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60 segundos com Inês Mário Alculete: Uma mãe que foi professora dos seus filhos

60 segundos com Inês Mário Alculete: Uma mãe que foi professora dos seus filhos

Quando Inês Mário Alculete nasceu, num bairro pobre, a década de ’50 corria lenta. Veio ao mundo no então Hospital Rural de Quelimane e saiu do bairro de Guaranje para a Missão de Coalane onde concluiu a quarta classe. Depois fez um curso de professores primários e deu aulas durante 39 anos.

(@Verdade) – Onde e quando nasceu?

(Inês Mário Alculete) – Sou natural de Quelimane e nasci a 28 de Fevereiro de 1950, no então Hospital Rural de Quelimane.

(@V) – Viveu sempre neste bairro?

(IMA) – Sim, mas não nesta casa. Aqui morava a minha avó. Os meus pais viviam do outro lado.

(@V) – Recorda-se do ano em que começou a estudar?

(IMA) – Não. Mas sei que até Janeiro de 1962 já tinha feito a quarta classe.

(@V) – Onde é que estudou?

(IMA) – Na Missão de Coalane, actual Escola Primária Completa de Coalane.

(@V) – Continuou os estudos depois da quarta classe?

(IMA) – Sim. Em ´63 fui ao curso de professores primários.

(@V) – Quanto tempo levou o curso?

(IMA) – O curso começou em ‘63 e só terminou em ‘68. Ou seja, cinco anos.

(@V) – Qual foi a primeira escola onde deu aulas?

(IMA) – Curiosamente foi na Missão de Coalane, onde fiz a quarta classe.

(@V) – Deu aulas a alguns dos seus filhos?

(IMA) – Dei ao Manuel na primeira classe, ao Estêvão na segunda e à Lucinda na terceira.

(@V) – O facto de ter sido professora ajudou na formação dos seus filhos?

(IMA) – Eu agradeço o facto de ser professora. Uma mãe que sabe dos problemas da escola quando o seu filho falta preocupa-se. É aquilo que se diz: educar uma mãe é educar uma nação. Devo isso ao facto de ser professora. Fiquei feliz quando a minha última filha se graduou no ano passado. Fiquei descansada porque todos já tinham feito a licenciatura.

(@V) – Quando é que reformou? (IMA) – Em 2006.

(@V) – Não sente falta de dar aulas?

(IMA) – Sinto, mas é melhor para a minha saúde não dar aulas. Os alunos hoje em dia respeitam muito pouco o professor. Eu não conseguiria conter-me e isso acabaria por afectar o meu estado de saúde. Já pensei em voltar, mas decidi não fazê-lo.

(@V) – Quando começou a namorar com o seu esposo?

(IMA) – Quando estava na Missão de Coalane vim de férias, cruzei-me com ele e cumprimentou-me. Fui ter com a minha mãe e perguntei porque ele me saudou. Já me tinha visto várias vezes e não me tinha dito nada. Pouco depois a família dele veio ter com a minha e disseram que ele queria casar comigo.

(@V) – … E o que fez a sua família?

(IMA) – A minha mãe disse-lhes que eu estava a estudar, que tinha o curso e não podia casar naquele momento. Ele disse que podia esperar. Ficou à espera de ‘65 até ‘68. Depois disso ainda trabalhei um ano e só em ’69 é que preparámos o casamento.

(@V) – Quando soube do interesse do senhor Victoriano Lopes de Araújo em si?

(IMA) – Nas férias do final do ano. No dia que me cruzei com ele e me cumprimentou já estava a terminar as férias semestrais. Voltei à Missão de Coalane e estudei mais um semestre. Só quando regressei é que a minha mãe me contou.

(@V) – Quando é que casou?

(IMA) – Casei-me no dia 11 de Janeiro de 1974.

(@V) – E vieram logo viver nesta casa?

(IMA) – Não. Vivíamos do outro lado, numa casa de pau-a-pique.

(@V) – Então foi aqui que os vossos filhos nasceram?

(IMA) – O mais velho (Manuel Alculete de Araújo) nasceu na nossa primeira casa. Os outros todos nasceram aqui.

(@V) – O que gosta de comer?

(IMA) – Gosto de peixe, mas não aquele grande. O pequeno sabe melhor. Embora agora não possa comer peixe frito devido aos problemas de estômago que tenho

(@V) – Qual é o seu maior defeito?

(IMA) – Só os outros é que podem dizer. Mas acho que sou teimosa.

(@V) – Recorda-se de algum período difícil na educação dos seus filhos?

(IMA) – Sim. O ano de ´83 foi extremamente difícil. Houve seca e as machambas não produziram nada. Para ter o que comer tínhamos de ficar nas filas e eu como professora não tinha tempo por causa das aulas. Quando tinha algum tempo as cooperativas já não tinham nada. Foi um ano duro.

Breve historial profissional

Inês Mário Alculete foi directora do Centro de Formação de Professores de Quelimane, de 2001 a 2002, da Escola Primária Completa 3 de Fevereiro e da Escola Primária Completa de Chirangano. Também foi directora pedagógica e da Escola Primária Completa de Janeiro. Em 1986 foi adjunta do director da Educação da cidade de Quelimane.

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