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Vilankulo, paraíso que se recusa ceder a covid-19

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Mesmo com as portas do aeroporto sem ninguém para entrar, o paraíso continua escancarado. Com fé de que a covid-19 vai passar e a vida voltará a fluir como as próprias ondas do mar. No fundo, a vontade das pessoas que moram aqui, sobretudo os nativos, desdenham, como sempre desdenhara, o tédio. É por isso que Vilankulo não pára de borbulhar embora seja um dos focos da pandemia respiratória na Província de Inhambane com centenas de casos activos.

Vilankulo é uma cidade intensa na sua génese, mas agora caiu, um pouco, e a primeira prova disso são os txopelistas (motociclistas) que passam uma longa espera na praça. Sem clientes. Notamos que, para eles disfarçarem a modorra, não param de desfiar conversa no sentido de matar o tempo. Que ruge. Perguntamos-lhes se todos eles estavam vacinados, e foi Bento Macassa que respondeu: não somos todos nós. Aqui há alguns que se recusam a fazê-lo, alegando motivos religiosos”.

Aliás, naquele mesmo instante, entre eles, estava um elemento de uma seita religiosa (Igreja Adventista), a quem nos dirigimos. Ele de facto confirmou que ainda não estava vacinado, “mas vou vacinar”. O nosso interlocutor apresentou-nos uma desculpa pouco convincente para justificar a sua abstinência, “estou a sentir algumas coisas no meu organismo, mas logo, logo, vou vacinar”. E nós, claro, não caímos na esparrela, pois faltavam poucas horas para terminar a 1ª fase que abraçava os transportadores públicos, e o pobre do homem continuava indiferente ao perigo.

Numa outra circunstância embarcamos num daqueles txopelas, queríamos ir ao Hotel Dona Ana, símbolo maior do turismo em Vilankulo. Pelo caminho fomos conversando, e não podíamos deixar de perguntar como é que vão as coisas por aqui, na área taxista. O condutor respondeu-nos que a situação não é das melhores. “O aeroporto praticamente não funciona. Os turistas já não vêm como vinham antigamente, são eles que faziam o nosso movimento”. Mas nem tudo é um mar de espinhos. Segundo o nosso “cicerone”, “pelo menos conseguimos arranjar algum para a compra do pão”.

No Hotel Dona Ana, quando chegamos, recebeu-nos o vazio, fazendo com que a história desta instância, que é uma importante página da própria história de Vilankulo, tremesse um pouco nas suas páginas. Vimos dois carros no parque de estacionamento, e dois seguranças desanimados. Não foi preciso articular qualquer palavra da nossa parte, mas os olhos falavam, e eles os seguranças responderam ao nosso questionamento em surdina: “isto aqui está mal, patrão!” Na verdade os dias estão nublados, ‘por isso qualquer pergunta que fossemos a fazer, seria uma estupidez porque estava tudo explicado.

Todavia, apesar de todo este abalo, Vilankulo não é sombrio, mas é uma espécie de penumbra, que tende mais para a luz do que para o escuro. As casas de alojamento e restauração continuam abertas, quase todas elas, mesmo que para mantê-las com as labaredas esvoaçando, se tenha que optar por baixar os preços dos quartos. Quase todos fazem isso, não aceitam a morte. Dos 157 estabelecimentos de alojamento e restauração, apenas um está fechado. E a directora distrital das actividades económicas, Esperança Paulino, confirma isso, “é verdade que as casas de alojamento e restauração funcionam a meio gás, mas funcionam, por exemplo o compexo “Águia negra”, ontem esteve cheio”.

Esperança Paulino é optimista, mesmo estando em mar turbulento. “Veja só que não estamos no momento intenso do turismo, e as casas de restauração e alojamento não fecharam. Isso significa que, quando estivermos no pico, no fim do ano, as coisas vão ter um nível satisfatória. Essa é o nosso desejo e a nossa esperança”.

“As pessoas daqui não acreditavam na existência da covid-19 até registarem-se mortes”

A meta prevista para a vacinação, nesta campanha massiva, era de 10.333, porém ultrapassou-se a fasquia, atingindo-se 12.853, correspondente a 124.15 por cento, de acordo com o director distrital da saúde, Arlindo Severiano. É um facto notável, se partirmos do pressuposto de que em Vilankulo, este assunto foi sempre tratado de forma supersticiosa.

Ninguém sabe como é que isso começou, “mas as pessoas daqui não acreditavam na existência da covid-19. Foi preciso começarem a registar-se mortes, para o assunto ser levado a sério. “Houve uma grande aderência nesta fase da vacinação, e isso conforta-nos”.

No Município de Vilankulo, num universo de 91 escolas, 13 estão fechadas, esperando-se, entretanto, dias melhores, proximamente, atendendo ao facto de os números de contaminação estarem a baixar. Neste momento regista-se um cumulativo de 1190 casos, e pouco mais de uma centena ainda activos.

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