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Editorial – Livre arbítrio

A homossexualidade já tem muitos adeptos e, talvez por isso, os seus incessantes gritos conseguiram abrir, nesta semana, as portas do Debate da Nação, na STV. Ficou claro que enquanto os homossexuais lutam pela liberdade a gayfobia já está bastante enraizada na consciência dos moçambicanos.

Ou seja, a intransigência da igreja, da sociedade e até o preconceito de quem devia ser imparcial assim o indicam. A condição de gay, talvez sem pretensão, chocou com a resistência da sociedade. O incómodo que provoca no seio das pessoas ainda vai perdurar por largos e longos anos. A tentação, portanto, dos gayfóbicos de atacar os homossexuais seguirá adiante. Em alguns países esse debate já leva anos.

O fenómeno também já chegou a Moçambique. Aliás, país cujos limites pela igualdade estão claros na Constituição. Só faltava abrir espaço para o debate. Um debate, diga-se, que não se quer centrado em ser contra ou a favor da homossexualidade; um debate que discuta que condições tornam a homossexualidade possível e como conviver com ela; um debate que não reduza as pessoas à sua orientação sexual, que olhe para esse aspecto como uma extensão do ser; um debate que não seja de Sodoma e Gomorra, que seja uma discussão mais sociológica do que doutrinal.

No Debate da Nação, diga-se, os gays negaram que a sua condição seja urbana e importada. Contudo, aceitaram que é reivindicativa. “As suas aspirações são identitárias e baseiam-se no cultivo emocional da sexualidade distante das formalidades teológicas”. Frente aos conservadores, defensores de uma única forma de expressão sexual, os gays deixaram claro que a única coisa que reclamam é uma condição que não os arrede da esfera pública, que não ignore o direito a uma identidade social própria.

Exigem, na verdade, a igualdade plena de direitos e liberdades. É convicção de que a homossexualidade desvirtua a relação sexual da forma como a sociedade a entende, mas é preciso perceber que eles não vivem apenas do amor carnal. Levantou-se, um ponto importante para reflexão, a homo- afectividade, ou seja, um amor que se manifesta através de sentimentos e se nutre ou se exprime com testemunhos de afeição.

Estes testemunhos, dizem, traduzem-se por sinais sensíveis, materiais; e tudo o que é material, neste ponto pode, em sentido lato, ser qualificado de carnal. Porém, quando se fala do amor carnal é, em geral, para o opor ao amor afectivo e para designar de modo exclusivo o conjunto de atitudes que directamente se referem ao que se designa também por relações sexuais, quer dizer, actos relativos à procriação.

Mas como a homossexualidade é exclusiva do Ocidente e foi importada para África, é, por isso, extrínseca – defende a gayfobia. Os estrangeiros dizem que “Moçambique é um país célebre pela liberdade que se pode desfrutar nele”. O problema é que é preciso ser um turista. Ou seja, a exclusividade de liberdade que se dá ao turista, ao estrangeiro, traduz-se em exclusão à liberdade que se confere a cidadãos nacionais com orientações, tendências e comportamentos diversos do convencional, tradicional.

Refugiados numa dogmática Religiosidade, numa pretensa Africanidade, fazemos da ditadura da maioria uma arma que exclui a diversidade, quebramos o espelho da Alteridade. Salvo manipulações ou extrapolações, se a plateia do Estado da Nação de terça-feira, tendencialmente religiosa, for uma amostra do que é a opinião da maioria ficou claro que para já o país pode seguir o seu singular caminho, mas que não se converta num parque temático de liberdades. O livre arbítrio, afinal, tem limites!?

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