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Viajar de motorizada é um perigo em Nampula

Viajar de motorizada é um perigo em Nampula

Em Nampula abundam veículos motorizados de aluguer para o transporte de passageiros, vulgo moto-táxis. Possuir este meio circulante é um luxo cobiçado por quase todos cujas deslocações de um ponto para o outro ainda são um problema sério e as suas módicas quantias mal chegam para comprar parte de uma refeição por dia. Porém, entre os motociclistas, são poucos os que possuem documentação. Aliás, todos os dias verificam-se casos gritantes de ciclomotores à pinha – tal como ocorre nas carrinhas de caixa aberta ou mylove – com gente a ser transportada como bois e sem capacetes. A Polícia faz vista grossa ao caso e é cúmplice deste problema que, não raras vezes, resulta em tragédia.

Na noite de 29 de Abril último, por exemplo, um jovem de 34 anos de idade, identificado pelo nome de David Cipriano Luanheque, que se fazia transportar numa motorizada na companhia de um amigo, colidiu com um carro, caiu e rachou a cabeça, tendo morrido no local, em Nampula. Várias pessoas, entre elas condutores de motociclos e passageiros, têm tido o mesmo destino fatal sempre que se envolvem em acidentes.

David foi arrastado por uma viatura com a chapa de inscrição B 721 ASL, cujo automobilista estava embriagado, para além de que não trazia consigo a carta de condução e os documentos do veículo. O seu amigo e os outros ocupantes do carro contraíram ferimentos graves e foram socorridos e lavados para o Hospital Central de Nampula (HCN), onde uma das vítimas permaneceu 10 dias internada.

As autoridades estimam que, por dia, acontecem em média pelo menos 10 acidentes provocados por motociclistas. Numa acção considerada uma tentativa de remediar um caos que as próprias autoridades deixaram atingir contornos alarmantes ao longo do tempo, a Polícia ensaiou, há semanas, medidas coercivas apreendendo motociclos que julgava ilegais. Tudo não passou de sol de pouca dura porque a anarquia prevalece na chamada capital da região norte de Moçambique.

Há casos de famílias com mais de três elementos que se fazem transportar nas condições a que nos referimos e passam por alguns sítios onde há controlo policial mas pouco ou nada lhes acontece. A Polícia e outras entidades a quem compete a fiscalização rodoviária pouco se interessam em repor a ordem ao longo dos tempos mas, hoje, procuram “remediar” um problema sobre o qual têm feito vista grossa.

O município de Nampula diz que o serviço de moto-táxi é ilegal, ou seja, não está licenciado. Para tal, é necessário que os motociclistas se unam e formem uma agremiação que possa defender os seus interesses.

O caso de David Luanheque não é o único naquele ponto do país. Sérgio Mourinho, chefe de Relações Públicas no Comando Provincial da Polícia da República de Moçambique (PRM), instituição que para do Instituto Nacional dos Transportes Terrestres (INATTER) não foi capaz de nos fornecer dados sobre o índice de sinistralidade rodoviária envolvendo motorizadas ou moto-táxis, alegou que o grosso dos acidentes que ocorrem em diferentes artérias daquele ponto não chegam ao conhecimento das autoridades, pois são resolvidos de forma amigável. A Polícia tem tomado conhecimento quando se trata de mortes.

José Manuel, de 25 anos de idade, é um dos operadores de moto-táxi. A Rua da França, sita no bairro de Carrupeia, é uma das suas praças. Segundo ele, a actividade é rentável mas os riscos de acidente de viação são enormes. Em Outubro do ano passado ele ficou cerca de três meses internado no HCN em consequência de um acidente de viação do tipo choque carro/moto e contraiu ferimentos graves que lhe afectaram a perna esquerda e a coluna vertebral.

“Na altura, recebi uma chamada telefónica de um cliente e tive de correr para evitar que ele optasse por outro moto-táxi. Cortei a prioridade a uma viatura, embati e não foi possível evitar o pior”, contou José, que acrescentou que três colegas seus perderam a vida por causa de acidentes de motorizada, um deles em Dezembro do ano passado e dois no corrente ano. Num destes casos, o companheiro transportava três passageiros, sendo uma mãe e duas filhas, das quais uma morreu no local da desgraça.

A proliferação de motorizadas, consideradas uma das principais causas de mortes localmente, ganhou terreno na cidade de Nampula e arredores, tendo-se tornado o principal meio de transporte da população. Muitos citadinos optam por este meio circulante por alegadamente ser prático e acessível às zonas mais recônditas, onde as viaturas não podem chegar por diversas razões, tai como a precariedade das vias de acesso.

Andar de mota na província de Nampula e nas principais ruas da cidade capital, em particular, constituiu um grande risco de vida constante, sobretudo quando se trata de operadores de moto-táxi. Estes, a par do que tem sido prática dos automobilistas, não cumprem as regras de trânsito, isto é, cortam a prioridade, circulam em contramão, não observam os limites de velocidade (40 quilómetros/hora dentro das localidades e 45 fora delas) nem o número de passageiros recomendado, além de que levam gente para os seus destinos sob o efeitode álcool, entre outras anomalias.

“Tive de custear as despesas de alguns doentes que ficaram internados por um período de cerca de um mês devido a um acidente provocado pelo meu sobrinho. Ele transportava três passageiros de uma única vez e colidiram com uma viatura (…)”, disse outro motociclista, Marcos Neutel, de 52 anos de idade, residente no bairro de Napipine.

Para o INATTER em Nampula, os motociclistas criam desordem na via pública. “Temos vindo a fazer a fiscalização em coordenação com as polícias Municipal e de Trânsito e nesta operação há apreensão de motociclos em situação ilegal e aplicação de multas dos prevaricadores. Mas não tem sido tarefa fácil”, disse Tomaz Narciso, delegado daquela instituição do Estado.

De acordo com o nosso interlocutor, a sinistralidade rodoviária deve-se, também, ao facto de os motociclistas, cuja cilindragem dos seus meios de transporte está abaixo de 75 milímetro, não são obrigados a ter licenças de condução que é emitida pelo Conselho Municipal.

Carlos Saíde, vereador dos Transportes na edilidade de Nampula, disse @Verdade que o serviço de moto-táxi não está legalizado mas há um processo para o efeito, cuja efectivação carece de uma associação. De acordo com o dirigente, a fiscalização que tem sido feita visa, sobretudo, assegurar que os operadores tenham licenças, não transportem mais de duas pessoas, incluindo o condutor, e usem capacetes.

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