Cecília Xavier é a vocalista duma das orquestras moçambicanas mais aplaudidas de sempre – a Orquestra Djambo. A sua voz, a energia e a alegria que transmite no palco atravessaram e entusiasmaram toda uma geração. Tem 68 anos de idade, é telefonista aposentada e dedica-se à marrabenta. Assim é, em palavras sucintas, Cecília José Xavier.
@V – Como foi a sua infância?
CX – Foi tranquila. Aliás, brinquei bastante como toda a criança.
@V – Quando e como é que entra para a Orquestra Djambo?
CX – Não posso precisar a data. Eu gostava de cantar, mas foi no Centro Associativo dos Negros da Província de Moçambique onde tudo começou. Cantei num pequeno concurso que ali havia, gostaram da minha voz e fui convidada a integrar o grupo folclórico. Cantei todo o estilo de música, a marrabenta, brasileira e portuguesa (fado).
@V – Grande parte da sua juventude foi passada junto da Orquestra Djambo?
CX – Sim. Gostava de cantar e acompanhava sempre o conjunto. O Centro Associativo passou a ser a minha segunda casa.
@V – Foi lá onde conheceu o seu esposo?
CX – Não. Já o conhecia antes. Ele fazia parte do agrupamento e era um grande bailarino de marrabenta. Quando entrei para o grupo, passámos a trabalhar juntos…
@V – Então, a orquestra ajudou a fortalecer a vossa relação…
CX – Claro. Graças à Orquestra Djambo que a nossa relação ficou cada vez mais coesa, até ele falecer há dois atrás.
@V – Tiveram filhos?
CX – Sim, um casal. Hoje, a rapariga é bailarina da orquestra, puxou ao pai.
@V – E o rapaz, também saiu aos seus pais?
CX – Ele não quer saber. Talvez o bicho da marrabenta não o pegou.
@V – Tem netos?
CX – O meu filho deu-me uma neta.
@V – Além do palco, costuma cantar em casa?
CX – Canto todo os dias. Também canto na igreja aos Domingos.
@V – Dança muito?
CX – Dançava muito. Perdi o jeito, como deve saber quando se ganha um corpo avantajado, os passos de dança deixam de sair com perfeição. Mas gosto de dançar, sobretudo a nossa marrabenta.
@V – Em duas palavras, o que significa marrabenta para si?
CX – Vida e identidade.
@V – Existe diferença entre a marrabenta de hoje e a dos últimos 50 anos?
CX – A marrabenta evoluiu, este é um facto. Hoje, os jovens têm a sua maneira de dançar, mas não deixa de ser marrabenta. Nós, a Orquestra Djambo, continuamos a fazer a mesma marrabenta e não vamos mudar.
@V – Como é que olha para o comportamento dos jovens de hoje em dia?
CX – Está a perguntar-me sobre os meus dois filhos?
@V – Não necessariamente. Refiro-me aos jovens em geral.
CX – Falar do comportamento dos jovens é falar do comportamento dos meus filhos. Eles também são jovens e quase todos comportam-se da mesma maneira. São muito agitados, digamos que eles estão a viver o tempo deles…
@V – Está a dizer que no seu tempo os jovens eram mais quietos e bem-comportados?
CX – Não. Quero dizer que não tinham muita liberdade como esta juventude de hoje tem. No meu tempo, os jovens ouviam os conselhos dos pais. Por exemplo, quando comecei a cantar a minha mãe não reagiu lá muito bem, mas sentei para ouvir o que ela tinha para dizer.
@V – O que faz aos fins-de-semana quando não está a actuar, claro?
CX – Vou à igreja e volto feliz da vida. Cozinho e aturo os meus filhos.
@V – Gosta de cozinhar?
CX – Gosto de cozinhar, sempre gostei. Cozinho sempre que tenho tempo, sobretudo aos Domingos.
@V – Qual é o prato que mais gosta de fazer?
CX – Mboa (folha de abóbora). Adoro fazer esse prato.
@V – Qual é a mensagem que deixa para os admiradores da Orquestra Djambo?
CX – Continuem a apreciar a orquestra.