Em Moçambique, o empreendedorismo é considerado a “chave” do desenvolvimento económico e social das comunidades urbanas/rurais e das famílias, cuja aspiração assenta no aumento das suas rendas e na geração do auto-emprego. Através de iniciativas próprias, vários cidadãos conseguem elevar as suas economias e gerar postos de trabalho para outros compatriotas. Em Mecubúri, um professor primário e ancião de uma confissão religiosa, algures em Muite, já sonha com rendimentos anuais na ordem de um milhão de meticais, resultantes da agricultura.
Chama-se Ricardo de Sousa Wanerya, o homem que soube transformar a sua vida em inspiração para o desenvolvimento socioeconómico das comunidades de Mecubúri, província nortenha de Nampula.
Director da Escola Primária Completa 1º de Maio, o posto administrativo de Muite (cerca de 200 quilómetros capital provincial de Nampula) e a caminho da reforma do sector da Educação, Wanerya, como é carinhosamente chamado naquela região, é considerado a principal fonte de busca de emprego e de produtos alimentares.
Pai de 13 filhos, um dos quais em via de concluir o curso de Engenharia Agronómica, numa das instituições de ensino superior, Wanerya conta, presentemente, com 49 anos de idade, tendo abraçado a agricultura há sensivelmente uma década. Actualmente, ele emprega um total de 15 trabalhadores, que recebem salários mensais resultantes da produção, para além de um número considerável de sazonais.
Em 2010, devido ao empenho no sector agrícola, ao visado foi atribuído pelo Governo, a título de crédito, um tractor com as respectivas alfaias e atrelado, para aumentar as áreas de cultivo, tendo sempre em atenção a questão da diversificação de culturas. “Já consegui amortizar 250 mil meticais do custo total de pouco mais de dois milhões de meticais”, diz o nosso interlocutor.
Wanerya afirma que, no ano passado, o rendimento resultante da produção agrícola foi promissor, o que lhe valeu um depósito bancário de 45 mil meticais, depois de cobertas todas as despesas atinentes à aquisição de insumos.
Na presente campanha produziu 60 hectares de algodão e um de hortícolas
De acordo ainda com o nosso entrevistado, a queda irregular das chuvas quase inviabilizou os seus projectos, não obstante tenha conseguido produzir 60 hectares de algodão, dois de amendoim e um de hortícolas. A soja, uma das melhores culturas alimentares e de rendimento e de maior procura no mercado nacional, continua a ser objecto de demanda, algures em Muite.
Entretanto, o professor/agricultor aposta em aumentar as áreas de cultivo, fazendo da agricultura a sua principal base de sobrevivência, quando passar à reforma. Porém, o maior problema prende-se com a falta de concessões apropriadas, onde possa desenvolver as suas actividades.
Apesar de dedicar parte do seu tempo à gestão escolar, Ricardo Wanerya tem na manga um ambicioso projecto no sector agrário e com ganhos fabulosos. O sonho é empregar mais de 100 trabalhadores e ocupar uma parcela de pelo menos 400 hectares. A falta de financiamento bancário e de equipamentos constitui a maior dificuldade para a materialização dos seus objectivos.
Curiosamente e conforme apurámos, Wanerya ocupa, simultaneamente, o cargo de ancião da Igreja dos Velhos Apóstolos, congregando oito comunidades, com o único mandato de disseminar o Evangelho, incutindo, inclusive, a cultura de trabalho e do amor ao próximo, não só os seus colaboradores directos, mas todos os dos povoados de Mecubúri e das regiões circunvizinhas.