De grande beleza visual, o filme “Uncle Boonmee Who Can Recall His Past Lives” (O tio Boonmee, que pode recordar suas vidas anteriores, numa tradução livre), uma fábula budista do realizador tailandês Apichatpong Weerasethakal, conquistou este domingo a Palma de Ouro do Festival de Cannes.
Co-produzido pela Espanha, o filme conta a história de um homem que decide passar seus últimos dias na selva, onde aparece para ele o fantasma da esposa morta e do filho desaparecido, transformado em animal. A história apaga as divisões entre o fantástico e o real, entre o passado, o presente e o futuro.
Premiado em 2001 em Cannes por “Tropical Malady”, o cineasta disse que se inspirou em sua região natal, norte da Tailândia, “com sua vegetação, montanhas e crenças animistas”, e no México, para onde viajou duas vezes. “Em alguns lugares do México a gente sente como se o tempo se detivesse. Os relógios parecem parar e acontecem coisas inexplicáveis para a ciência. Por isso, o México é um país com o qual um tailandês como eu pode se identificar totalmente”, disse o realizador.
Entre algumas das imagens que mais chamaram a atenção durante a exibição para a impresa foi uma cena de sexo entre um peixe e uma princesa que se banha em fonte de água cristalina, cercada por cascatas. Pouco antes da concessão dos prêmios, o catalão Lluis Miñarro, produtor do filme, havia falado sobre a esperança de que o júri internacional do certame, presidido por Tim Burton e do qual participa o cineasta espanhol Víctor Erice, apostaria “num filme fora do comum”, como o tailandês. “Esperemos que o júri se atreva a premiar uma criação diferente, que saia dos cânones tradicionais. Estamos num mundo cheio de violência, guerra, crise financeira.
Um pouco de espiritualidade nos faria a todos muito felizes”, disse o produtor catalão. “Já afirmou (o escritor e pensador francês) André Malraux: ‘o século XXI será espiritual, ou não”, citou o produtor do filme premiado com a Palma de Ouro.