A enciclopédia virtual colaborativa Wikipedia completou 15 anos de existência na sexta-feira, transformada no site de referência mais popular da internet, com 500 milhões de usuários únicos por mês e mais de 38 milhões de artigos em 250 idiomas, segundo o seu próprio verbete.
Criada por um ex-operador da bolsa nascido no estado do Alabama, nos EUA, Jimmy Wales, e pelo desenvolvedor americano Larry Sanger, a enciclopédia que começou com apenas 100 mil dólares norte-americnaos e fechou as portas para a publicidade, mantém-se no ar graças as doações dos usuários e a paixão de 80 mil voluntários que publicam sete mil novos artigos por dia.
O projecto sem fins lucrativos superou nos seus quatro primeiros anos o volume de informação da Enciclopédia Britânica, e tornou-se um lugar tão amplo que um leitor normal precisaria de mais de 21 anos para ler o conteúdo das páginas em inglês.
Wales, de 49 anos, um milionário com uma visão humanitária, casado pela terceira vez com Kate Garvey, ex-assistente pessoal do primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, disse ter tentado criar um mundo em que toda pessoa tenha acesso gratuito a todo o conhecimento.
“Jimbo”, como é chamado pelos amigos, explicou numa entrevista ao jornal britânico “Telegraph” que não lamenta não ter monetizado a Wikipedia, e que se dependesse dele as pessoas nos cantos mais esquecidos do planeta teriam um smartphone grátis com a Wikipedia pré-instalada.
“O crescimento de Wikipedia no mundo em desenvolvimento continua sendo uma prioridade pessoal minha, portanto ainda há muito a fazer”, disse Wales, amante das enciclopédias desde criança.
Coincidindo com o 15º aniversário da Wikipedia, o site Fivethirtyeight fez uma análise das páginas mais editadas da enciclopédia virtual. O Fivethirtyeight, que utilizou dados facilitados pela Fundação Wikimedia, que supervisiona Wikipedia, descobriu que a página do ex-presidente americano George W. Bush (2001-2009) é a que tem mais edições, 20.894 no total.
A página da ex-aspirante à Casa Branca, Sarah Palin, a guerra do Líbano em 2006, o acidente com o avião da Malaysia Airlines que sobrevoava a Ucrânia em 2014 e o verbete sobre o actual presidente americano, Barack Obama, também estão entre as mais editadas.
Quanto às categorias temáticas, Fivethirtyeight concluiu que os “wikipedians” são obcecados em acompanhar as mortes ao redor do mundo, assim como os eventos políticos, a cultura pop, o tempo e assuntos esotéricos.
Mas Wikipedia não está, de modo algum, livre de polêmica. Na sua própria entrada, a enciclopédia tem visões críticas, como a do colunista e jornalista Edwin Black, que critica a Wikipedia por ser uma mistura de “verdade, meia verdade e algumas falsidades”.
Em 2006, o site Wikipedia Watch enumerou dúzias de exemplos de plágio na versão em inglês da enciclopédia. E alguns dos erros publicados na Wikipedia ficaram famosos. Um dos mais conhecidos aconteceu em Dezembro de 2005, quando o jornalista John Seigenthaler, ex-editor do jornal “Nashville Tennesssean”, queixou-se de que o seu verbete o envolvia no assassinato do presidente John F. Kennedy. A pegadinha passou despercebida durante meses.
A Wikipedia recebeu também a cobertura de grandes jornal americanos em 2006, quando descobriram que funcionários do Congresso tinham distorcido as informações sobre alguns legisladores que aparecem na enciclopédia. Em 2012, o Bureau of Investigative Journalism, com sede em Londres, revelou que um em cada seis membros do parlamento britânico tinham as suas páginas editadas de dentro do parlamento, prática que Wales considerou “antiética”.
Apesar desses incidentes, uma análise realizada em 2005 com 42 entradas científicas pela revista “Nature” concluiu que a Wikipedia é quase tão confiável em temas científicos quanto a Enciclopédia Britânica. A Nature descobriu que, em termos médios, a Wikipedia tem quatro dados imprecisos por entrada, pouco mais que os três de sua a rival convencional, e só encontrou “oito erros graves”.