Os nossos leitores elegeram as seguintes Xiconhoquices na semana finda:
Transporte no país real
Viajar no país real sem viatura própria é um martírio. Um percurso que pode ser feito em duas horas leva, no mínimo, seis horas. Isso acontece em quase todo o lado, mesmo nos locais onde as vias de acesso estão em condições aceitáveis. Não é, felizmente, um problema de falta de passageiros.
É mesmo um problema de políticas feitas para sabotar o cidadão, políticas que amordaçam o calcanhar na base de uma montanha cerceando o desenvolvimento, políticas criadas para manter o povo permanentemente aflito. O que é grave, nessa história de viajar pelo país real, nem é com o passageiro ocasional. O mais grave acontece na vida daquele que já naturalizou, já tornou ordinário e já tornou normal o extraordinário.
É que os prejuízos dessas políticas prejudicam exactamente esse cidadão. É que a morte de um ente querido que perece antes de chegar ao posto de saúde é tão normal que a culpa é das distâncias e nunca de quem deve lutar para aproximar o posto de saúde da residência das pessoas ou tornar o percurso menos penoso.
Estamos numa situação, também anormal, em que somos capazes de julgar fúteis as reclamações do povo de Maputo e Matola que julgam que é um insulto viajar de camiões. Na verdade é um insulto, mas o drama aqui é que há pedaços deste país que clamam, pelo menos, por este insulto para chegar pelo menos em cinco horas ao hospital. Só mesmo uma Xiconhoquice para colocar uma vítima a pensar que anda a reclamar de barriga cheia.
Basquetebol envolto em fantochadas
Moçambique acolherá, entre 20 a 29 de Setembro próximo, o Campeonato Africano de Basquetebol sénior feminino. Aliás, já no próximo mês de Agosto, a selecção nacional estará na 27ª edição do Afrobasket sénior masculino que vai decorrer em Abidjan. Contudo, a anteceder esses dois eventos, o país, no seu todo, não organizou sequer um campeonato, seja local ou nacional de basquetebol. Só mesmo um país com dirigentes Xiconhocas é que pode embarcar numa Xiconhoquice desta natureza.
O que esperamos, enquanto país, quando enveredamos por brincadeiras com o orgulho de uma nação? O mais honesto seria endereçar uma carta para as entidades competentes a anunciar a nossa desistência por questão de amor- próprio. Há coisas com as quais não se deve brincar e a dignidade de uma nação é uma delas. O que o basquetebol masculino vai fazer no Afrobasket? O que devemos esperar de uma equipa oriunda de um país que não realizou nenhum campeonato?
Não é brincar com dinheiro que poderia ser melhor utilizado em coisas realmente importantes? Vão pagar passagens, hotel, alimentação e muito mais para ir passar vergonha. Esse dinheiro não seria melhor investido numa competição local? Parem de brincar com coisas sérias e de andar de Xiconhoquice em Xiconhoquice em nome do basquetebol e dos atletas que, na verdade, são as maiores vítimas desta sem-vergonhice.
Esquema de desvio de fundos no MINED
Um novo esquema sobre a forma como o Ministério moçambicano de Educação (MINED) terá sido delapidado, pelo menos no ano passado, acaba de chegar ao Gabinete Central de Combate à Corrupção (GCCC), o que atrasou o envio do processo ao tribunal.
Um relatório de sindicância da Inspecção das Finanças entregue ao Gabinete aponta que parte dos montantes ilicitamente sacados do ministério em 2012 saiu alegadamente para o pagamento de professores estrangeiros.
O porta-voz do MINED, Eurico Banze, segundo a Rádio Moçambique, escusou-se, esta segunda- feira, a indicar as áreas de ensino nas quais estão afectos os docentes estrangeiros usados para a delapidação da instituição.
Bernardo Duce, porta-voz do GCCC, revelou que o documento remetido aponta que os valores retirados para aquele fim, pelo menos no ano passado, estão muito acima das reais necessidades.
A ideia daquela repartição da Procuradoria-Geral da República, segundo Duce, era ter enviado o processo ao tribunal durante o mês de Junho, mas o relatório das Finanças, uma autoridade na matéria, possui informações que não devem, de forma alguma, ser ignoradas. Mais palavras para quê? Viva a Xiconhoquice.