O gorila da bacia do Congo, espécie vítima de traficantes de animais e milícias, vive em um habitat que se reduz implacavelmente ao ponto em que poderá desaparecer de regiões inteiras em um prazo de 10 a 15 anos.
Num relatório intitulado “A Última Batalha do Gorila”, apresentado nesta quarta-feira em Doha, onde se celebra a conferência da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas da Fauna e da Flora Silvestres (CITES), especialistas da ONU pediram ajuda à Interpol e à Monuc, Missão de paz das Nações Unidas na República Democrática do Congo (RDC).
A conferência da CITES, que encerra seus trabalhos na quinta-feira, se preocupou particularmente com o aumento da caça ilegal e do tráfico de espécies, no qual se destaca o envolvimento do crime organizado. Os gorilas são caçados por causa de sua carne e como troféus de caça, mas sobretudo são vítimas colaterais dos traficantes e das milícias que atuam na RDC, afirma Christian Nellerman, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
A região onde os gorilas vivem se estende da Nigéria ao Camarões, do Gabão aos dois Congos e à região dos Grandes Lagos (Ruanda, Burundi, Uganda). “Em estudo feito em 2002, estimou-se que apenas um terço do território dos gorilas subsistiria em 2030. Mas as coisas vão muito além” e “no ritmo atual, só restará dez por cento”, destacou Nellerman.
O funcionário culpou a “extração ilegal de recursos naturais, minerais e madeira, sobretudo no leste da RDC, onde certas empresas exportam de duas a dez vezes mais que o autorizado por suas concessões oficiais”. “As milícias que operam no leste da RDC são os atores principais deste contrabando, cujos produtos são vendidos a empresas de Europa e Ásia”, acrescentou. Este tráfico, que Nellerman estimou em 700 milhões de dólares anuais, reduz gradativamente o habitat natural do gorila e ameaça sua sobrevivência.
Ian Redmond, consultor do Programa sobre a Sobrevivência dos Grandes Símios (Grasp), dirigido pelo Pnuma e pela Unesco, considerou que “todas as espécies de gorilas estão ameaçadas, com exceção do gorila da montanha” (que vive entre Ruanda, RDC e Uganda). “O tráfico de carne é uma das causas (…), mas ele só representa de um a dois por cento do mercado”, destacou, explicando que os filhotes de gorila são encomendados por colecionadores do mundo inteiro e que a espécie é vítima colateral dos caçadores ilegais de rinocerontes e elefantes, cujo alvo são os chifres e o marfim.
Finalmente, as espécies tão próximas ao homem também ficam expostas a epidemias, com a febre hemorrágica Ebola. A soma de ameaças levou o Pnuma a pedir o apoio da Interpol “para que nos ajude a investigar e processar na Justiça as empresas cúmplices destes delitos”, disse Nellerman.