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Xïkwembo – Time for Africa

Sábado de manhã procuro pneus para lama. Estou cansada de ficar atolada pelas estradas de terra dos países das chuvas. Encontro Salim Hassan que ao meu pedido responde apenas: – Why? The rainy season is almost over. Have a cup of tea, don’t worry about it now.

Estou em casa de um amigo dele que pede ovos para o pequeno- almoço: – Patrão, ovo não tem, peço dinheiro para comprar – sai para o mercado, regressa, prepara a refeição, o boss come. No dia seguinte: – Ovos mexidos e… – Patrão, ovo não tem. – Mas ontem foste ao Mercado! – Sim, e comprei ovos para ontem, não sabia que hoje precisava. Folha de chá só se compra quando a visita já entrou em casa e já sentou. – Tem vinho? – Acabou. – Como acabou? Ontem te perguntei se tinha. – E tinha.

Ontem tinha. Hoje é que não. – Não sai água. Não disseste que havia? – Sim, havia. – Mas tinha pouca? – Não sei, patrão não perguntou se tinha pouca, perguntou se tinha. Ontem no tanque tinha. Casa está quase a cair, homem dorme na entrada da porta. Estamos na estação das chuvas, chove todos os dias, todos sabemos. Basta uma chuvada mais forte para destruir a casa.

O homem descansa, dorme, ergue a mão e saúda-me: “mambo!”. Para quê preocupar-me com algo que ainda não aconteceu e pode nem acontecer? Temos tempo. Não há pressa. Pode parecer desleixo ou preguiça mas na verdade não ignoremos que é de facto imprevisível o rumo das coisas. Que não depende de nós o caminho, mesmo que decidamos em consciência que placas seguir, que paragens fazer.

Para os crentes a ideia de que Deus, uma força superior, há-de organizar a nossa vida e nela todas as pequenas questões, é talvez tranquilizadora. E a verdade é que todos ou quase todos nós nos apoiamos nessa ideia. Na ideia de que depende da nossa vontade e dos que nos rodeiam, com quem vivemos, para quem trabalhamos… o sucesso ou insucesso das nossas vidas.

Mas não é verdade, catástrofes naturais a comprová-lo, acasos diários e coincidências a lembrá- lo. Nas terras etíopes e nos países Swahili existe uma particular aproximação à questão das horas, com o dia começamos a contar, logo que nasce o sol – hora um, depois que se põe – termina a contagem. Não existe hora no escuro. Nos países sem electricidade faz mais sentido do que pode parecer. Aqui muitas vezes ouvimos a expressão “aquela hora das xx”, e anuncia o vago suficiente que encerra qualquer determinação de horário. Será por aquela hora, dentro daqueles 60minutos, mais coisa, menos coisa.

“I ask for a moment of undulgency… The Works that I have in hand I will finish them after.” “Não te irrites hoje; Não te preocupes hoje; Agradece hoje; Trabalha com verdade hoje; Ama todos os seres vivos hoje…” E não é disso que falam as filosofias zen tão antigas e tão populares no momento?

As artes da meditação, da interiorização do caminho, do agora, do eu, do interior, do respeito pelos caminhos sabedores da natureza… Então, basta olhar para África, o segredo está aqui.

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