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Imprensa passou de quarto poder para todo-poderoso

Thomas Jefferson, um dos presidentes norte-americanos mais iluminados, disse, uma vez, que para governar melhor o seu país preferia uma imprensa livre em vez de ministros, porque tomaria conhecimento do que estava mal e precisava da sua intervenção, com base nas noticias veiculadas através da rádio e jornais, sem precisar de sair do seu gabinete de trabalho em Washington.

Hoje, volvidos várias décadas depois de Jefferson ter-se apercebido da ajuda que os meios de comunicação prestavam à governação do seu país, há já factos que demonstram que ele tinha razão, porque, actualmente, a imprensa, ou seja o quarto poder, passou de um simples veiculo de informações sobre os acontecimentos ocorridos no pais para ser de facto todopoderoso. Isso porque além de desempenhar o papel de informar, também já desempenha outros tantos e vitais para um determinado país, que outrora eram da competência exclusiva de instituições públicas representativas formais.

Entre os papeis ou competências que a imprensa usurpou e tem desempenhado com muita legitimidade e eficácia, cite-se como exemplo a diplomacia que, como sabemos, ate num passado não muito distante eram da competência exclusiva dos diplomatas, e a do parlamentarismo, quando cabia apenas os parlamentares ou deputados debater os assuntos dos seus países. Contudo, o público hoje prefere a chamada Diplomacia Aberta (ou Open Diploma) que é feita pela imprensa, em vez da fechada ou clássica feita debaixo da mesa pelos diplomatas, ao mesmo tempo que dá mais crédito aos debates promovidos pelos média, ao invés dos debates no Parlamento.

Para que o leitor entenda melhor ate que ponto a imprensa usurpou o papel dos diplomatas, bem como dos parlamentares, nada melhor que citar estudos de alguns entendidos nestas matérias. Num estudo do académico Andrew Heywood, contido num dos seus livros intitulado “Politicas”, ele defende que tudo indica que os meios de comunicação já se substituíram em larga escala as representações das instituições formais, tais como as assembleias, os parlamentos e as assembleias municipais locais, as arenas para o diálogo, debates e deliberações que são os verdadeiros objectivos das políticas democráticas.

Isto aconteceu porque os meios de comunicação de massa são, inquestionavelmente, em melhor condições para desempenhar este papel, comparativamente aos órgãos de representação tradicional. Ele vinca que o que confere maior credibilidade aos debates promovidos “massa media”, é o facto de serem vistos pelo público como genuínos, porque são isentos de condicionalismos ou interesses partidários que muitas vezes limitam a oratória dos deputados. Os meios de comunicação de massa são um fórum de expressão mais vasto e abrangente no que concerne aos pontos de vista e de opiniões, daquilo que é possível ser feito dentro das instituições representativas compostas apenas por políticos eleitos.

Essa abrangência ocorre nos media porque permite aos académicos e cientistas, líderes empresariais, dirigentes sindicais, bem como representantes de outros grupos de interesse e lojistas de todos os quadrantes a capacidade de manifestarem os seus pontos de vista, e se envolverem no debate público das questões nacionais, através dos mecanismos dos meios de comunicação massiva. Assim, fica claro que os media levam o debate até ao público, permitindo-o que expresse os seus pontos de vista, como por exemplo através de programas interactivos feitos por via telefónica. No caso de Moçambique, tais programas têm o seu expoente máximo em alguns programas radiofónicos e televisivos, como o Café da Manhã e Linha Directa, ambos da Rádio Moçambique (RM), ou o Debate da Nação, do canal de televisão STV.

De facto, hoje já existe muita gente que prefere fazer outras coisas que assistir aos debates da nossa Assembleia da República (AR), o parlamento moçambicano, onde alguns dos seus deputados insultam os seus colegas da outra bancada em vez de debaterem com eles os problemas reais que afligem a maioria dos moçambicanos que os elegeram. Paralelamente, existe um número crescente de pessoas que não querem perder um único Café da Manhã, ou debates organizados pela TIM, TVM, ou Espectaculosa como, agora, a STV é mais e que, para muitos, é líder em termos de audiência televisiva no país.

Essa preferência pelos debates promovidas nos media, em prejuízo das que ocorrem na nossa AR, ou as que estão agora a começar ter lugar nas novas assembleias provinciais, deve-se, segundo a análise de Heywood, ao facto de os meios de comunicação dilatarem substancialmente o raio dos pontos de vista e opiniões que são expressos nos debates políticos mas, acima de tudo, por apresentarem esses debates e discussões de uma maneira viva e envolvente para o público em geral, destituídos de formalidades e estereótipos que, geralmente, caracterizam os debates parlamentares ou de outros corpos representativos formais existentes pelo mundo fora.

