É uma pessoa exigente. Talvez por isso, sente-se inquieta com a dependência da mulher em relação ao homem. Porém, acredita que ela é capaz de se emancipar. Nos tempos livres, Amélia gosta de ler e cozinhar. Adora um prato de peixe seco com salada de tomate. Em suma: é uma apreciadora da cozinha moçambicana.
Amélia Franklin conta como foi a sua participação na luta de libertação nacional e os contornos que antecederam a sua eleição ao mais alto cargo daquela colectividade.
Onde e quando é que nasceu?
Nasci no dia 12 de Fevereiro de 1958 na província de Manica.
Onde é que passou a sua infância?
Foi na cidade de Chimoio, onde fiz o ensino primário. Em 1973 ingresso nas Forças Populares de Libertação de Moçambique (FPLM) na Frente de Manica e Sofala. Na altura tinha a 6ª classe.
Foi por vontade própria que entrou para as FPLM?
Foi sim.
O que a motivou?
O desejo de lutar pela justiça e pela libertação de Moçambique e dos moçambicanos.
Foi a única?
Não. Éramos um grupo de quatro jovens e eu era a única mulher.
Onde é que recebeu os treinos?
Em Nachingweia, na Tanzânia.
Foram duros?
Tudo o que é treino é duro, principalmente na área militar, mas a vontade de libertar o país e o povo moçambicano falou mais alto.
Com quem treinou?
Treinei com a Verónica Macamo, actual Presidente da Assembleia da República, Alcinda Abreu, ministra dos Recursos Minerais, Pamela Santos, esposa de Marcelino dos Santos, Aurélio Manave, Tobias Dai (era instrutor do centro) e outras figuras. Conheci também o Presidente Samora Machel.
Quando é que deixou o exército?
Depois da independência fui colocada no Ministério do Interior onde permaneço até hoje como quadro sénior.
É casada?
Sou divorciada.
Tem filhos?
Tenho sim. São quatro, duas meninas e dois rapazes, e cinco netos.
O que gosta de fazer nos tempos livres?
Gosto de ler, cozinhar e estar com a família. Gosto também de fazer trabalhos domésticos, tais como engomar, lavar a roupa.
Qual é o seu prato favorito?
Peixe seco com salada de tomate. Gosto também de matapa, chiguinha, cacana e folhas de abóbora com xima.
Que defeito é que tem?
Sou muito exigente. As pessoas podem não entender, mas eu gosto de ver as coisas no seu devido lugar.
E qualidades?
Gosto de trabalhar em equipa e sou muito amiga das pessoas que me rodeiam.
Gosta de música?
Sim. Adoro música romântica, gospel e moçambicana.
Artistas favoritos?
Roberto Carlos, Roberta Miranda, Elvira Viegas e Anita Macuácua.
Em quem se inspira?
Samora Machel, Armando Guebuza, Josina Machel e Nelson Mandela.
O que é que não pode faltar na sua bolsa?
A Bíblia – sou cristã – e o telemóvel.
Qual era o seu sonho de infância?
Era ser professora.
Conseguiu realizar?
Mas ou menos. Nunca estive perante uma turma, mas no meu trabalho tenho a oportunidade de transmitir conhecimentos e experiência às pessoas com quem trabalho.
Lembra-se de algum episódio que tenha marcado a sua vida?
Sim. A minha participação na luta de libertação. Ter de abdicar dos estudos e juntar- -me à luta foi uma decisão muito dura de tomar.
O que a levou a concorrer para o cargo de Secretária-Geral da OMM?
Não foi por iniciativa própria que concorri para este cargo, o meu nome foi proposto pelas províncias.
Aceitou logo?
Não, tinha que consultar os meus proponentes e as pessoas mais próximas e elas aconselharam-me a aceitar.
O que as mulheres podem esperar de si?
A continuidade do trabalho que vinha sendo feito pelo elenco anterior, nomeadamente a educação de adultos, capacitação, emancipação e exaltação da mulher e envidar esforços para que a mulher tenha direitos e oportunidades iguais perante o homem.
O que a preocupa na sociedade quando se fala da mulher?
A dependência perante o homem, ela deve ser independente. Vamos fazer de tudo para que ela alcance a independência. Vamos massificar a mulher no combate à pobreza e todos os males com que se debate. Outro problema é a violência contra a mulher e a criança, são males que devem ser combatidos.
Acha que a mulher está preparada?
Está sim, aliás, sempre esteve. Ela está ciente de que o seu papel é fundamental para a construção de uma sociedade próspera.