Era uma terça-feira de manhã quando ele chegou. Estava um calor imenso, mas normal para o mês de Fevereiro aqui em Maputo. Tinha uma reunião e então pedi à minha irmã para o ir buscar. Nas primeiras horas em que pisou o solo moçambicano não o vi, nem sabia o que me esperava. Ao mesmo tempo queria sair daquela palestra sensaborona onde os temas rodavam sempre à volta do mesmo problema que assola o País.
Até hoje parece que nada mudou e já lá vão três anos… Entretanto cheguei a casa. Não estava habituada a ter lá uma figura masculina à minha espera. Mas confesso que me senti feliz. Os seus olhos azuis, brilhantes e cansados, fizeram-me voltar ao passado.
Parece que o tinha visto ontem e que os anos param quando se trata de nós. Trazia um casaco de lã pesado, uma mochila e a mala dos discos. Durante segundos sorrimos e só os dentes saiam das nossas bocas. Demos um abraço e a cumplicidade voltou. Lembrei-me daquele Verão na Zambujeira do Mar, onde decidimos ser Antropólogos. Tínhamos 18 anos e milhares de sonhos pela frente! Durante três meses fizémos planos para o futuro e a casa era a caminho do Almograve.
Já em Moçambique transportámos o projecto para a Praia do Tofo, já que emanava a liberdade hippye com que crescemos. Liberdade esse que corria ao ritmo do Woodstock – que faz 40 anos esta semana. Sempre vivemos assim e é disso que me vou recordar nas visitas que faz à minha memória. Durante horas falámos das nossas vidas, do que nos tinha acontecido e auspiciámos um futuro melhor.
Uma antevisão quente e colorida como só Moçambique saber transmitir. Esse calor que não há igual em África. E por isso ficamos aqui. Eu, por herança – outros por amor, magia, paixão. Mas ficamos. Ele estava cansado, tinha feito uma viagem de 20 horas para o bilhete ser mais barato. Deitou-se no sofá e adormeceu ao ritmo dos 40 graus que entravam lá para casa.
Enquanto isso eu saí super emocionada para fazer compras. Baralhei-me entre doces, refrescos, gelados e muita comida fresca e fruta tropical!. Estava calor. Este foi o primeiro dos dias em que a minha vida passou a ser assim. A experiência era única, já que desta vez era num país diferente e com um mood diferente. Ele acompanhou, como sempre faz. E os dias foram passando, passando…. Foi começando a saber bem. Voltámos à adolescência e também aprontámos muitas travessuras. Cá o espero mais uma vez! Um bem haja.