Marcos Manhice é um jovem que explora bem a vaidade do sexo feminino. Com uma paleta recheada de frasquinhos de verniz vai pintando as mãos e os pés das vaidosas senhoras e meninas de Maputo. No fim do mês chega a trazer para casa cerca de 8500 meticais.
Maquiagem sempre foi sinónimo de poder para as mulheres por ser fundamental para atrair os olhares do sexo oposto. Há séculos que a arte fascina e desperta. Por exactamente ter conhecimento disso é que Marcos Manhice decidiu fazer a trouxa e abandonar Inhambane rumo a Maputo, tornando-se um exímio pintor de unhas.
Prático, quieto, simples, diz que começou a carreira aos 16 anos em Massinga, onde nasceu há 19 anos. Apaixonado pelo que faz, conquistou espaço próprio: “Acima de tudo tem que se amar a profi ssão, estudála, observá-la bastante e ter personalidade nas escolhas”, refere. O negócio deste jovem é tãosimples como isto: compra um frasco de verniz por 15 meticais e com ele pinta as unhas de cerca de 10 pessoas. A cada uma cobra 10 meticais, ou se preferirmos um metical por cada unha.
Resultado: “Tenho um lucro de 85 meticais por cada frasco”, esclarece, sorridente, Manhice, quando o interpelámos no “Mercado do Povo” onde diz ter não menos do que 20 clientes fi xos a quem presta serviço pelo menos duas vezes por semana. “Há sempre uma festa no fi m-de-semana e nem sempre há tempo para irmos ao salão”, refere Rosália, uma das suas clientes. “Basta eu chegar para as fofi nhas largarem tudo e estenderem-me as mãos, os pés e… o dinheiro”, gaba-se Manhice.
Com o seu material de trabalho – 50 frascos de diferentes cores e conteúdos, desde vernizes a bases propositadamente acondicionados numa tábua com furos que os prendem – o jovem “pintor” saltita de banca em banca onde, ao fi m de cinco minutos, recebe 10 meticais por pintar umas unhas das mãos. Pelas dos pés cobra outro tanto.
Ganhar mais do que um Doutor
No fim do mês, as contas são gordas para Marcos Manhice: “Invisto 1.500 meticais na compra de 100 frascos. Os mesmos, ao fi m de um mês, dão-me pelo menos 8.500 meticais”, revela. Esta renda mensal supera os 5 mil meticais/ mês auferidos por um licenciado que trabalha no aparelho do Estado. Como o seu negócio exige um constante movimento, Manhice afirma que não tem hipóteses de brigar com os nervosos polícias municipais que perseguem amiúde o ambulante que fica parado numa qualquer esquina da cidade. “Também não sujo nada”, relata.
Com o seu andar constante aproveita para cumprir o antigo evangelho médico: fazer ginástica diária. Marcos Manhice tem ainda outros motivos para sorrir: “Trabalho de dia e à noite vou à escola”. A frequentar a 9ª classe, o jovem Manhice, que mora com um irmão mais velho no bairro Maxaquene, tem planos para o futuro: “Quero ser advogado”. Isto porque entende que não vai passar a vida inteira a pintar unhas. Enquanto isso, o pequeno-grande empreendedor tem um plano imediato: investir na aplicação de unhas postiças, de gel, esmaltes com efeito luminoso, adesivos e pinturas que transformam aquelas extremidades dos dedos em verdadeiras obras de arte.
Já não são novidade, mas a procura das mulheres por formas de deixar as mãos mais bonitas sem prejudicar a saúde tem despertado a atenção de Manhice. A inovação agora é carimbar as unhas com diversos desenhos que vão desde os divertidos com imagens de animais, até os românticos com flores.
Surgimento e evolução
Historiadores atestam que terá sido por volta de 1925 que o primeiro esmalte de unhas – como o conhecemos hoje – foi lançado. Todavia, o culto da beleza das unhas vem da antiguidade.
No antigo Egipto já existia o costume de pintar as unhas e os dedos. Porém, um tipo de esmalte, o mais parecido com o actual, foi criado na China no século III a. C. Era feito com goma-arábica, clara de ovo, gelatina e cera de abelha, formando uma resina natural, dissolvida em óleo. De secagem lenta, após a evaporação, a película absorvia a poeira e era retirada com facilidade. No início era utilizada somente a cor preta, que depois foi ganhando um tom mais claro, até chegar às variações de castanho.
Posteriormente veio o vermelho e os tons metálicos. Os reis pintavam as suas unhas como sinal de nobreza, sempre com as cores vermelha e preta. Depois foram substituídas pelo dourado e prateado. No Império Romano passou-se a valorizar o polimento das unhas que em geral era feito com materiais abrasivos.
Já na China antiga as unhas compridas eram muito valorizadas. Na Idade Moderna, em 1800, as unhas femininas eram curtas, moldadas à lima e levemente arredondadas. Ocasionalmente eram perfumadas com óleo vermelho e polidas com couro macio. Mais de 30 anos depois, na Europa, o físico Dr. Sitts, inspirado nos palitos para os dentes, desenvolve o primeiro instrumento de manicure.