A crise da dívida grega, que ameaça se estender para outros países que adotaram a moeda única, evidencia ao mesmo tempo as dificuldades de governança e as disparidades econômicas da zona do euro, que poderão comprometer sua própria sobrevivência, segundo especialistas. O euro, que estava cotado em mais de 1,45 dólar no início do ano, ficou na terça-feira abaixo de 1,29 dólar, seu nível mais baixo em um ano.
Os mercados não estão convencidos do êxito do plano de ajuda à Grécia, decidido no final de semana passado pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Duvidando que o país consiga organizar suas finanças públicas, eles temem também que a crise se propague para outros países da zona do euro, principalmente Espanha e Portugal.
Nesta tempestade financeira, aqueles que já começam a questionar a própria sobrevivência da moeda única são cada vez mais numerosos. O temor foi expressado na terça-feira pelo Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz, conhecido por sua eurofilia: “o futuro do euro talvez seja limitado”. Desde janeiro, os economistas já denunciam a lentidão da resposta europeia à crise grega.
O plano de resgate foi adotado apenas depois de trabalhosas negociações, principalmente com uma Alemanha muito hesitante. E o mais grave, a crise grega forçou o Banco Central Europeu (BCE) a violar seus próprios princípios, aceitando como garantia títulos da dívida grega sem levar em consideração a qualidade de sua classificação. “Se o presidente do BCE abandona no espaço de algumas semanas princípios importantes, por que o euro deveria permanecer estável nas próximas décadas?”, se pergunta em um editorial o jornal alemão Die Welt.
Enfim, a “tragédia grega” ressuscita uma questão essencial: qual é o bom fundamento de uma moeda que reúna países com performances econômicas tão contrastantes como Alemanha e Grécia ? Concretamente, a adesão à moeda única tira da Grécia a arma da desvalorização, ameaçando-a com um longo purgatório de recessão. Como apostam os críticos do euro, as disparidades econômicas farão explodir a zona do euro, que eles consideram uma aberração desde o início. “É tempo de reconhecer o fracasso do euro”, considera Jean-Jacques Rosa, economista e professor emérito do Instituto de Estudos Políticos de Paris. Ele vai além, considerando que a Alemanha e alguns países vizinhos poderiam formar uma “pequena zona do marco”, “economicamente lógica”.
Para os defensores da moeda única, a sobrevivência da zona do euro é possível, mas passa por reformas estruturais. “Esta crise obriga nós europeus a fazermos progressos importantes no sentido da governança econômica e política da Europa”, disse nesta quarta-feira à rádio France Inter o presidente do Conselho de Análise Econômica Francês, Christian de Boissieu.
O principal defeito na couraça da zona do euro seria a ausência de uma política orçamentária única. “A união monetária exige uma mobilidade de trabalho e uma flexibilidade orçamentária, sob a forma de um Ministério das Finanças único”, consideram também os economistas do banco Standard Chartered. Para o economista Marc Touati, fundador da consultoria ACDEFI, é preciso também redefinir o papel do BCE, que deve parar de agir “por dogmatismo” e preferir o crescimento ao rigor monetarista. “No pior dos cenários, as pressões poderão acabar causando a explosão da zona do euro. No outro extremo, elas poderão forçar a Europa a adotas uma união orçamentária completa”, concluiu Andrew Smith, economista do gabinete do conselho KPMG.