e de cabelos encaracolados que, se bem me recordo, até bigode loiro tinha.
O perfume do futebol de Hristo Stoichkov, nos Estados Unidos em 1994, é a primeira memória que me vem à cabeça, lembro-me ainda de que o pequeno e genial Maradona foi apanhado pelo doping – sempre soube que aquela genialidade vinha de algum lado, disse eu a um amigo de infância com quem até hoje assisto ao futebol. Aquele penalty para as nuvens marcado pelo Baggio é naturalmente inesquecível e imperdoável, tal como não perdoaram os colombianos ao Andrés Escobar por haver marcado um golo na própria baliza. Zinedine Zidane deu a glória à pátria de Jules Rimet, o pai dos Campeonatos do Mundo de futebol, e creio que mesmo que o Brasil tivesse contado com o fenómeno a 100% não teria levado a taça para casa, a rocambolesca história das convulsões antes do jogo até hoje soam-me a desculpa esfarrapada.
O Mundial da França foi aquele que melhor acompanhei, pela televisão, trabalhava eu na nossa TVM e por dentro vivi não só as transmissões mas fui parte de equipa que levou aos moçambicanos a festa do futebol. O Mundial do extremo Oriente foi também o da redenção do fenómeno Ronaldo. Grandes exibições e oito golos marcados, o maior número desde os dez tentos de Gerd Müller, deram o penta ao Brasil de Felipão. Os campeões do Mundial a anterior saíram cabisbaixos na última posição do seu grupo e sem nenhum golo marcado! A Alemanha, depois da reunificação, nunca mais foi a mesma e nem Oliver Khan, na altura o melhor guarda-redes do mundo, conseguiu evitar a derrota contra o Brasil. Ah! A Itália, com aquele futebol defensivo e eficaz, e umas piadas sobre a irmã do Zidane (ou terá sido a mãe) pelo meio ficou com a taça do Mundial da Alemanha em 2006, contra todas as minhas expectativas.
Cá estou eu para o primeiro Mundial africano, ou será mais da África do Sul, vou juntar-me a Mandela e Zuma na maior festa do futebol do planeta. Com todos os campeões mundiais presentes – Inglaterra, França, Uruguai, Argentina, Alemanha, Itália e Brasil – vai ser uma grande disputa e, apesar de eu ter um feeling, o campeão só será conhecido daqui a 31 dias.