ZIMBABWE
Após meses de aturadas negociações intermediadas pelo presidente sul-africano Thabo Mbeki, foi finalmente assinado, esta segunda-feira, o acordo de partilha de poder no Zimbabwe. Mugabe permanece no cargo de presidente e Tsvangirai, o líder da oposição, será o futuro primeiro-ministro.
Foi na segunda-feira assinado em Harare o acordo há muito esperado de divisão de poderes e de estabelecimento de um Governo de Unidade Nacional (GUN) para o Zimbabwe. Após a assinatura do acordo, o tom do regime e da oposição foram muito diferentes. Morgan Tsvangirai, líder da oposição, exprimindo-se já na condição de primeiro-ministro do país, apelou aos dois partidos inimigos que trabalhem em conjunto para “unir” o país. Por seu lado, o Presidente Robert Mugabe voltou a dizer que não irá tolerar qualquer ingerência estrangeira na Administração do seu país, embora se tenha declarado disposto a fazer funcionar o novo governo de união.
“Eu, o primeiro-ministro do Zimbabwe, apelo à Zanu- PF (de Robert Mugabe) e ao MDC (o próprio partido de Tsvangirai) que unam o Zimbabwe. As divisões pertencem ao passado”, declarou Morgan Tsvangirai durante a cerimónia de assinatura do acordo, concluído após cinco meses de violências e de negociações.
O novo primeiro-ministro recomendou ainda que o país “abra as portas” às organizações de ajuda internacional. “As organizações de ajuda internacional vieram ajudar o nosso país e confrontaram-se com portas fechadas”, declarou. “Nós devemos abrir as nossas portas à ajuda. Necessitamos de medicamentos, de comida e precisamos que os médicos venham ao nosso país. Necessitamos de electricidade, água, petróleo para os nossos veículos e de podermos retirar dinheiro do banco”, continuou.
Contrastando com o tom construtivo de Tsvangirai, Mugabe voltou ao velho discurso anti-imperialista e indicou claramente que o “Zimbabwe é um país soberano”. “Apenas o povo do Zimbabwe tem o direito fundamental de o governar. Apenas os zimbabweanos podem criar um governo e mudá-lo”, declarou o chefe de Estado, de 84 anos e há 28 no poder.
“Devemos resistir àqueles que procuram impor-nos as suas vontades. Esse princípio deverá guiar-nos à medida que formos avançando”, sublinhou.
O Presidente Mugabe, um herói da luta pela independência, acusa regularmente o Ocidente, e nomeadamente a antiga potência colonial britânica, de querer recolonizar o Zimbabwe servindo-se do apoio da oposição nacional, qualificando Morgan Tsvangirai de “lacaio” do Ocidente. Apesar do seu discurso virado para o passado, Robert Mugabe mostrou-se igualmente disponível para fazer funcionar o governo de união nacional com Morgan Tsvangirai. “Sejamos aliados”, disse para o líder do Movimento para a Mudança Democrática. “Neste momento partilhamos o mesmo destino; chegou a altura de reconhecer que estamos ligados”, sublinhou.
Após a assinatura do acordo, a União Europeia anunciou que irá esperar que o novo governo de união nacional tome “medidas para restaurar a democracia” antes de relançar a sua ajuda económica àquele país.
Os ministros europeus dos Negócios Estrangeiros reunidos hoje em Bruxelas asseguraram estar disponíveis para “adoptar um conjunto de medidas de apoio económico e de suporte a um governo de transição”, sob condição de que o governo tome “medidas para restaurar a democracia e o estado de direito no Zimbabwe” – nomeadamente organizando eleições transparentes e pluralistas – e promova o ressurgimento económico do país”.
“Estou reticente em suavizar as sanções enquanto não virmos resultados concretos”, explicou o chefe da diplomacia italiana Franco Frattini.
Paralelamente, a UE saudou o acordo, sublinhando, porém, que irá “estudar os detalhes do acordo e que ficará atenta ao desenrolar do processo, que implicará o fim imediato de qualquer forma de intimidação e de violência”.
Os chefes da diplomacia vão examinar a “evolução da situação” durante a sua próxima reunião, no dia 13 de Outubro, no Luxemburgo, precisaram as mesmas fontes comunitárias.
A UE suspendeu em 2002 a sua ajuda ao Zimbabwe, excepto para projectos de apoio directo à população (saúde, educação, microprojectos) e de ajuda humanitária, que representavam 91 milhões de euros em 2007.
Os 27 permanecem preocupados com a situação humanitária no Zimbabwe e reclamam o levantamento imediato de todas as restrições impostas no caminho da ajuda humanitária.
A declaração adoptada hoje não faz nenhuma menção às sanções europeias contra o regime zimbabweano nem a um possível levantamento as mesmas. Perto de 170 pessoas, incluindo Robert Mugabe e a sua mulher Grace, bem como quatro empresas que apoiam financeiramente o regime, estão actualmente impedidas de se deslocarem ao espaço da UE e as suas contas bancárias foram congeladas.