Heywood vai mais longe, vincando que ao desempenhar este papel, os media suplementam e, em muitos casos, substituem as funções ou trabalho das instituições representativas formais, porque os profissionais como os jornalistas ou apresentadores das televisões são, particularmente, muito dados para desempenharem melhor essas funções, porque estão fora do sistema politico, e não têm outro interesse que não seja o de expor os problemas que afectam o país, tais como a corrupção, incompetência ou simplesmente para quebrar a mordaça verbal ou atrofiamento das mentes que possam estar a ser impostas ao povo pelo regime do dia.

Na verdade, para além da imprensa ser agora o epicentro dos debates de tudo o que se possa imaginar numa sociedade que se pretende democrática ou de Estado de Direito como se deseja da sociedade moçambicana, o facto é que já é um fermento ou catalisador do próprio processo democrático, como se depreende desta asserção do mesmo Heywood no seu livro “Politicas”. Os meios de comunicação promovem a democracia porque ampliam a distribuição do poder e da influência politica numa sociedade. Isto é largamente feito através da nova capacidade dos média, que é de alargar o acesso à informação e a oportunidade que proporciona para a troca dessa informação entre as pessoas.

Como bem o dizia há duas semanas Tomás Vieira Mário, um dos poucos jornalistas moçambicanos da velha guarda e que nunca enveredou pelo jornalismo mercenário que, infelizmente, hoje tem proliferado entre alguns dos newcomers nesta profissão em que ainda se tem mais fama do que proveitos materiais, a imprensa supera os políticos dos partidos, pois levam a mensagem destes ao povo que as suas vozes não podem atingir. Ele diz, e com razão, que sem os meios de comunicação haveria muitos moçambicanos que na hora das campanhas eleitorais e eleições, por exemplo, nunca chegariam a saber da existência desses processos políticos tão vitais para o presente e o futuro do nosso pais.

Infelizmente, ainda existe uma má percepção da importância dos média, que se revela pelo tratamento desdenhoso que ainda se averba aos jornalistas, e aos magros salários que auferem, para não falar de outras desvantagens. No caso de Moçambique, a imprensa, ou seja os jornalistas, mataram por duas vezes consecutivas o tenebroso fantasma da fraude, que teria sido cavalo de guerra de um dos partidos mais ramerrão que há neste pais e que felizmente agora está em desagregação acelerada e irreversível. Esta asserção do meu colega Vimaró, como nós o tratamos o nosso colega Tomas Vieira Mário, de que sem os media haveria muitos moçambicanos que jamais saberiam da realização de certos eventos como as eleições.

Com base na asserção de Heywood, Vimaró explica que, hoje, os meios de comunicação são o coração da política, uma vez que o nosso entendimento da própria política poucas vezes nos é dado directamente pelos políticos. Na maioria dos casos acabamos por nos interirar da política através daquilo que lemos nos jornais e revistas, pelo que assistimos nas televisões, ouvimos nas rádios e, de forma crescente, pelo que encontramos na nova media, que é a Internet. Tudo isto e muito mais faz com que a imprensa seja agora mais do que um simples canal de comunicação, para ser parte e actor dos processos políticos, porque garante uma verdadeira participação do público em tudo o que afecta o país, ao mesmo tampo que funciona como garante da distribuição do poder na sociedade numa escala cada vez maior.

Julgamos que com o que acabamos de plasmar aqui embora de forma resumida, ficou mais do que claro que informação é de facto um poder-todo-poderoso, porque já aglutinou e usurpou com legitimidade todos os outros poderes que haviam na face da Terra. Este é um facto tão evidente a todas as luzes, mesmo que haja quem o não reconheça. De nada vele negá-lo, porque é como quem diz que o Sol não existe – não é com isso que ele deixará de brilhar. Termino vincando que há países hoje que colocam e tratam a imprensa no mesmo nível e com a mesma prioridade em que posicionam os seus exércitos que garantem a defesa da integridade dos seus territórios.

Fazem isso porque têm consciência de que a democracia é em si uma forma suprema de comunicação entre os governantes e governados, no qual se busca um consenso entre o governo e o povo, comunicação essa que agora tem nos meios de informação o seu instrumento todo-poderoso como já o dissemos reiteradamente ao longo deste artigo.

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