O partido do presidente boliviano, Evo Morales, conseguiu vencer em cinco das nove regiões do país nas eleições para governos autônomos, resultado insuficiente para dobrar uma oposição que se entrincheirou nos departamentos de Santa Cruz, Beni e Tarija, onde se concentra a maior parte da riqueza nacional.
Por enquanto, tratam-se apenas de estimativas de apuração rápida, feita pela imprensa nos centros de votação, na falta de dados oficiais que começarão a fluir no decorrer dos próximos 15 dias. O Movimento ao Socialismo (MAS, situação) ratificou sua hegemonia em La Paz, Oruro, Potosí e Cochabamba, e acrescentou Chuquisaca, um local que no passado esteve a serviço da oposição.
O departamento de Pando – onde as estimativas mostram dados oscilantes, ora para a oposição, ora para a situação – poderia definir o novo cenário político regional, segundo avaliação do analista conservador Iván Arias. O presidente Morales proclamou a vitória do MAS em uma entrevista coletiva na sede do governo, mas, apesar do ar de triunfo, declarou: “Eu não quero nenhum confronto com a oposição”. “Quero que os opositores entendam que este processo de mudança (como ele chama sua administração indigenista e de estatismo) não pode ser parado. Então é melhor que somem, ou que pelo menos que aportem com gestão para que ganhe o povo, tanto nos municípios como nos departamentos”.
Com os novos números, que não atribuem uma vitória contundente como esperava Morales, “o MAS não poderá fazer o que quiser (…), o eleitorado lhe deu um limite”, avaliou o cientista político conservador Jorge Lazarte. O presidente esquerdista jogou todo o seu prestígio a favor de seus candidatos em Beni, Santa Cruz e Tarija, as regiões agropecuária e gasífera, onde os resultados lhe foram desfavoráveis. Estas três regiões são, desde o primeiro mandato de Morales (2006-2010), o principal reduto da oposição e, ao lado de Pando, formam a chamada ‘meia lua’ opositora a Morales.
O presidente havia proposto – segundo ele próprio declarou há duas semanas – conquistar 7 das 9 regiões bolivianas. Na contagem para prefeitos, a oposição teria vencido também em La Paz e Santa Cruz, as praças mais fortes do país. Segundo um balanço da Corte Nacional Eleitoral, o dia de votação transcorreu sem incidentes, das 08H00 locais até as 16H00 locais.
Cinco milhões de cidadãos, dos 10 milhões que formam a população da Bolívia, foram chamados a votar para eleger nove governadores, 144 deputados provinciais, 337 prefeitos, 1.887 vereadores, 23 autoridades indígenas locais, vice-governadores provinciais e corregedores. Esta é a primeira votação da história boliviana a eleger governos autônomos – até agora, dependentes do poder Executivo -, amparados na nova Constituição, em vigor desde o ano passado, após sua aprovação em referendo.
O complexo panorama polarizado que previsivelmente sairá das urnas foi reconhecido pelo vice-presidente, Alvaro García, para quem tal cenário prevaleceria nas regiões, com votos divididos entre o oficialismo e a oposição. “Vai haver uma estrutura representativa no conselho municipal (ndr: câmara de vereadores) e uma assembleia legislativa bastante dividida”, antecipou García, embora tenha destacado que isto deve obrigar prefeitos e governadores a melhorar os mecanismos de concertação. As eleições serão definidas por maioria simples.