Várias vezes tenho pensado em fazer uma tatuagem. Como sou medrosa escolho sempre um sítio impossível para se fazer, já que costumam dizer que no pé “doí mais”. Ainda continuo no processo de decisão, mas o ‘timbre’ que quero perpetuar para sempre é a imagem do “Principezinho”, de Antoine de Saint-Exupéry , um livro que li na infância e que me marca até hoje. ‘’O Principezinho’’ é uma obra que retrata a ingenuidade. Tem um narrador – que é um piloto de que se despenhou no deserto do Sahara – e enfatiza o significado de ‘’cativar’’ e de ‘’único’’ através das viagens que este Pequeno Príncipe faz por outros planetas.
Através destas viagens, e pelo que me ficou na memória, questiono-me se actualmente ainda nos cativamos uns aos outros ou se existe algo único para nós. Nas relações humanas por vezes esquecemos esses valores. Tudo corre de forma muito imediata. A facilidade de nos iludirmos com algo que achamos “único” muda no momento a seguir. Num dos trechos desse livro há um diálogo entre uma raposa e o Principezinho em que aponto duas passagens marcantes: ‘’Mas, se tu me cativares, passamos a precisar um do outro. Passas a ser único no mundo para mim. E eu também passo a ser única no mundo para ti (…)” e ‘’ O essencial é invisível para os olhos’’. E não é que ele tem razão?
Quantas vezes já nos iludimos com os olhos… Quantos sorrisos já olhámos que não estão lá… No amor, por exemplo, será que nos damos ao trabalho de cativar ou tornar os nossos momentos especiais e únicos… Em várias conversas que tenho com amigas e outras que vou ouvindo enquanto caminho por Maputo, ou subo um chapa, o “assunto” Homem está sempre presente! É giro constatar que estamos demasiado preocupadas com eles – e eles connosco (à sua maneira) – e a sensação de que um pequeno deslize pode afastá-lo.
Quando começamos a ter este sentimento é porque não somos únicos uns para os outros. Perde-se aí a ingenuidade e começa o gameplaying! Não poder ligar para “ele”, porque já o fizémos demais, evitar dizer o que nos vai na alma ou aceitarmos ser traídas para não “o” perder é um grande exercício! Aplaudo de pé quem o consegue fazer – dignamente – e com a esperança de alcançar a felicidade. Ganha-se o homem, mas perde-se a amizade e esse cativar tão importante preenche muito mais que um momento. Que sabe bem quando há respeito.
Eu gosto, e tu? Ninguém passa na nossa vida por acaso. Seja de que forma for ou do ritmo que se escolhe. Mas de uma coisa tenho a certeza… “Se vieres sempre às quatro horas, às três já eu começo a ser feliz…” Bem-haja