Começou por fazer um curso básico de enfermagem. Pouco tempo depois, ingressou nas fileiras da PRM na província de Nampula, em 1992. Hoje é uma das pouquíssimas mulheres do país que se pode orgulhar de ter protegido o mais alto magistrado da nação e outras figuras. Afinal, a escolta não é só para homens. Que o diga Margarida Jola!
Quem é Maria Jola?
Sou uma mulher como todas as outras, mas com a particularidade de ser simpática e sensível ao sofrimento alheio, sobretudo relativamente às crianças da rua.
Professa alguma religião?
Sim. Sou crente da Igreja Católica Romana.
Qual é a sua naturalidade?
Nasci em Lichinga, província do Niassa, há pouco mais de quarenta anos.
Quais são os seus defeitos e virtudes?
Não sei exactamente. Mas, lembro-me de ser um pouco nervosa e muito corajosa. Gosto de enfrentar os desafios.
É casada?
Sim.
E como vai a relação conjugal?
Normal.
Em que trabalha o seu marido?
É polícia também.
Onde e como é que se conheceram?
Em Nampula quando ambos trabalhávamos lá.
Deve ter sido ele que a incentivou a seguir o ramo…
Não! Conhecemo-nos quando eu já estava nas fileiras. Praticamente ele pertence à primeira geração de polícias. Aqueles que treinaram em Nachingueya. Posso dizer que está prestes a entrar para a reforma.
Tem filhos?
Sim. Quatro meninas.
Incentivaria uma delas a seguir as suas pegadas?
Não. Acho que os pais devem deixar os filhos seguir a área que lhes convém e tiverem mais inclinação.
Quando é que entra para a polícia?
Em 1992.
É isso com que sempre sonhou?
Digamos que não. Primeiro estava a fazer um curso de saúde para ser enfermeira, mas um primo polícia fez-me o convite e aceitei.
Porque aceitou?
Não sei exactamente.
Nunca se arrependeu?
Não. Com o tempo fui descobrindo que fiz a escolha certa.
Já agora, tendo em conta que comummente a sua profisão é encarada como sendo tipicamente masculina, o que tem a dizer sobre isso? É difícil ser mulher polícia?
É normal que as pessoas pensem assim. Mas, ser mulher polícia não é difícil. Basta ter coragem e, acima de tudo, muita força de vontade. Não vejo muita diferença em relação a todas as outras profissões.
E quais são as qualidades que uma mulher polícia deve ter?
Gostar do seu trabalho e não encarar a profissão como algo exclusivo para os homens.
Qual é a sua especialidade?
Actualmente sou polícia de trânsito, mas já trabalhei em quase todos os ramos da corporação.
Pode explicar melhor?
Primeiro cumpri o tempo de estágio, fui para a patrulha, trabalhei no laboratório criminalístico, que é a PIC, e de lá parti para a primeira esquadra onde trabalhei como oficial adjunta de permanência e depois com um grupo fiquei na companhia. Mais tarde parti para o ramo da polícia de trânsito, tudo isso em Nampula.
Como é que veio para Maputo?
Em 1998, o meu marido foi transferido de Nampula para Gaza e ficámos lá durante cinco anos. Em 2003 fui transferida para cá.
E como foi na capital do país?
As coisas correram sem sobressaltos. Ambientei logo me no trabalho e fui uma das primeiras mulheres a andar de mota e a fazer uma escolta presidencial na tomada de posse em 2005.
Não é comum as mulheres escoltarem o Presidente?
Penso que não. Éramos apenas duas. Eu e uma colega que faleceu no parto. Mas, há dois anos que deixei de andar de mota.
Por acaso é uma ordem interna que as mulheres não andem de motas ou escoltem altas figuras do Estado?
Não. Acho que falta-lhes coragem. Veja que até hoje ainda não conseguimos formar uma sequer.
E como é que a senhora ganhou essa coragem?
Foi a minha falecida colega que me incentivou, assim que vim de Gaza. Convidou-me a experimentar um motociclo. Apesar de já ter andado antes, eu tinha medo de começar.
E depois?
A minha relação com os motociclos melhorou quando participei num curso ministrado por uns espanhóis, onde o uso de motas era obrigatório. Fui praticando e habituei-me. Quando voltei ao sector de trabalho, deram-me a mota, com que circulei seis anos.
Em quantas escoltas participou?
Penso que foram duas. Uma na tomada de posse do PR e outra na última cerimónia que decorreu em Mbuzine. Nesta escoltei a comitiva dos ministros a partir de Maputo passando por Ressano Garcia. Mas parei há dois anos.
Porque parou?
Acho que já sou adulta e a minha idade não ajuda.
E o que faz agora?
Sou polícia de trânsito e trabalho na área social.
O que quer dizer com área social?
Refiro-me a um projecto denominado Unidade de Género, que lida com questões da mulher polícia aqui no comando da cidade. Trabalhamos com crianças órfãs, viúvas e igualmente lutamos para a promoção da mulher. Foi através desse projecto que o ano passado fui a Luanda participar num curso de comando e liderança. Desde a sua criação até hoje, temos ajudado muitas mulheres.
Tem tido dificuldades como mulher polícia?
Praticamente não. Já ando nisto há bom tempo e conheço o trabalho.
E como é a sua relação com os automobilistas?
Salutar. Felizmente, nos tempos em que trabalhava mais no terreno conseguia disciplinar a todos, incluindo os “chapeiros”.
Para terminar, o que faz nas horas livres?
Convivo com os vizinhos. Em termos de lazer, gosto de sair para o teatro. Adoro uma boa peça teatral.
E qual é o grupo teatral e a sua música preferida?
Companhia de teatro Gungu. Música angolana, a semba. Em Moçambique gosto de ouvir Júlia Mwito.
Cozinha?
Sim.
Qual é o seu prato preferido?
Aprecio uma boa verdura e mariscos. Não gosto de carne.
Sonhos?
Depois de feita a Licenciatura em Planificação, Administração e Gestão de Educação pela Universidade Pedagógica, o meu sonho é fazer o mestrado em Administração Pública e Governação na UEM.