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Xai-Xai não quer lembrar feridas da covid-19

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Mesmo que não o queira, a realidade dita outras regras, numa situação em que a incerteza quanto ao futuro, prevalece e parece triunfar. Xai-Xai (capital da província de Gaza), será, em si, a síntese de toda a fervura económica desta região que tem a Agricultura como motor, mas esse motor não escapou a pandemia da covid-19 que infectou 4.818 indivíduos, 2 mil deles durante a 3ª vaga. E todo o resto da máquina poderá ressentir-se pelos próximos tempos. “Esperávamos que com o abrandamento das contaminações, o negócio seria revitalizado, contudo não é isso que está a acontecer”, desabafou uma dona de casa que tem no mercado do Limpopo a sua principal fonte de sustento.

Houve fases – no pico da doença – que esta cidade, localizada numa baixa movediça, susceptível a cheias, tremeu profundamente. E hoje parece inacreditável que a vida tenha voltado ao normal (porém, com as medidas de prevenção ainda a serem exigidas), como se nada antes tivesse acontecido. Ninguém quer, por assim dizer, falar desse momento duro, pois, como assegura Finiosse Mucavele, o importante é olharmos para frente.

Chegamos à Xai-Xai num dia de muito calor, com o céu a indiciar a chuva que podia cair a qualquer instante, e recordamo-nos que esta urbe está em permanente risco de submersão. Se chover torrencialmente, podem renascer as feridas de sempre. Isso significa que depois da Covid-19, pode vir outro sofrimento, que entretanto já se tornou cíclico. Infelizmente.

Fomos ao mercado Limpopo, uma enorme infraestrutura bem organizada. Aliás, aqui é o centro de tudo. Grande parte da comida que se produz na província, e outra importada da África do Sul, passa por aqui, para daqui ser levada aos consumidores, a grosso ou a retalho. Poucos usam máscara, neste lugar, como se a Covid-19 já não existisse. Não vemos muitos compradores, para justificarem a grande quantidade de produtos disponíveis. Os próprios revendedores estão recolhidos nas suas bancas. Desesperados.

O que se esperava é que, depois do refreamento das infecções, o mercado Limpopo voltasse a vibrar, mas não. Abordamos vários intervenientes deste centro nevrálgico para saber do seu sentimento quanto a fase actual. Quanto ao futuro também, entretanto poucos se predispuseram a tecer qualquer palavra. Uns por disconfiança e receio, outros ainda por frustração.

O que nós queríamos saber deles, é sobre o nível do negócio, depois de todo o “vendaval” pandémico. Uns apenas diziam: “falar o quê? O senhor não consegue ver que tudo isto está parado?

Na verdade o que vimos é que o Mercado Limpopo tinha pouco movimento, o que significa que pode não haver dinheiro no bolso do povo. Mas Artemiza Magaia, jovem que luta pela vida naquele lugar, todos os dias, libertou as palavras. E o sorriso, que será o indicativo de fé. “As coisas não estão fáceis. Esperávamos que com o abrandamento das contaminações, o negócio seria revitalizado, contudo não é isso que está a acontecer. Estamos aqui porque não temos outro lugar para ir. A nossa vida depende deste mercado”.

Artemiza Magaia, só colocou a máscara quando a abardamos. Muitos vendedores não usam. Os fiscais também não se preocupam muito com isso. Se calhar a desolação pelo facto de não estarem a vender quase nada, esteja a propiciar a negligência. Mesmo assim perguntamos a Artemiza porquê que não usa a máscara, e ela não nos deu a resposta, limitando-se a sorrir e a encolher os ombros. É uma mulher alegre. Esperançosa.

“Não há dinheiro!” Este é o suspiro que ouvimos da nossa interlocutora. Um suspiro que, bem vistas as coisas, representa o grito de todos os revendedores do Mercado Limpo, que parecem resignados perante uma realidade que já era causticante antes da Covid-19, mas que esta doença veio agravar a situação. “Agora não sabemos para onde vamos”!

“Veja só que temos poucas vacinas, mas estamos vivos”

É uma mulher que decidiu virar-se contra os preconceitos, chama-se Maria Fernando Langa. Está na rua, no passeio, a fabricar e a concertar sapatos. Faz esse trabalho desde o ano de 2013, e para nosso espanto, tem o marido como seu ajudante. Ela também, como muitas pessoas que vimos em Xai-Xai, sobretudo nos mercados, não usa máscara. E a justificação de todos é de que “isto já passou”, embora não seja verdade.

Maria Fernanda tem a rua como campo de batalha. Ao lhe pedirmos para tirar uma foto, perguntou-nos se esse acto iria trazer alguma mudança na sua vida. Claro que não era essa a nossa intenção. O que nós queriamos é que as pessoas soubessem que em Xai-Xai existe uma mulher sapateira. Pretendiamos também, saber dela sobre o que pensa da Covid-19, sobretudo nesta fase em que há uma diminuição de contágios. E ainda sobre o seu trabalho.

Ela fala sem parar de cozer a sandália de camursa. Sob vigilância do marido, seu ajudante, que nos fustiga com o olhar. “Quanto a Covid-19 não tenho muito a dizer. Só Deus é que sabe sobre o nosso destino. Veja só que temos poucas vacinas, mas estamos vivos, isso significa que Deus nos protege, e há quem não acredita nisso”.

Em relação ao seu trabalho, Maria Fernanda diz que vai fazendo o que pode. “É a forma que eu encontrei para lutar pela vida. Aprendi este ofício sem me aperceber. Era como se fosse uma brincadeira e hoje tornou-se minha profissão. Gostaria que você me ajudasse a divulgar o meu trabalho, para ver se alguém pode me ajudar a melhor as actuais condições”.

Praia de Xai-Xai sem chama

Este lugar é o símbolo máximo do turismo em Xai-Xai. É aqui onde a juventude se concentra, em particular aos fins-de-semana. E a covid-19 tinha lhes roubado esse santuário. Havia saudades da liberdade de estar ali. Ora nadando ao sabor das ondas do Índico, ora desfrutando da areia branca, e de toda aquela paisagem exuberante, testemunhada pelo colossal Hotel, ora transformado em mamarracho.

Foram tempos e tempos de ansiedade, agora compensados com a reabertura das praias. E as pedras vão se recompondo no tabuleiro, com timidez. As casas de pasto vão tentando recuperar o fôlego e esperança, segundo Ala Foquiço, responsável pela área do Turismo, na Direcção Provincial da Cultura e Turismo.

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