Desloquei-me na última terça-feira à África do Sul para assistir ao jogo de futebol de carácter particular entre Moçambique e Portugal. No final imperou, sem surpresas, a lei do mais forte: Portugal venceu por três bolas sem resposta. Resultado normal, atendendo à diferença de valores entre as duas selecções. Pessoalmente, o jogo em si, não era o que mais me motivava.
Estes confrontos amigáveis raramente proporcionam grandes espectáculos, servindo, sobretudo, mais como uma espécie de treino de afinação, sobretudo para os portugueses que vão entrar em acção já no dia 15. Motivavame, sobretudo, ver com os meus próprios olhos como a África do Sul está a viver este momento particularmente único para o país e para todo o continente em geral. Efectivamente, durante exactamente um mês – 11 de Junho a 11 de Julho -, os olhos de todo o mundo, como os espectadores de ténis fixam a bola num curioso movimento de cabeça, estarão cravados na África do Sul e, claro em toda a África, continente no qual o Mundo parece acreditar cada vez menos.
Arriscaria mesmo a afirmar que desde Abril de 1994 – data das primeiras eleições multirraciais no país – nunca a África do Sul foi tão observada pelo mundo como nos próximos 30 dias. Quando a FIFA, entidade máxima que rege o futebol a nível mundial, decidiu entregar o maior certame da modalidade desportiva mais popular do mundo à África do Sul, muitos estiveram contra a decisão, duvidando que o continente das guerras, da miséria, da fome, dos dirigentes corruptos e de todos os sofrimentos pudesse dar uma resposta cabal às exigências impostas por uma competição deste calibre.
Não faltaram tentativas para que se accionasse o plano de contingência, colocando o Brasil sempre de prevenção. Até há muito pouco tempo, essa alternativa pairou, como uma espada de Damocles, sobre a cabeça dos responsáveis sul-africanos. Agora, finalmente, essa hipótese está definitivamente afastada. Agora a África do Sul só tem de provar que é capaz como provou que no mesmo país todas as raças tinham lugar. Na terça-feira, Daniel Jordaan – ver Destaque página 20 desta edição -, o grande responsável pela organização do Mundial 2010, foi o convidado de um programa de informação na SABC, o maior canal sul-africano de informação. Jordaan falou com tal calma e convicção que, francamente, fiquei bem mais descansado, sobretudo em relação à segurança, unanimemente considerada o calcanhar de Aquiles da prova.
Jordaan fez questão de dizer que o nível de prevenção e alerta equiparavam-se aos dos últimos Jogos Olímpicos em Pequim e ao Mundial realizado na Alemanha em 2006. “Acho até que estamos mais bem preparados”, rematou. O jornal “Sowetan”, editado em Joanesburgo, começava o editorial desta quarta-feira dizendo: “Estamos prontos. Estamos emocionados.” No título lia-se: “Dia Nacional da nossa vida”. Mais adiante: “Isto (Mundial) ocorre uma vez nas nossas vidas. Provavelmente só daqui por 100 anos voltará ao nosso país.”
Agora há que provar no terreno que os receios da comunidade internacional eram infundados, porque nestas coisas há sempre muito mais S. Tomés do que aqueles que acreditam sem ver. Para já um bom augúrio: está confirmada a presença de Nelson Mandela hoje (sexta-feira dia 11) no pontapé de saída no Soccer City. Não podia haver melhor talismã. Viva o futebol, que é sempre uma grande festa em qualquer parte do mundo.